Em "Harry Potter e a Ordem da Fênix", o diretor David Yates consegue captar com eficiência todo o universo mágico criado pela escritora J.K. Rowling. Em situações mais maduras e sombrias, o público acompanha o desenvolvimento do personagem-título e se encanta com as descobertas feitas pelos bruxos adolescentes.
Após ter conseguido eficientemente a posse da pedra filosofal, desvendado os mistérios da Câmara Secreta, enfrentado fugazmente Dementadores e se deparado com um torneio que media a inteligência e esforços, Harry Potter, o bruxo adolescente mais famoso dos mundos literário e cinematográfico, está de volta em mais uma aventura. Dessa vez, em “Harry Potter e a Ordem da Fênix”, o jovem é obrigado a lidar com situações mais do que inusitadas e estreitar os seus laços de amizade, uma vez que o grande Lorde das Trevas parece estar de volta definitivamente.
Logo no começo deste quinto filme, notamos que Harry não é mais o mesmo dos projetos anteriores. Com um olhar mais preocupado do que o normal, o garoto demonstra ter adquirido mais maturidade ao presenciar a morte cruel de um dos seus colegas, Cedrico Diggory, durante o Torneio Tribuxo, que aconteceu no quarto longa-metragem. Durante as férias, as quais passa, como sempre, com a família Dursley, o jovem bruxo encontra-se mais solitário do que o comum. Até que, enquanto discutia com seu primo Duda, é surpreendido por uma alteração drástica no tempo. Junto com esta mudança, vem os dementadores, guardas da prisão de Azkaban, que ameaçam Harry e Duda. Temendo pela morte, Potter profere o feitiço do patrono, salvando, assim, tanto a si próprio quanto o primo.
Todavia, o uso de magia feito por menores de 17 anos fora do período escolar e ainda na presença de trouxas é totalmente proibido, fazendo com que Harry tenha que passar por uma ameaça de expulsão da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Logo, o jovem é visitado por bruxos já conhecidos por ele, como Olho-Tonto Moody e Quim, que os leva à sede da Ordem da Fênix, onde se reúne novamente com seus amigos Ronny Weasley e Hermione Granger. Sendo encaminhado a julgamento no Ministério da Magia, é provado que o bruxinho apenas conjurou a magia do patrono devido à grave ameaça pela qual passava. Com seu futuro garantido por mais um ano em Hogwarts, Harry embarca em uma aventura bastante difícil, uma vez que a maioria dos estudantes da escola e bruxos acredita que os fatos anteriormente narrados pelo jovem, os quais davam conta da volta definitiva de Lorde Voldemort, são falsos.
Para piorar a situação, o diretor Alvo Dumbledore tem toda a sua autoridade questionada por Dolores Umbridge, nova professora de Defesa Contra Arte das Trevas e sub-secretária do Ministério da Magia. Logo, Umbridge é nomeada Alta Inquisidora de Hogwarts, fazendo com que o poder de Dumbledore dentro do recinto escolar seja, de certa forma, diminuído. Uma das novas mudanças feitas por Dolores é que, na escola, não se deve usar magia, visto que um estudo teórico já basta para a defesa. Sendo, a priori, desacreditado por alguns alunos e constantemente vigiado pela Alta Inquisidora, Harry Potter começa a liderar um grupo chamado “Armada de Dumbledore”, no qual os alunos mais preocupados com segurança aprendem feitiços que poderão ajudá-los no futuro. Após muito treinamento, dúvidas e desavenças com Umbridge, Harry ainda terá que enfrentar Lorde Voldemort, em uma batalha mais do que esperada.
Primeiramente, uma grande observação pertinente a este quinto projeto cinematográfico diz respeito à sombriedade da trama. À medida que Harry Potter e seus amigos crescem, aventuras cada vez mais repletas de suspense e aspectos maduros aparecem na história. Aquele Harry infantil e fraco visto em “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, principalmente, é substituído por um adolescente que começa a passar por problemas mais sérios do que os muitas vezes vivenciados por alguns adultos. Sabendo dar valor às amizades verdadeiras, que se mostram bem mais importantes no desenrolar desta quinta trama, e vivenciando a sua primeira paixão, Potter agora precisa de maturidade suficiente para enfrentar o misterioso e maligno Lorde Voldemort. Junto com isso, conseqüentemente, características sombrias se mostram necessárias para possibilitar que os espectadores sintam, de fato, que o bruxo não deve ser mais visto como uma criança e sim um adolescente que deve aprender a lidar com seus próprios atos.
