Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 05 de novembro de 2007

1408 (2007): uma boa adaptação do livro de Stephen King

Mesmo que não implemente situações assustadoras durante toda a produção, o diretor Mikael Hafstrom faz de "1408" um bom exemplar para aqueles que gostam do gênero terror/suspense.

Baseado em uma obra literária escrita por Stephen King, “1408” traz como protagonista John Cusack, o qual interpreta Mike Enslin, um escritor que, por ter perdido a filha precocemente, passa a pesquisar à respeito de assuntos que envolvem vida após a morte com o intuito de escrever livros. Sempre munido de um gravador e outros objetos, Enslin visita locais assustadores para que estes sirvam como base para seus best-sellers. Incrédulo acerca de fantasmas e afins, o sujeito procura sempre desmistificar teses de assombrações e, por isso, decide se hospedar no Dolphin Hotel, pretendendo permanecer uma noite no quarto 1408, bastante conhecido por ocasionar a morte de quem se hospeda nele. O gerente do local, vivido por Samuel L. Jackson, ainda tenta avisar a Enslin sobre o perigo que está prestes a correr, no entanto, o escritor não se importa e decide enfrentar os medos e vivenciar o desafio. Logo de início, coisas misteriosas começam a acontecer no quarto, fazendo com que o incrédulo Mike passe finalmente a acreditar em histórias assustadoras.

Em geral, as obras de Stephen King são conhecidas por trazerem uma atmosfera de suspense notável. Vários livros do autor já ganharam adaptação para os cinemas, tais como “O Apanhador de Sonhos”, “À Espera de um Milagre”, “A Janela Secreta”, entre outras. Alguns desses projetos cinematográficos podem não ter atingido um sucesso igual ao obtido pelos escritos de King, no entanto, nenhum passou despercebido. Não poderia ser diferente com “1408”. Tendo sido recebido com uma certa expectativa por parte do público freqüentador dos cinemas, o longa-metragem possui seus ápices de terror bem dosados pelo diretor Mikael Hafstorm. Ao não se preocupar em assustar o espectador durante todo o filme, o cineasta demonstra saber priorizar os momentos que, ao entender do mesmo, precisam ser mais destacados. Talvez exatamente por isso que alguns sentirão falta de sustos no começo da projeção.

Hafstrom faz questão de, nos minutos iniciais, apresentar a incredulidade de Mike Enslin para com determinados elementos, possibilitando que o público deseje entender o personagem. Pode-se dizer que o protagonista não é um dos mais simpáticos, porém o seu jeito de tratar certas situações e o tom de humor um pouco escondido nas linhas do roteiro possibilitam que o clima do longa-metragem não permaneça totalmente sombrio durante boa parte do tempo. Para alguns, este fato pode ser visto como um empecilho para o decorrer da projeção, enquanto outros podem encarar como uma maneira de aliviar o teor obscuro e ganhar mais a simpatia do espectador. Boa parte do filme, como esperado, se passa dentro de um quarto de hotel, e Hafstrom conseguiu explorar bem o ambiente, utilizando-se, algumas vezes, de tomadas que cobriam praticamente todo o lugar.

O roteiro, trabalhado a oito mãos por Matt Greenberg, Scott Alexander, Larry Karaszewski e Stephen King, peca por não trazer uma explicação maior acerca do 1408. Durante o longa-metragem, é esperado que as dúvidas à respeito das “assombrações” e situações vivenciadas pelo protagonistas sejam sanadas, todavia, as indagações permanecem as mesmas. Por não se preocuparem com um melhor aproveitamento de ocasiões que dariam margens a sustos, os roteiristas também demonstram um certo negligenciamento com relação ao trabalho. Surpreendendo, de certa forma, o espectador por implementar um suposto fim à trama, a história torna-se mais interessante, sem, dessa maneira, ser enfadonha ou duradoura demais.

Ao viver Mike Enslin, John Cusack demonstra encarar com responsabilidade o desafio de protagonizar outro suspense desde “Identidade”, de 2003. Permanecendo a vontade no papel, o ator, que tem a função de praticamente atuar sozinho no filme, compõe um personagem atordoado devido à perda de sua filha, ao passo que tenta permanecer forte e intocável. Com um olhar mais sofrido do que o normal, Cusack faz de Enslin um pai preocupado e um sujeito que se rende às forças “sobrenaturais”, deixando de lado a incredulidade do passado. Samuel L. Jackson, por sua vez, como o gerente do hotel, não possui uma participação muito significativa no filme, apenas compondo um personagem que tenta persuadir Cusack a ir contra o seu objetivo.

De “1408” pode-se esperar momentos de tensão, mesmo que estes, aparentemente, possam demorar um pouco. Dosando bem o clima obscuro da produção, o diretor Mikael Hafstorm procura envolver os espectadores em meio a situações inesperadas vividas pelo protagonista. Embora não seja apresentada uma explicação para os fatos sobrenaturais ocorridos no longa-metragem, a história não se torna menos interessante e tem seus pontos altos definidos pelos roteiristas. Adaptado de um livro escrito por Stephen King, o filme, com seus ápices de suspense, poderá assustar a alguns e inclusive tirar o sono de outros.

Andreisa Caminha
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