"A Volta do Todo Poderoso" é uma continuação descompromissada. Apesar do talento de Steve Carell, é difícil acreditar em uma comédia que se preocupa mais com lições de vida do que cenas engraçadas.
“Uma Verdade Inconveniente”, “O Dia Depois de Amanhã”, o recente documentário de Leonardo DiCaprio “The 11th Hour”. Todos têm a educação ambiental como propósito, seja cumprindo com a verdade ou chocando através de cenas surpreendentes e efeitos visuais imperdíveis. É preciso uma comédia para lembrar que a Terra sofre com a devastação e a ambição humana?
Por mais que conscientização seja importante, parece que Hollywood está levando essa missão longe demais. “A Volta do Todo Poderoso” embarca (com o perdão do trocadilho) na moda e tenta mostrar aos espectadores, que vão ao cinema para dar risadas, que o que importa é ser preocupado com a natureza, ter fé em Deus e ser fiel à família.
Evan Baxter, interpretado por Steve Carell, é o âncora do jornal em que trabalhava Jim Carrey em “Todo Poderoso”. Eleito congressista americano e decidido a “mudar o mundo”, Baxter pede ajuda a Deus. A resposta é a entrega de ferramentas e madeira em sua porta. Deus quer que Evan construa uma arca, o dilúvio é iminente.
Político, pai de três filhos, obcecado por sua aparência, Evan precisa se desligar de tudo o que lutou para conquistar e se tornar o moderno e maluco Noé. Piadas com animais, ferramentas antigas e, claro, Deus (Morgan Freeman), são esperados, mas é bem diferente do primeiro filme, que ousava com situações politicamente incorretas e ações egoístas de Bruce, o todo poderoso original.
Carell é mais carismático, sua figura é caricata e tem humor mais criativo e menos exagerado do que Carrey, mas nem seu visível esforço é capaz de tornar as poucas piadas suficientemente engraçadas. O roteiro é pobre e piegas, não há ator que consiga transformar um material fraco em comédia memorável.
O grande problema de “A Volta do Todo Poderoso” é a segurança. As piadas, os personagens, as lições (e, acredite, são muitas) e os efeitos visuais não impressionam. Nada impressiona. O que começa como algumas horas com potencial para uma diversão despretensiosa termina como duas horas despretensiosas que seriam mais bem aproveitadas no conforto do lar, saboreando o frio do inverno.
Se a intenção do filme dirigido por Tom Shadyac, que também assina a primeira “aventura divina”, era deixar o espectador pensando sobre fé, família e meio ambiente, mais uma falha é computada. A preguiça intelectual que toma conta dos 95 minutos de projeção permanece mesmo depois de o filme terminar. Não é engraçado, não é reflexivo, não é péssimo.
“A Volta do Todo Poderoso” é tão superficial, tão simples e piegas que nem ao menos as emoções despertadas por ele podem ter intensidade. Se o que o leitor procura é uma tarde de piadas prontas, uma sessão de cinema descompromissada e desinteressante esse é o filme perfeito. No caso de a busca ser por gargalhadas, reflexão ou aventura é melhor passar longe desse longa-metragem.