A gangue de Danny Ocean volta a atacar no terceiro longa desta série que reúne alguns dos mais famosos atores de Hollywood. Contando com tudo que fez do filme original um sucesso e limando tudo aquilo que foi chato nos dois anteriores, "Treze Homens e um Novo Segredo" revela-se um filme deliciosamente despretensioso e divertido.
Há alguns anos, o ator George Clooney e o diretor Steven Soderbergh tiveram a idéia de refilmar o clássico filme de 1960 "Onze Homens e um Segredo", que contava a história de um simpático grupo de ladrões que daria um grande golpe nos cassinos de Las Vegas. O original contava com uma grande vantagem: era estrelado pelo rat pack, um grupo de astros liderados por ninguém menos que Frank Sinatra e Dean Martin. Para igualar as chances, Clooney e Soderbergh criaram sua própria versão do time de estrelas, chamando alguns dos nomes mais populares da indústria cinematográfica americana para participar do remake. Então vieram Brad Pitt, Julia Roberts, Andy Garcia e o então em ascensão Matt Damon. A brincadeira, graças ao clima cool do longa, deu certo e gerou uma seqüência onde mais gente famosa participou (e se divertiu), mas que não foi tão bem recebida pelo público (mesmo faturando muito bem) e que ainda dava uma ótima e feliz conclusão para os personagens. Nesse meio tempo, a dupla responsável pela empreitada ganhou mais respeito, fazendo filmes sérios e políticos, que não rendem tanto assim. Para arrecadar dinheiro e continuarem com tais projetos que fazem mais do que apenas entreter, nada como mais um golpe de Danny Ocean e seus camaradas.
A questão se tornava o motivo que levaria Ocean e seus comparsas a se reunirem novamente para um golpe, já que eles haviam conseguido tudo o que queriam no último filme. Ora, vingança! Um dos membros do grupo, o empresário Reuben (Elliott Gould), é passado para trás em um novo empreendimento pelo inescrupuloso Willie Bank (Al Pacino) e acaba enfartando. Para vingar o amigo, Danny (Clooney), Rusty (Pitt) e o resto da gangue se reúnem novamente para um novo e mirabolante golpe, sendo reforçados pelo expert em sistema de seguranças Roman Nagel (Eddie Izzard) e obrigados a recorrer àquele que havia sido a vítima e pedra no sapato da equipe nos golpes anteriores, Terry Benedict (Garcia). O objetivo, além da doce vendeta, são 500 milhões de dólares em dinheiro, além de 250 milhões em jóias a serem roubados em um espaço de tempo curtíssimo (3 minutos e 20 segundos). Isso se eles conseguirem passar por Bank, sua assistente Abigail Sponder (Ellen Barkin) e um sistema de vigilância teoricamente intransponível.
Como em um truque de mágica, a diversão da fita não está em vê-los conseguindo, mas em saber como eles vão conseguir. Portanto, não revelarei nenhuma das surpresas e traquinagens dos nossos heróis (?), mas já adianto que são as melhores de toda a série. Algumas das cenas são absurdamente hilárias, como a situação envolvendo os irmãos Malloy e a cena entre Linus (Matt Damon) e Sponder. Fora que, desta vez, temos um verdadeiro vilão, no sentido estrito da palavra. Bank é mau, ruim mesmo. Bruto, trapaceiro, mesquinho, arrogante, sem honra ou caráter. Perto dele, Bennedict é um anjo. Outra coisa, se alguém aí estava se perguntando onde estão os interesses amorosos de Danny e Rusty, Tess (Julia Roberts) e Izzy (Catherine Zeta-Jones), podem acreditar que a ausência delas acaba gerando algumas dos melhores momentos do filme, com os dois amigos filosofando sobre a dificuldade de seus relacionamentos.
Em relação às atuações, não espere que alguém seja indicado a um Oscar por esse filme, já que todo o elenco não está muito preocupado com a qualidade de suas interpretações nesta produção em especial, trabalhando de uma maneira bastante descontraída e relaxada. Não que isso seja algo ruim, pelo contrário, já que a proposta do filme é justamente levar para a diversão mais leve e imediata. Até mesmo aquela que é principal motivação da maioria dos personagens é extremamente real, a camaradagem que existe no grupo. O que vale aqui não é o teor dramático, mas a capacidade dos atores em entreter o público, e todos eles conseguem. Apesar de todo o elenco principal ter seu momento, algumas coisas que devem ser ressaltadas, como a ótima química entre George Clooney e Brad Pitt que se mostram absolutamente à vontade em cena, principalmente nas seqüências onde são seus personagens são apenas velhos amigos tendo conversas sobre temas banais (algo com que todos podem se relacionar), as divertidas atuações de Matt Damon e Ellen Barkin na cena envolvendo seus personagens e a exageradíssima atuação do veterano Al Pacino como o terrível Bank.
A parte técnica do filme está absolutamente irretocável. Steven Soderbergh não teve muito que fazer aqui em relação à direção de atores, portanto ele pode fazer um exercício de estilo, se aproveitando da variedade de cenas. Realizando alguns ótimos planos-seqüências, como o que revela a confusão que ocorre na fábrica mexicana ou o que mostra o plano de Danny em ação no cassino de Bank, o cineasta mais parece uma criança no playground, aproveitando todas as cenas mais movimentadas para “brincar” um pouco. Além disso, ele deu um colorido todo particular à Vegas, atuando também como diretor de fotografia do filme sob o pseudônimo “Peter Andrews” – algo recorrente em sua filmografia. Apesar da rapidez de raciocínio dos personagens e das várias situações ocorrendo ao mesmo tempo, o filme jamais fica confuso, mantendo um ritmo ágil e constante, graças ao ótimo trabalho do renomado editor Oscar Stephen Mirrione, que fora indicado ao prêmio por “Babel” e é um velho colaborador de Soderbergh, tendo trabalhado em todos os longas da franquia. Outra coisa que dá um charme todo especial à série é a ótima trilha sonora de David Holmes, que não desaponta neste terceiro exemplar.
O filme é justamente aquilo que se propõe a ser e mostra que diversão despretensiosa e respeito à inteligência e ao bom senso do espectador não são conceitos que se excluem mutuamente. Se são filmes bacanas como este que financiam os projetos intelectualmente mais ambiciosos de Clooney e Soderbergh, continuo a pagar por eles com o maior prazer.