Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 12 de março de 2009

À Prova de Morte

"À Prova de Morte" tem incríveis elementos de suspense, comédia e ação. Tarantino entrega, mais uma vez, uma pérola do cinema com referências divertidas.

"À Prova de Morte" é o segundo filme dentro de "Grindhouse". Separado de "Planeta Terror" apenas por alguns trailers (que infelizmente não serão vistos nos cinemas brasileiros, mas pode ser conferidos no YouTube), o filme de Quentin Tarantino não deixa dúvidas de quem o dirigiu já nos primeiros momentos de créditos. Tarantino sem dúvida é um cineasta que imprime sua marca em cada trabalho. Sua personalidade é o que dá qualidade ao filme e o que molda o destino de todos os personagens.

"À Prova de Morte" acompanha um grupo de garotas que se preparam para uma viagem de carro. Com diálogos memoráveis, Tarantino molda o passado de cada uma das meninas. Jungle Julia, DJ da rádio local, interpretada por Sidney Tamiia Poitier, é arrogante e ousada. É ela que comanda o grupo e dá as ordens para a diversão. Suas amigas são mais tímidas e discretas. Jordan Ladd faz da personagem Shanna um tipo extremamente infantil, já Arlene, interpretada por Vanessa Ferlito, observa tudo ainda incerta sobre a parcela de participação que pode exercer.

Enquanto elas conversam e bebem, um estranho homem acompanha cada movimento que realizam. Kurt Russel é Dublê Mike, ex-dublê que, aparentemente, tem algum tipo de perversão que o leva a seguir três jovens em seu carro preto pintado com uma caveira no capô.

Sua figura, completada pelo carro que chama de "Death Proof", "À Prova de Morte" em português, é macabra e doentia, mas nos primeiros minutos de filme não é possível descobrir o que exatamente quer aquele já senhor com olhar suspeito. É somente quando Mike aceita dar carona para Pam, personagem de Rose McGowan, que temos uma prévia do que acontecerá a seguir.

Pam toma o lugar do passageiro no carro "À Prova de Morte" e é alertada: "Esse carro realmente é à prova de morte, mas somente para quem senta desse lado". Mike acelera e a jovem é jogada com toda a força dentro da pequena cabine que, nas produções de Hollywood, abrigam a câmera. A partir de então, Mike volta a perseguir os objetos de sua pequena obsessão, Jungle Julia e suas amigas.

Com toda a realidade asquerosa típica de um filme de "Grindhouse", Tarantino faz questão de mostrar o que acontece com cada uma das vítimas de Dublê Mike, sem piedade e sem cortes. É com a imagem violenta em mente que são apresentadas outras quatro amigas. Enquanto elas também se preparam para uma viagem de carro a figura de Kurt Russel é sutilmente colocada em cena, um indício do que se esperar à frente.

Tracie Thoms é Kim, dublê de cinema; Rosário Dawson é Abernathy, maquiadora; e Mary Elizabeth Winstead é Lee, atriz. As três seguem em rumo ao aeroporto para buscarem uma amiga neozelandesa, Zoe Bell, também dublê, que assume a sua própria personalidade. Seguidas por Dublê Mike, as jovens não suspeitam do que pode lhes acontecer e conversam como um grupo de amigas conversaria. Falam sobre homens, trabalho, histórias do passado.

Como em todos os filmes de Tarantino, os diálogos são o ponto chave da história. As longas cenas de conversa, aparentemente sem motivo, geram momentos de tensão que poucos diretores conseguem fazer com movimentos de câmera e trilha sonora.

Enquanto Kim, Aby e Lee, já acompanhadas de Zoe, trocam confidências no carro, é difícil não levantar um pouco do assento do cinema, se preparando para o que está prestes a acontecer. Quando Zoe e Kim indicam que farão algo perigoso com um carro semelhante ao do filme “Corrida Contra O Destino”, qualquer espectador atento ao que aconteceu nos primeiros 20 minutos de filme saberá o que esperar.

Após as cenas de perseguição de "À Prova de Morte", dificilmente outro longa-metragem conseguirá causar tanto suspense com algo semelhante. Quentin Tarantino pode ser considerado um mestre do suspense somente pelo trabalho que fez neste longa, filme que faz jus a sua carreira até agora e ameniza um pouco a proposta de "Grindhouse" sem perder o bom-humor ou a violência.

"À Prova de Morte" e "Planeta Terror" são dois pequenos opostos. O primeiro consegue ser sutilmente violento e asqueroso sem cair no esculachado. Já o segundo explora ao máximo o sangue e o pus, elevados à décima potência com a história de zumbis.

É evidente que Tarantino, Rodriguez e os diretores convidados se divertiram e muito realizando "Grindhouse". Eli Roth dirigiu o trailer falso "Thanksgiving", Edgar Wright assina o engraçadíssimo "Don't" e Rob Zombie realizou o extremo do trash "Werewolf Women of the S.S.". É Rodriguez que completa o quarteto com "Machete".

Em nenhum momento "Grindhouse" deve ser levado a sério. De fato, dificilmente um filme exibido em uma "Grindhouse" foi levado a sério algum dia. Talvez apenas pelos menos sensíveis ao que há de mais bizarro na imaginação do homem.

Lais Cattassini
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