Após 20 anos no ar, "Os Simpsons" finalmente ganham uma versão cinematográfica, mas entre as boas piadas, a trilha sonora incrível e a presença de todos os personagens que fizeram de pequena cidade de Springfield a mais politicamente incorreta da televisão fica a certeza de que o filme é apenas um grande episódio da série.
Em 1987, uma série de pequenos curtas abriu espaço para uma família se tornar a mais adorada da televisão. Não demorou muito para que Homer, Marge, Lisa, Bart e a bebê Maggie se tornassem um dos maiores fenômenos pop do milênio. Desde 1989, quando estrearam oficialmente na televisão, com episódios de 30 minutos, “Os Simpsons” fizeram história e criaram algumas boas referências para a cultura norte-americana e para o resto do mundo.
Demorou muito para que a tela se ampliasse e a família migrasse para o cinema. Até agora 18 temporadas e 400 episódios colocaram Springfield entre as cidades fictícias mais adorada de todos os tempos. Se “Os Anjinhos”, “Pokémon” e “Bob Esponja” ganharam versões cinematográficas com pouco tempo de existência, os 10 anos de preparação para colocar “Os Simpsons” no cinema precisaram ser muito bem aproveitados.
Os 87 minutos de projeção possuem uma grande vantagem. Não há a necessidade de apresentar os personagens, de desenvolver o humor e fazer com que o espectador conheça cada um dos cidadãos amarelos. Todos conhecem Homer, um pai de família preguiçoso, cheio de defeitos e representação exagerada de um típico americano. É ele o protagonista dessa história.
A poluição do lago em Springfield atingiu níveis absurdos. Lisa, a filha inteligente e a esperança da família Simpson, explica à cidade os perigos ambientais que o descaso proporciona e todos decidem respeitar a barreira colocada em torno do reservatório. Todos exceto Homer que, precisando se livrar dos dejetos de seu porco de estimação e com pressa para aproveitar uma distribuição de rosquinhas de graça, dá a palavra final à sobrevivência da fauna da cidade e joga a “caca de porco” nas águas.
O incidente faz de Springfield a cidade mais poluída dos Estados Unidos e uma ameaça à segurança nacional. Todos são isolados em um domo inquebrável e é tudo culpa de Homer. Bart, o filho problema, um dos maiores astros da série e ídolo familiar, já tinha a confiança no pai abalada. O garoto encontra no vizinho Ned Flanders, pai modelo, católico fervoroso e irritantemente perfeito, um substituto em afeto. Marge é a única que fica ao lado do marido, sua paixão e fidelidade ao casamento e à família mantém os cinco unidos, mesmo em uma situação aparentemente sem saída. Maggie, a bebê prodígio, pode ter a solução para os problemas imediatos de seus pais e irmãos.
Não se engane, “Os Simpsons – O Filme” é um longo episódio da série. Estão lá todos os elementos que fizeram da série um fenômeno. Todos os personagens coadjuvantes, tão especiais e engraçados quanto a família protagonista, fazem alguma aparição. Nenhum deles precisa ser apresentado, o passado não é importante, são as piadas sutis e rápidas que fazem de cada momento extra uma pérola do humor.
O longa-metragem sabe fazer graça de si mesmo. Ironiza que os espectadores estão pagando por algo que poderiam assistir de graça, fala com muito humor sobre a crise ambiental que parece estar tomando conta do espírito de Hollywood, satiriza personagens que receberam filmes de sucesso, como Homem-Aranha e Harry Potter.
A trilha sonora que acompanha as aventuras de Homer e sua família para salvar Springfield de um destino cruel é especial. Porco-Aranha e o hino da cidade são hilárias mesmo não acompanhadas de cenas, junte um cinema lotado de fãs do desenho e Homer Simpson fazendo seu animal de estimação andar no teto e você tem uma das melhores piadas de todos os tempos.
Os mais puritanos reclamarão da nova dublagem. Homer recebeu uma nova voz, nada que estrague a diversão do filme, mas os mais dedicados já protestam contra a mudança. Em inglês, o ator Hank Azaria (“Godzilla”) dubla mais de 10 personagens e o elenco ganha uma participação especial de Tom Hanks (“Forrest Gump”). Infelizmente a versão em português esconde os detalhes, mas nem por isso deixa de ser especial.
Os Simpsons existem para fazer piada, para refinar o humor e satirizar todo e qualquer aspecto da cultura moderna, mas a série faz isso muito bem há quase 20 anos. Um filme exatamente igual é desnecessário, mesmo que divertido. Os acidentes, as piadas religiosas, os comentários sobre estereótipos, sobre notícias freqüentes na mídia, tudo isso já foi explorado com exaustão durante a centena de episódios exibidos no Brasil pela Fox e pela Rede Globo. Uma hora e meia do mesmo tipo de humor é repetitivo.
Um filme que demorou 10 anos para sair do papel parece uma reunião do que ficou de fora durante todas as temporadas do desenho animado. Fica claro que essa é uma história que precisava apenas de mais do que 30 minutos para se desenvolver, mas segue a fórmula de sucesso em cada cena. Sim, é uma coleção de sobras, de piadas renovadas, mas isso não significa algo ruim. Quem acompanhou a família Simpson, seja por DVD seja através da exibição na TV, não sairá decepcionado e, se é que existe, alguém que não conhece os cinco personagens de coloração amarela, habitantes de Springfield, se surpreenderá ao rir das situações mais absurdas e das idiotices do pai de família mais adorado e idiota da televisão.