Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 10 de junho de 2007

Totalmente Apaixonados

Com um roteiro vago e situações imaturas, "Totalmente Apaixonados" demonstra ser apenas mais uma comédia romântica cujo maior atrativo reside em seu elenco.

Com a proximidade do dia dos namorados, comédias românticas parecem ser os filmes mais indicados para os cinemas. Geralmente, quando vamos conferir esse tipo de projetos cinematográficos, lembramos logo que a maioria é perpetuada por clichês, demonstrando a falta de criatividade de boa parte da equipe hollywoodiana. No entanto, não somente esse é o problema de filmes desse estilo. As relações estão ficando cada vez mais complexas, o que deve acarretar num tratamento mais maduro de certas histórias. "Totalmente Apaixonados", além de não acrescentar nada àqueles que vão assisti-lo, aborda os relacionamentos amorosos de uma forma superficial e incrédula.

A trama acompanha dois casais. O primeiro, formado por Rebecca (Julianne Moore) e Tom (David Duchovny) já acontece há bastante tempo. Enquanto ela é uma famosa atriz de cinema que decide se dedicar ao teatro, ele é um publicitário responsável por criar uma propaganda de bastante sucesso, mas que opta por se tornar "dono de casa", abandonando o seu real trabalho. O outro casal está junto há sete anos e é constituído por Elaine (Maggie Gyllenhaal), uma aspirante a escritora de livros infantis que é bastante amiga da atriz citada, e Tobey (Billy Crudup), um homem ainda infantil, melhor amigo de Tom e irmão mais novo de Rebecca. A partir dessas quatro pessoas, várias situações envolvendo relacionamentos são apresentadas ao público.

Claramente, a principal falha de "Totalmente Apaixonados" reside em seu roteiro, que foi escrito por Bart Freundlich, também diretor do filme. Apresentando uma história a qual aspira artificialidade, Freundlich parece não possuir maturidade suficiente para retratar relações amorosas. Durante boa parte do longa-metragem, o maior – e talvez único – problema vivenciado pelos casais diz respeito a sexo. Sei que o quesito sexual realmente importa em alguns casos, no entanto, tratando-se de relacionamentos mais maduros, é impossível pensar que o único dilema seja este. Por exemplo, na cabeça de Tom, parece que o incômodo engloba apenas o fato de Rebecca não desejar fazer sexo com ele. A partir desse fato, são criadas margens para que exista uma abordagem mais precisa ou que surjam mais problemas para o relacionamento dos dois, todavia o roteirista não consegue desenvolver suas idéias, apenas fazendo com que Tom mantenha um caso com outra mulher, mas não abordando este fato de maneira precisa, visto que a relação extra-conjugal estabelecida apenas possui uma importância para a trama – a qual vocês podem deduzir assistindo ao longa.

Durante o filme, são jogadas bastantes informações com o intuito de fazer com que o público aceite-as sem questioná-las. Também há situações que simplesmente não funcionam mais no cinema, afinal, já estamos cansados, por exemplo, de presenciar piadas envolvendo fezes e "pum's". A falta de uma direção mais envolvente e condizente com a realidade é outra lástima deste projeto. Alternando as cenas entre os dois casais, Freundlich não consegue fazer com que o público se envolva totalmente com nenhum dos dois. Aliás, a produção somente se torna mais interessante a partir de quando Tom e Tobey passam a dividir mais momentos juntos, assim como Rebecca e Elaine.

Sendo ambientando em Nova York, o longa-metragem poderia ter uma áurea mais imponente, visto a importância que um condado como Manhattan possui. Todavia, a fotografia não está aquém ao ambiente que a cidade favorece, com o longa-metragem trazendo uma iluminação fraca durante as cenas noturnas, o que desvirtua toda a beleza existente no ambiente. Um aspecto que, em meio a tantos detalhes desfavoráveis, passa despercebido é a trilha sonora. Apresentando um quesito mais contemporâneo, nenhuma canção consegue realmente chamar atenção dos espectadores. Talvez todas as falhas do filme tenham feito com que as músicas sejam meros complementos praticamente desnecessários.

Um aparente acerto da produção é o elenco. Constituída por celebridades famosas, a equipe de atores mostra-se adequada e responsável. Julianne Moore, definitivamente, é o destaque. Na realidade, a sua presença mostra-se bastante superior ao longa em si. A atriz consegue desenvolver bem o seu trabalho participando de diversos gêneros, e em uma comédia romântica não poderia ser diferente. Como Rebecca, é capaz de retratar a dureza de uma mulher que basicamente sustenta a sua família, contrastando com a sutileza e fraqueza que esta possui ao vivenciar um problema mais sério em seu relacionamento. Maggie Gyllenhaal é outro destaque, incorporando uma Elaine cheia de vivacidade, com objetivos bem definidos e uma vontade de fazer com que tudo dê certo. O elenco masculino, embora esteja satisfatório, não se compara ao feminino. David Duchovny, sempre com a mesma feição de bobo, faz de Tom um personagem fraco e aparentemente sem aspectos decisivos em sua vida, enquanto Billy Crudup encarna a perfeita "criança adulta", que possui ideais que não condizem com a sua idade e, mesmo assim, parece estar satisfeito durante maior parte do tempo.

"Totalmente Apaixonados" é a típica comédia romântica repleta de clichês, no entanto, as suas falhas vão bem mais além do famoso lugar-comum. A abordagem vaga e sem maior aprofundamento de alguns personagens, não dando tanto destaque aos sentimentos dos mesmos, faz com que o projeto não mexa totalmente com os sentimentos do público. Em alguns momentos, até que risadas são inevitáveis, todavia, em geral, o longa-metragem traz situações incrédulas e passíveis a observações mais severas. Para os mais exigentes, este projeto, sem dúvidas, é apenas mais um que habita as salas de cinema nacionais.

Andreisa Caminha
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