No ano do fechamento das trilogias, "A Hora do Rush 3" é o mais fraco do lote, quase desmerecendo seus antecessores com um exemplar fraco e sem-graça da franquia.
“Decepcionante” foi a palavra me veio à mente após os créditos de “A Hora do Rush 3” começarem a rolar. A despeito de vários profissionais de renome envolvidos na fita, tanto no elenco quanto na equipe técnica, a mediocridade dá o tom neste filme onde as piadas não funcionam no contexto da – ralíssima – trama, as cenas de ação são pouco inspiradas e sem imaginação e a falta de ritmo predomina por toda a projeção. Aparentemente, a ganância do estúdio em faturar na bilheteria saiu pela culatra, já que o superfaturamento do filme é mais que evidente, custando absurdos US$ 140 milhões de dólares e demorando muito mais do que o previsto para recuperar tal investimento nas bilheterias. O que incomoda mais é o desperdício dos ótimos personagens que a franquia possui neste ridículo fechamento de trilogia que não chega nem perto de proporcionar aquele sentimento de diversão amalucada dos dois exemplares anteriores da série.
Os problemas já começam no roteiro escrito por Jeff Nathanson. Apesar de ter sido responsável pelo texto de “Prenda-me se For Capaz” e “O Terminal”, somos lembrados por este seu trabalho que ele também cometeu “Velocidade Máxima 2”. O inspetor Lee (Jackie Chan) fora convocado pelo seu velho amigo Cônsul Han (Tzi Ma) para protegê-lo durante um importante anúncio deste numa agência internacional de segurança, liderada pelo poderoso Varden Reynard (Max Von Sydow). Han anuncia a descoberta de algo que pode acabar com as gangues asiáticas que dominam o mundo do crime. Após o Cônsul levar um tiro quando ia proferir seus achados, Lee descobre que o autor do atentado fora seu irmão de criação – ?! – Kenji (Hiroyuki Sanada), o chefe das Tríades. O oficial de Hong Kong, juntamente de seu amigo James Carter (Chris Tucker), saí em busca da organização que encomendou a morte de Han, a pedido da filha do cônsul, Soo Yung (Jingchu Zhang). Seguindo uma série de pistas a dupla vai parar em Paris, onde encaram, além das gangues, um chefe de polícia um tanto quanto excêntrico (Roman Polanski), um motorista de táxi querendo aventuras à moda americana (Yvan Attal) e uma dançarina estonteante com um segredo (Noémie Lenoir).
Nenhum aspecto da história é desenvolvido adequadamente. Os relacionamentos de Lee com Carter e Kenji, que deveriam ser a força motriz da trama, simplesmente não convencem o que é uma pena, já que a amizade entre os dois homens da lei era o aspecto mais interessante da série. As tiradas do filme, apesar de algumas – como a luta que homenageia o duelo entre Bruce Lee e Kareem Abdul-Jabbar em “O Jogo da Morte” e a introdução do taxista – funcionarem bem isoladamente, não convencem como partes de um roteiro, já que parecem jogadas no meio da história. A situação se complica graças à falta de inspiração geral que tomou conta do elenco da fita. Chris Tucker está péssimo. O comediante que não atua em uma película desde 2001 (vivendo o mesmo James Carter em “A Hora do Rush 2”), tenta tomar o filme de assalto em todas as cenas em que aparece, mesmo naquelas que, para o melhor desenvolvimento da história, Jackie Chan deveria ser o centro das atenções. Chan, aliás, desaponta nas cenas de ação. É sabido que o ator, já com 53 anos, não possui mais a flexibilidade de outrora, mas mesmo o seu carisma habitual parece diminuído em cena, graças à megalomania de seu parceiro.
Os demais membros do elenco tornam a situação ainda pior. Hiroyuki Sanada como Kenji não exibe dez por cento do talento mostrado em “Sunshine – Alerta Solar”. Max Von Sydow, que deveria dar uma maior respeitabilidade ao longa, tem a atuação mais embaraçosa de sua extensa carreira, além de seu personagem ser praticamente uma reprise daquele vivido por Tom Wilkinson no primeiro “A Hora do Rush”. As piores atuações, no entanto, são das belas do filme. Noémie Lenoir, apesar de estonteante, não tem nenhuma presença de cena, enquanto Jingchu Zhang mal consegue dar a entonação adequada nas suas falas. Além disso, ambas simplesmente são esquecidas pelo filme – e por seus protagonistas – após o clímax da projeção. Quem ainda sai com um tanto de dignidade preservada desse desastre são justamente os membros do elenco que menos aparecem. Philip Baker Hall volta como o capitão Dell, em sua curta participação com o clichê de mandar Carter não investigar o caso. Yvan Attal, como o motorista de táxi George, é a figura mais carismática em cena, tendo o diálogo mais engraçado do longa ao encontrar a dupla de policiais, mesmo participando inexplicavelmente da resolução da trama. Já sobre a alardeada participação de Roman Polanski, suas aparições neste longa servem mais como um curioso adendo à carreira do premiado diretor, sendo bastante interessante vê-lo em cena, mesmo com seu personagem não fazendo nenhum sentido na história, assim como todo o resto.
Os envolvidos nos aspectos técnicos parecem padecer do mesmo mal que acometeu o elenco da película. Bratt Ratner, diretor que geralmente se sai bem no “arroz com feijão” cinematográfico, além de não conseguir extrair boas interpretações dos atores, falha em dar qualquer noção de risco à fita, não dando qualquer dinamismo a esta, nem lembrando as aventuras anteriores de Lee e Carter, que ele mesmo havia dirigido. A direção de fotografia de J. Michael Muro, falha em aproveitar o potencial da Cidade-Luz, resultando em um trabalho desinteressante, nem lembrando o que havia feito em “Crash – No Limite”. O trabalho de edição, realizado por Billy Weber (indicado ao Oscar por “Além da Linha Vermelha”), Don Zimmerman (“As Loucuras de Dick & Jane”) e Mark Helfrich (colaborador habitual de Ratner), falha em dar ao longa qualquer ritmo, contando com cortes insensatos e quebras de narrativa despropositadas, como nas últimas seqüências de lutas, que alternam entre as estreladas por Lee e Carter quase que aleatoriamente. Falando em tais lutas, a exceção da surra levada por Chris Tucker em sua contenda contra o chinês gigante, elas falham em empolgar e divertir o público, algumas ainda contando com um blue screen evidente e mal realizado, levantando a dúvida de onde foi parar todo o orçamento do filme, já que este era comparável com o que Michael Bay teve para realizar o tecnicamente bem mais complexo “Transformers”.
Para um projeto que ficou em desenvolvimento por quase cinco anos, era melhor esse “A Hora do Rush 3” nem ter saído, estragando a mais divertida série policial da história recente do cinema. É uma pena que, por conta da idade de Jackie Chan, este venha a participar de poucos projetos no futuro que nos lembre o grande artista marcial que é e é mais triste ainda que este tenha sido um destes últimos filmes.