Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 11 de agosto de 2007

Escorregando Para a Glória

"Escorregando Para a Glória" é uma comédia descompromissada que une humor negro à comédia física, proporcionando momentos hilários, sem chocar.

A comédia americana é famosa por fazer piadas óbvias, físicas e exageradas. Cenas naturalmente engraçadas são intensificadas pelo humor típico de programas como “Saturday Night Live” e é necessário um comediante muito bom para suavizar as piadas e refiná-las. Curioso notar que é justamente um ator saído de “Saturday Night Live” que transforma “Escorregando Para a Glória” em uma comédia hilária, sem ser constantemente nojenta ou vulgar.

Will Ferrell é Chazz Michael Michaels, patinador artístico, campeão olímpico e famoso por suas coreografias improvisadas e sensuais. Jon Heder é Jimmy MacElroy, rival de Michaels no gelo, mas dono de um estilo completamente diferente, clássico e computado. As diferenças entre os dois precisam ser superadas quando uma briga no pódio das olimpíadas termina por banir os dois atletas da categoria. A solução é competir como uma dupla, a única dupla composta apenas por homens. No caminho para a glória e para a conquista do ouro estão os irmãos Stranz e Fairchild Van Waldenberg, decididos a manter a fama sobre o gelo e a premiação impecável.

“Escorregando Para a Glória” poderia facilmente apelar para o mais óbvio, desenvolver estereótipos e realizar um filme muito mais dependente das ações do que dos diálogos, mas não é esse o resultado. Michaels é um viciado em sexo, MacElroy carrega uma sensibilidade feminina clara. Unir os dois opostos permite tantas variações cômicas simplesmente através da linguagem corporal dos competentes atores, mas é através das palavras que algumas sutilezas são derramadas e o mais grotesco amenizado.

Os diretores Josh Gordon e Will Speck souberam dosar a medida de humor negro, escatologias e acidentes e construíram um filme divertido e surpreendente justamente por fazer rir sem fazer chocar. Will Ferrell brilha em seu personagem e carrega suas falas de referências culturais e comentários sarcásticos. Jon Heder é mais tímido, mas nem por isso desaparece na tela, seu humor está em seu rosto, estranho, cômico por natureza.

O mérito do longa está no conjunto, em realizar um humor inofensivo sem deixar de ser hilariante, por trazer atores competentes, seguros em desenvolver personagens de múltiplas facetas, sem cair no exagero e apelar para o senso comum.

As coreografias e acrobacias são um bônus para quem for assistir ao filme, que tem 93 minutos de duração. Patinação artística combina a técnica esportiva e a dificuldade em realizar movimentos sobre o gelo escorregadio com a beleza da dança. As dramatizações simples realizadas pelos atores, amparados por uma equipe que desenvolveu belos movimentos, complementa uma trilha sonora diversificada e proporciona uma diversão ainda mais tranqüila e descompromissada.

Para os que torcem o nariz para as comédias americanas e para os que amam o trabalho de Ferrell ou qualquer criação cinematográfica de antigos membros do “Saturday Night Live”, “Escorregando para a Glória” é uma agradável surpresa que merece seu espaço entre os últimos grandes lançamentos.

Lais Cattassini
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