Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 01 de setembro de 2007

Licença Para Casar

Robin Williams, Mandy Moore e John Krasinski garantem uma boa comédia? Nem sempre. É o que nos mostra o diretor Ken Kwapis que, mesmo com boas piadas na mão, faz de “Licença Para Casar” um teste de paciência mesmo com ótimos coadjuvantes, incluindo o elenco quase completo de “The Office”. Na maior parte do tempo em cena, a tríade principal demonstra entrosamento, está à vontade em seus papéis. No entanto, lhes faltam uma direção com o ritmo necessário a uma comédia do gênero.

Ben Murphy (John Krasinski) e Sadie Jones (Mandy Moore) se conheceram em uma fila e daí para o primeiro encontro, o primeiro beijo e a primeira vez que Ben disse “eu te amo” foi um pulo. Seis meses depois, durante o aniversário de 30 anos de casamento dos pais de Sadie, ele finalmente reúne coragem para fazer o tão esperado pedido. Prontamente, ela aceita e faz o seu pedido ao agora noivo. O casamento deve ser realizado na pequena igreja na qual a garota foi batizada, os pais casaram-se e o avô construiu a porta de entrada. O celebrante, por sua vez, será o reverendo Frank (Robin Williams), praticamente da família.

Na primeira reunião do casal com o reverendo para acertar a data do casamento, os dois são informados que deverão passar por um curso preparatório de três semanas que culminará na data do casamento. Frank deverá decidir se eles estão aptos ou não para celebrarem a união em sua igreja. Daí em diante, fazendo de tudo para plantar conflitos na relação que parecia intocável, o religioso vai gerar todas as desconfianças no noivo sobre sua integridade. Todo o resto, você já conhece. Os mecanismos típicos da comédia romântica passam pela tela desembocando em um final já esperado para um exemplar do gênero.

Se o final já é esperado, os clichês conhecidos e sem nenhuma surpresa, o que levaria o público a assistir a “Licença Para Casar”? Boas risadas. Acontece que, ao contrário do que seria comum, o trio de protagonistas formado por Williams, Moore e Murphy não rende o esperado. A cantora e atriz Mandy Moore, que desta vez não está na trilha do filme, é carismática e convence ao lado do talentoso John Krasinski, do seriado americano “The Office”. No entanto, até mesmo o dom do rapaz para a comédia parece fora do lugar. O comediante Robin Williams é outro que nos faz pensar ter perdido o timing ou ainda que o seu tipo exagerado já não funciona.

Quando os coadjuvantes aparecem em cena, o que era especulação vira uma certeza. Quanto menos tempo no ar, menos forçado e mais engraçado parece o personagem. Exceto pela cena em que Frank e Sadie discutem as preferências sexuais da noiva, todas as risadas são garantidas pelos coadjuvantes. Desde o mini-clone do reverendo vivido pelo garoto Josh Flitter até a pequena participação de Wanda Sykes, passando pelos membros da família Jones, os companheiros do curso de preparação, os funcionários da joalheria e até os bebês-robôs, todos garantem melhores momentos que a tríade principal.

Outro fator que levanta a dúvida do por que da produção não ter funcionado é o roteiro. Apesar de não trazer elementos narrativos inovadores, as piadas são realmente engraçadas. Tiradas espirituosas surgem aos montes e o humor físico é pouco utilizado. Então por que não funcionam em cena? O problema está na direção de Ken Kwapis, do surpreendentemente bom “Quatro Amigas e um Jeans Viajante” e diretor de alguns episódios da série de Krasinski, incluindo o ótimo season finale da segunda temporada. Kwapis não consegue encontrar um ritmo próprio para a película. E comédia é ritmo. Se não acontecer no tempo certo, perdeu o propósito. A seqüência do jogo no qual Ben e a família Jones devem se definir um ao outro com apenas uma palavra, por exemplo, é um martírio. Vergonha alheia é o mínimo que o espectador pode sentir. E se não bastasse a falta de talento, precisava escalar todo o elenco de “The Office” para o filme? O início com William dirigindo-se diretamente ao público é outro despropósito.

Com um ótimo elenco na mão e um roteiro com piadas engraçadas, Kwapis vacila e transforma o que poderia ser um ótimo exemplar do gênero em uma sessão de risadas forçadas e, algumas vezes, cenas entediantes. Com outras opções semelhantes no cardápio da sua cidade, evite “Licença Para Casar”.

Igor Vieira
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