Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 09 de agosto de 2007

Meteoro

"Meteoro" representa tudo sobre o qual o cinema nacional deveria ter menos orgulho. Cenas excessivas de sexo, palavrões desnecessários e roteiro pobre. Nem o elenco de desconhecidos descobre talentos ou valoriza a produção que tem Diego de la Terra como diretor, em seu primeiro longa-metragem de ficção.

Quando Juscelino Kubitschek decide construir Brasília e estabelecer o centro do país como a capital da nação, estradas para conectarem as grandes cidades são necessárias. Assim, Aloísio (Lucci Ferreira) e Gordo (Leandro Hassum) partem para colaborar com a construção que unirá Fortaleza à nova capital. Um grupo de trabalhadores é encarregado da grande tarefa de iniciar o projeto, mas encontram um deserto no meio do caminho e são incapacitados de prosseguir.

Desmotivados e isolados do resto do país, a única diversão para aqueles homens é a visita das prostitutas cuidadas pela Madame (Daisy Granados). Uma vez por mês as meninas viajam até o acampamento para garantir companhia e motivação aos trabalhadores.

Um bloqueio na estrada impede o retorno das meninas para a cidade e a partida dos homens. Perfeita combinação para a criação de uma nova sociedade no acampamento. Mais perfeito ainda é o ambiente para a criação de uma pornochanchada moderna.

O cinema brasileiro sofre de um mal. Alguns diretores e roteiristas ainda não entenderam que é possível fazer cinema sem a pronúncia de um palavrão a cada 10 minutos de projeção ou que sexo não enriquece nada, muito menos os personagens.

Diego de la Terra tem três pontos que podem servir de desculpa para a grande decepção que é “Meteoro”. Primeiro, é seu primeiro longa-metragem de ficção e, por ser seu primeiro, até que o filme é bem feito. Segundo, a história envolve um grupo de prostitutas, logo, sexo é inevitável. Terceiro, a direção de fotografia compensa as imensas falhas de roteiro, as atuações medíocres e as cenas desnecessárias.

A premissa é realmente interessante. Se o contraste entre a sociedade reprimida pela ditadura militar e a utópica Meteoro, encabeçada por Aloísio e a prostituta Nova, estivesse presente seria convincente, mas nem isso. O objetivo de “Meteoro” não é mostrar o drama político vivido no Brasil, muito menos refletir sobre a importância da liberdade, é mostrar sexo. Só sexo.

O drama se torna a falta de água, dura apenas 10 minutos. Depois os problemas entre os casais, esses duram 20. Nenhum personagem sustenta a trama e poucos possuem profundidade o suficiente para fundarem uma sociedade, por mais que a política não seja uma realidade em Meteoro.

A frase que melhor define o filme de Terra é proferida por um dos trabalhadores presos no povoado, ao se dar conta de que não será possível pagar as prostitutas pelo sexo quando finalmente receberem o dinheiro que o governo lhes deve. A observação é clara: “A prostituição foi abolida, o que resta é a putaria”. O roteiro segue a mesma linha.

Paula Burlamaqui e Cláudio Marzo são os nomes mais famosos do elenco. O que falta em fama não compensa em talento. Nenhum dos protagonistas tem carisma o suficiente para permitir que esqueçam da má construção de seus personagens.

Algumas cenas, como a em que o índio Julião e Nova conversam sobre as estrelas ou ainda quando Iracema, interpretada por Iracema Starling, encontra seu tão sonhado “príncipe azul”, beiram o ridículo. E, pior, nada acrescentam à já esmigalhada trama.
Renato Padovani é o destaque de “Meteoro”. É, definitivamente, o único nome que vale a pena lembrar entre os que englobam a produção do longa-metragem. Sua direção de fotografia é impecável e realça a beleza natural da região nordeste do país. Se existe uma razão para “Meteoro” ter sido lançado nos cinemas é Padovani.

“Meteoro” relembra a mediocridade do cinema nacional que pensávamos ter deixado para trás após alguns ótimos filmes como “Cidade de Deus”, “Central do Brasil” e “O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias”.

Lais Cattassini
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