Neste terceiro exemplar da franquia "Resident Evil" para o cinema, seus realizadores conseguiram piorar o que já era ruim, produzindo um filme equivocado, que ignora completamente a história dos jogos e se foca em uma ridícula trama pseudo-original.
O arremedo de cineasta Paul W.S. Anderson está conseguindo se tornar uma unanimidade entre os fãs de ficção científica, sendo odiado por praticamente todos eles, já que conseguiu a proeza de manchar três franquias diferentes do gênero em menos de dez anos. Na lista negra do diretor então “Alien”, “Predador” e, principalmente, a série “Resident Evil”, baseada nos games homônimos da Capcom. Atendo-nos a esta última, Anderson resolveu, após escrever e dirigir o primeiro longa da saga para o cinema (cujo principal mérito era NÃO se intrometer na cronologia dos jogos), se fixar no texto e na produção nas fitas seguintes da série, momento a partir do qual resolveu chutar o balde. O segundo filme, dirigido por Alexander Witt, já contava com uma boa dose de descaracterizações de personagens, vilões estúpidos e furos homéricos. Acreditem, não foi nada comparado a monstruosidade que Anderson escreveu e teve a ousadia de chamar de “roteiro” para essa nova empreitada cinematográfica da franquia, dirigida por Russell Mulcahy.
Primeiro de tudo, já que se trata de uma adaptação de uma história advinda de outra mídia, então esperamos aparições dos personagens já consagrados e semelhanças com a história original. Podem esquecer isso, já que, fora a presença de zumbis e da Umbrella, não existe nada que seja familiar a quem acompanha a trama em seu formato original. Na fita, os personagens vindos de qualquer exemplar dos jogos foram praticamente jogados para escanteio e os que sobraram tiveram suas personalidades completamente modificadas. Guardadas as devidas proporções, seria como se colocassem outro personagem para ser protagonista de “Homem-Aranha” que não fosse Peter Parker e ainda colocassem Mary Jane como uma maníaca em um asilo!
Na trama, se é que podemos chamá-la assim, se passaram alguns anos desde “Resident Evil 2: Apocalypse” e os zumbis dominam o mundo. Os poucos que conseguiram sobreviver ao T-vírus, que transforma seres vivos em desmortos, vivem espalhados e sempre em fuga, num planeta quase que completamente desertificado. A protagonista da série, Alice (Milla Jovovich), vaga em busca de pessoas que precisem de ajuda, sempre escapando do radar da mega-corporação Umbrella, responsável pela criação do terrível vírus. O líder do conglomerado maligno, o Presidente Albert Wesker (Jason O’Mara), ordenou a seu principal cientista (louco), o Dr. Isaacs (Iain Glen), que encontrasse uma cura para a praga e uma maneira de a empresa de lucrar com esta. Para isso, eles precisam de Alice, tendo de se virarem com vários clones da moça. Enquanto isso, a original continua a mostrar os poderes manifestados no final do longa anterior e se junta a um grupo de sobreviventes liderado por Claire Redfield (Ali Larter) e Carlos Olivera, por quem a nossa protagonista tem uma queda desde “Apocalypse”. Juntos, eles vão tentar achar um lugar que não fora contaminado, cuja localização fica no Alasca (provavelmente vão encontrar os Simpsons por lá…). A falta de imaginação do roteiro chega ao extremo de canibalizar elementos de várias outras produções, dentre elas o primeiro filme da série.
Além de não funcionar como adaptação, pelos motivos acima expostos, a produção ainda falha como um filme. O elenco mostra interpretações homogeneamente ruins. Milla Jovovich, mais uma vez, entrega muito estilo e pouca atuação, sabendo fazer poses com armas de todas as variedades, mas simplesmente não convencendo em nenhum momento como heroína. Oded Fehr parece ter a mesma cara em todos os momentos e seu romance com a protagonista consegue ser mais insosso que o da última versão de “Tristão e Isolda” para o cinema. Ali Larter até estaria bem… se estivesse em um episódio de “Carga Pesada”. Sua versão “Siga Bem Caminhoneiro” de Claire Redfield, além de não ter nada a ver com a original, consegue ser absolutamente insuportável. O vilanesco Dr. Isaacs, novamente vivido por Iain Glen, é extremamente caricato, só faltando uma gargalhada de cientista louco. Os demais personagens, incluindo Wesker (um dos favoritos dos fãs), aparecem por tão pouco tempo que mal sentimos sua falta quando morrem, ou mesmo dizer alguma coisa sobre suas interpretações. Faço uma menção especial ao L.J. vivido por Mike Epps. É impossível que alguém que conseguiu sobreviver ao filme anterior fizesse a estupidez que L.J. cometeu nesse terceiro longa.
A direção de Russell Mulcahy é desastrosa. Além de não conseguir impor um nível de interpretação decente a seus atores, ele falha em conseguir manter o espectador interessado no que está acontecendo em tela, com sua estética narrativa combinando perfeitamente com a mediocridade do roteiro. Mesmo as cenas de ação, apesar de bem coreografadas, não possuem impacto nenhum, pois as criaturas do filme mais parecem saídas de uma temporada antiga de “Power Rangers”, destruindo qualquer senso de urgência que poderiam ter. A situação não melhora nos demais aspectos técnicos. A edição do longa consegue tornar a experiência de assisti-lo chata e maçante, já que o trabalho feito por Niven Howie fez com que a fita parecesse muito mais longa do que realmente é, além de acelerar demais algumas das cenas de ação. A fotografia do filme, dirigida por David Johnson, tenta desesperadamente reproduzir a de “Mad Max”, falhando em conseguir criar qualquer visual original. Já a trilha sonora do longa, apesar de ter seus momentos (como uma versão de “In a Gadda da Vida”), as músicas, na maioria esmagadora dos momentos, são apenas genéricas de filmes de ação e terror.
Estúpida e sem sentido, esta produção consegue insultar a inteligência de qualquer um que resolva encará-la, seja o azarado espectador fã ou não dos jogos. Deixando o gancho para continuação mais ridículo da história do cinema, realmente espero não ver a continuação dessa história tão cedo ou, sendo mais otimista, nunca.