Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 26 de maio de 2007

Piratas do Caribe: No Fim do Mundo (2007): fecha com chave de ouro

Depois de longa espera, "Piratas do Caribe 3" chega aos cinemas finalizando a trilogia de aventuras dos piratas mais famosos já vistos nas telonas. Com uma produção respeitável, o filme segue a mesma linha dos outros dois, solucionando as interrogações abertas anteriormente e dando um show de humor e aventura nos sete mares. Puro divertimento. Redondo como proposta de filme, não me arrisco a dizer que ele foi redondo nas expectativas dos fãs.

Política e trapaças. Duas coisas que pintam a cena de “Piratas 3”. Tudo com toques de humor e fantasias, o filme oferece um ótimo entretenimento durantes seus 165 minutos de duração. Felizmente, o terceiro não comete os erros tediosos do segundo filme, que passaria tranqüilamente com 20 minutos a menos. A turma de Jack Sparrow (Johnny Depp) volta com tudo e ele, claro, rouba a cena em todas as suas aparições.

Não sou fã do estilo e não falo com a particularidade de quem acompanhou a trilogia com afinco, mas acredito que o filme seja uma boa opção para lazer. Mas ainda arrisco dizer que ele pode ser decepcionante para os fãs fervorosos. Digo isso porque o filme em si não deixa (muito) a desejar, mas por ser a terceira “pérola” de uma trilogia que arrebatou bilheterias, talvez as expectativas sejam maiores que a realização da idéia.

No terceiro filme, encontramos o maquiavélico e baixinho lorde Cutler Beckett (Tom Hollander), da Companhia das Índias Orientais, caçando piratas sem dó nem piedade no controle do assustador “Holandês Voador”, o navio que transporta aquela tripulação “molusquenta” liderada por Davy Jones. O ressuscitado capitão Barbossa (Geoffrey Rush), a bela Elizabeth Swan (Keira Knightley) e o perseverante Will Turner (Orlando Bloom) precisam reunir os Nove Lordes da Corte da Irmandade para poderem arquitetar uma derrota contra Beckett. Acontece que o capitão Jack Sparrow é um dos lordes e está preso ao baú de Davy Jones (Bill Nighy). O trio se arrisca, então, numa aventura exótica e perigosa para Cingapura, a fim de conseguir os mapas que os guiarão ao desconhecido. Lá, eles enfrentam o capitão Sao Fend (Chow Yun-Fat), famoso por não ter piedade ou senso de justiça.

Vemos claramente que em “Piratas do Caribe 3: No Fim do Mundo”, temos o aprofundamento e a resolução de todas as histórias propostas nos últimos dois filmes. O romance de Swan com Turner, a história de Davy Jones, a disputa com lorde Beckett, entre outras. E tudo foi encaixado convenientemente e conduzido de forma envolvente. Mas ainda me arrisco a falar que sem a “malemolência” de Sparrow, o filme perderia parte do brilho. Tudo basicamente continua igual. Os personagens continuam com seus estilos e nenhuma grande guinada acontece. Na verdade, as grandes barganhas e tratos emendam e mudam o rumo da historia e há quem fique confuso se dormir no ponto.

A atuação de Depp continua impecável. Apesar das situações perigosas, o personagem não perde o ar inusitado e improvisado. A sua tripulação, desengonçada e fiel, completa o ar divertido que o filme tem. Até o macaquinho e o papagaio influenciam no rumo da pirataria. Mas de longe, Johnny Depp e seu Jack Sparrow deixam qualquer personagem no chinelo.

Entretanto, cada um ali teve seu valor. Todos os personagens conseguiram desenvolver um estilo próprio, até mesmo os secundários. Quem conseguiu provar a que veio foi a Keira Knightley, com cenas de tensão, aventura e romance, todas muito bem desenroladas. E Bill Nighy, apesar da fantasia nada humana, conseguiu ganhar seu espaço.

A maquiagem do filme merece destaque, principalmente na criatividade investida para modelar os noves lordes piratas. Todos estão sensacionais e distintos, aproveitando mesmo toda riqueza imaginária ao redor do mundo dos fora-da-lei dos sete mares.

A trilha sonora envolve e cuida das emoções ao longo do filme e os movimentos de câmera melhoram com o passar do tempo. As lutas estão mais envolventes e com motivos mais condizentes, sem deixar o espectador naquele espetáculo de espadas e pontapés à toa. Pelo visto, cuidaram melhor do roteiro do filme dessa vez. E olha que o filme começou a ser filmado sem o roteiro estar finalizado… Parece que eles capricharam para dar destaque, na medida do possível, a todos os personagens e se deixaram levar pela trama. A mística Tia Dalma (Naomie Harris), que se revela a deusa Calypso depois, foi muito melhor explorada, e até o almirante James Norrignton (Jack Devenport) reaparece com mais personalidade.

E o último filho da trilogia fecha com chave de ouro: o filme contou com a participação ilustre do rolling stone Keith Richards, que interpreta um tipo de guardião da “bíblia dos piratas”. A apresentação curta do astro é muito bem-vinda e ele não desaponta, ainda mais quando é revelado muito sutilmente que ele é o pai do pirata mais carismático, Jack Sparrow.

O filme diverte, nos poupa do melodrama, dosando devidamente e vale o ingresso. Mas além da terceira edição, não acredito que vá haver pano para mais história da seqüência com o mesmo sucesso. O final abre para isso. Por hora, podemos apenas ir até o “Fim do Mundo” com nossos conhecidos piratas e ter a certeza de uma viagem diferente.

Thiago Sampaio
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