Um dos fatores responsáveis por esta alteração de ambientes foi a contratação de David Yates. O diretor demonstrou capacidade de captar o universo mágico dos livros escritos por J.K. Rowling ao trazer uma trama envolvente à primeira vista e, ao mesmo tempo, repleta de mistérios. Em nenhum momento, Yates parece pestanejar ao retratar Harry como, acima de tudo, um ser humano que possui seus receios e incertezas. Aliado a um roteiro bem desenvolvido, o cineasta transmitiu facilmente para as telonas os elementos que necessitavam de uma abordagem mais complexa, deixando de lado algumas características originais do livro. Neste quinto filme, não vemos a vontade de abarcar todos os elementos escritos por Rowling, muito pelo contrário. Parece que o bom senso prevaleceu, fazendo com que o destaque central seja, definitivamente, o treinamento dos bruxinhos contra o Lorde das Trevas e o caos vivenciado em Hogwarts, o que não permitiu que a história se desenrolasse em várias subtramas. A preocupação com os NOM’s, exames principais da escola, a disputa entre as casas e o quadribol, por exemplo, é praticamente nula.
Embora o balanço entre as situações seja primordial para o bom desenvolvimento da trama, também fez com que alguns elementos mágicos deixassem de ser vistos em primeiro plano, permitindo que todo o encanto da descoberta fosse um pouco esquecido pelos espectadores. Todavia, mesmo que não haja encantamento, é impossível que o público não se entusiasme e passe a torcer juntamente com os atores mirins à medida que estes aprendem a lançar os seus primeiros feitiços importantes como Reducto, Expectro Patronum e Estupefaça. Além disso, a introdução à trama de novos personagens, mesmo que não tenham adquirido tanto espaço, foi essencial para manter o ar de mistério já existente.
O quinto filme, ao utilizar-se de efeitos visuais divididos entre regulares e destacáveis, demonstra que esforços não foram poupados para transmitir maior veracidade – se é que é possível – ao mundo mágico. Ao retratar a luta travada especialmente entre Dumbledore e Voldemort, não são economizados destaques, que vão de uma imensa bolha de água criada especialmente para o filme até vidros estilhaçados que tomam conta de todo o ambiente. Também ganham as telas criaturas criadas por Rowling como centauros e o inocente e simpático gigante Grope. Outro ponto alto de “Harry Potter e a Ordem da Fênix” diz respeito aos cenários impetuosos presentes durante toda a projeção. A administração de ambientes notáveis logo pode ser vista com a reconstituição do Ministério da Magia, com um salão dotado de detalhes importantes, como as fontes e as redes de Pó Flu, e aparentemente sem relevância, como o elevador que conta com a presença simpática de memorandos interdepartamentais.
Em relação às atuações, todas se mostram satisfatórias. Daniel Radcliffe demonstra potencial para melhorar como ator, ao incorporar de forma eficiente um Harry adolescente e em conflito. Emma Watson continua a encarnar uma Hermione imperativa e corajosa, enquanto Rupert Grint faz de Ronny Weasley o mesmo garoto simpático, no entanto, limitado a ser apenas amigo do protagonista. Atores de peso como Ralph Fiennes, Michael Gambon, Gary Oldman e Maggie Smith, que vivem, respectivamente, Lord Voldermort, Professor Dumbledore, Sirius Black e Professora Minerva McGonagall, não possuem tanto destaque, todavia são essenciais para dar um ar de maturidade à história. Dos personagens introduzidos neste quinto longa-metragem, definitivamente, Dolores Umbrigde e Luna Lovegood são os que mais merecem ressalvas. A experiente Imelda Staunton faz de Umbridge uma criatura fascinantemente repugnante. A atriz consegue mexer com os lados positivos e negativos do papel, possibilitando que uma pessoa dotada de uma aparência inofensiva se mostre o pior pesadelo dos alunos de Hogwarts. Evanna Lynch, por sua vez, consegue repassar para Luna todo o potencial inteligente e desligado da personagem, despertando simpatia da maioria dos espectadores.
Abordando questões rotineiras como o fato de todos possuirmos um lado bom e mau e a importância da amizade para a nossa existência, “Harry Potter e a Ordem da Fênix” consegue se estabelecer como o melhor filme da franquia até agora. O clima envolvente e sombrio criado pelo diretor David Yates ainda é ajudado por uma trilha sonora bastante adequada criada por Nicholas Hooper, que vai de melodias simples até aquelas que fazem ressurgir todo o temor visto nas telonas. Desta vez, J. K. Rowling deve estar orgulhosa devido à maneira como repassaram a magia de seus livros para os cinemas.