Como adaptação do famoso jogo para videogames e computadores, alguns elementos podem ser observados, mas seria o suficiente para os fãs?
Confesso que não joguei nenhuma versão de “Resident Evil” em videogames ou computadores. Entretanto, para o mínimo de embasamento e respeito para com os fãs do jogo, li o máximo que pude do roteiro dos jogos. Passando pelo primeiro “Resident Evil” até a história em “Resident Evil: Code Verônica”, pude ler algo a respeito e, pelo menos, entender os elementos que circundam a trama do jogo.
Indiscutivelmente aclamado, “Resident Evil” é o responsável direto da difusão do survival horror no universo dos jogos. Antes dele, “Alone in The Dark” havia lançado o gênero, mas foi “Resident” que realmente tornou popular. De acordo com algumas fontes, o jogo é baseado no jogo japonês “Sweet Home”, de 1989, por sua vez baseado no filme “Suiito Houmu”. O fato é que a franquia “Resident Evil” começou em 1996 (data do seu lançamento para a plataforma PlayStation) e culmina hoje no cinema, além, lógico, de novos jogos a serem desenvolvidos.
A trama do primeiro filme, com subtítulo brasileiro de “O Hóspede Maldito”, gira em torno dos acontecimentos no subsolo da Mansão Spencer. De acordo com o que o filme explica, debaixo da mansão é onde estaria a Colméia, um núcleo de pesquisas da Umbrella Corporation. Algumas coisas saíram do controle nesse laboratório mega-escondido e todos os funcionários ficaram lá dentro presos, mesmo com a liberação de um perigoso, e ainda em testes, vírus, chamado nos jogos e, posteriormente, nos filmes, de T-Virus.
O T-Virus é resultado de um vírus geneticamente modificado criado pela Umbrella e responsável por deixar os seres humanos com aspectos de zumbis. Não entrando muito no mérito das pesquisas, mas há uma explicação para isso acontecer. Os cientistas empregados pela Umbrella para essas pesquisas tentavam descobrir um jeito de retardar o envelhecimento, porém descobriram que o vírus, de certa forma, é mortal. A questão é que ele matava o ser infectado, mas, posteriormente, o reanimava somente com alguns órgãos ativos. Logo, esse ser, agora zumbi, era movido pela vontade de saciar a fome, provendo casos de canibalismo. Qualquer pessoa ao ser mordida por um zumbi já teria sido infectada e, em questão de horas, estaria com o vírus ativo em seu organismo.
Pelo que podemos perceber, o filme realmente se colocou como uma adaptação do jogo e não uma história simplesmente com bases. Vemos elementos como a Mansão Spencer (alvo do primeiro jogo), a mega-corporação Umbrella, o T-Virus, etc. Todavia, o caos do primeiro longa-metragem é só jogar esses elementos em um liquidificador e somá-los à uma nova abordagem da história, inclusive com uma nova protagonista; a personagem Alice (Milla Jovovich, de “O Quinto Elemento”), afastando, pois, os consagrados personagens do jogo, como Jill Valentine, Leon Kennedy, Carlos Olivera, Chris Redfield e sua irmã, etc.
Desacordada e perturbada com os acontecimentos de início, a nova personagem até que desempenha um papel interessante na trama desse filme. Ela dá um clima bem subjetivo ao que está acontecendo. Só aos poucos Alice vai descobrindo suas reais habilidades, provendo situações de lutas e tiroteios bem interessantes. A atriz Milla Jovovich é realmente uma das mais indicadas para o estilo de personagem. Por outro lado, a má direção já começa a aparecer.
A direção de Paul W.S. Anderson deixa a desejar, sobretudo nos momentos de embate direto de um contra um. A parte final dos golpes que Alice desfere em seus adversários é, simplesmente, cortada. Para um olho menos clínico, a sensação é que realmente ela acertou, vide a rapidez com que a câmera e os cortes são colocados, mas, se ficarmos bem atentos, o corte final em todo soco ou pontapé deixa as cenas completamente artificiais. Sei muito bem que as ações de murros e chutes não atingem o oposto nos filmes, mas não precisava ser tão descarado.
Vale lembrar que o roteiro também é de Anderson e foi justamente ele quem descreveu todos esses novos personagens. Apesar de não estar nos jogos, um desses personagens, vale ressaltar, é bem positivo para a trama. O nome dela é Rain Ocampo, interpretada por Michelle Rodriguez (“Velozes e Furiosos”, “Lost”). O drama da personagem durona de ter sido mordida por um zumbi e estar lutando contra o vírus é bastante interessante. Só não assimilei muito bem o porque da relação amorosa entre ela e Alice. Apesar de ter ficado nas entrelinhas (ou não tanto), soou estranho e inapropriado para a trama em determinados momentos.
Os ouvidos foram bem incomodados por quase toda a projeção. Com todo aquele começo calmo e, até então incompreensível, a trilha e edição de som vinham desempenhando um bom papel. Quando Alice sai por alguns segundos da mansão, podemos escutar na cena o som dos corvos voando, unido ao vento sombrio e o ruído das folhas rolando ao chão. Trabalho de edição muito bem feito, até que entra a trilha sonora e estraga tudo. Para que tanto techno, dance, trance e vertentes? Senti-me dentro de uma boate diante de tantos “tuntz-tuntz-tuntz”.
No final das contas, “Resident Evil” pouco funciona como filme e, menos ainda, como adaptação. Se não fosse pelo final retratando fielmente o clima do começo do segundo jogo, quando Alice pega uma escopeta do carro da polícia e vemos Raccoon City completamente em caos, as esperanças dos fãs poderiam ter morrido por esse filme mesmo. Todavia, espertamente, conseguiram prendê-los para uma continuação.