Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 27 de junho de 2007

Para Sempre Cinderela

Uma espécie de “conto de fadas moderno” que deverá agradar bastante ao público mais romântico. Pra quem espera algo mais que uma história de amor bonitinha, no entanto, esta não é a melhor das pedidas.

O que acontece quando todas as fórmulas e tramas parecem gastas? As pessoas passam a revisitar as clássicas histórias e procurar adaptá-las ao tempo em que serão inseridas. “Para Sempre Cinderela” se encaixa perfeitamente nessa categoria, ao trazer a clássica história infantil com mudanças consideráveis para se adaptar ao público moderno. Com uma mocinha ousada e corajosa, um príncipe que nem sempre toma as rédeas da situação e um conselheiro que ao mesmo tempo é um personagem histórico importante, o filme mistura vários elementos que dão certo em termos de entretenimento. Quem procura algo mais denso no roteiro, assim como no filme como um todo, no entanto, certamente ficará decepcionado. “Para Sempre Cinderela” é o típico romance açucarado, mas nem por isso deixa de ser digno de ser visto.

A base da trama parte basicamente dos mesmos princípios da história de Cinderela que costumamos ouvir quando crianças. Um homem viúvo com uma filha pequena casa-se novamente e morre logo em seguida, deixando aos cuidados da cruel madrasta a sua herdeira. A pequena garota cresce sujeita aos maus tratos de sua mãe adotiva, sempre à sombra das meias-irmãs que ganham tudo o que deveria também ser seu. Quando tudo parece perdido, no entanto, surge um príncipe que se apaixona pela moça e a liberta de sua triste realidade.

A primeira peculiaridade do filme se dá logo no começo, quando a metalingüagem se faz presente através da figura dos irmãos Grimm, autores da obra original intitulada “Cinderela”. A rainha da França solicita a presença dos escritores em seu castelo e diz que há alguns fatos que foram distorcidos pela história dos dois, apresentando a sua versão como real. Ela, então, começa a narrar a suposta trama verdadeira sobre uma plebéia que realmente existiu. A partir daí, acompanhamos a saga de Danielle, a suposta Cinderela, que com seu jeito simples, porém decidido, conquista o príncipe da França, que acredita que ela seja da nobreza. Muitos desencontros acontecem, mas o previsível “felizes para sempre” não demora a chegar. Nada no filme chega a surpreender, mas os que tiverem boa vontade com a produção, poderão se deixar envolver pelo desenrolar da trama.

Drew Barrymore interpreta a protagonista em um tipo de papel que já parece dominar muito bem. Aliás, se procurarmos na filmografia da atriz, perceberemos que não existe nenhum personagem verdadeiramente denso em sua carreira até então. No entanto, dentro do que esse determinado trabalho exige, pode-se dizer que Barrymore dá conta do recado, emprestando carisma à jovem Danielle. Por outro lado, seu par romântico poderia ter sido oferecido a um intérprete mais adequado. Dougay Scott não convence em quase nenhum atrativo que se espera de um príncipe de contos de fadas: não tem porte de galã nem química com a mocinha. Há momentos, inclusive, que seu personagem chega a despertar a antipatia do público.

Quem se destaca desde o começo gritantemente, entretanto, é a veterana Anjelica Houston, na pele da cruel madrasta. Seu jeito imponente e talento indiscutível dão o tom perfeito à personagem, criando uma figura impagável, às vezes sádica, às vezes cômica. A atriz é o grande mérito do filme, abrilhantando a produção do início ao fim.

A caracterização de época que envolve os cenários e os figurinos dos personagens não são pontos que chegam a chamar atenção. Para o espectador menos exigente, a atmosfera criada pode facilmente convencer, mas se formos fazer uma análise mais rígida, muita coisa deixa a desejar. A trilha sonora completa os quesitos. Não chega a ser esplêndida, mas se encontra bastante adequada para o contraste entre o clássico e a modernidade proposto pelo longa.

De qualquer forma, o filme deve agradar aquele que se deixam facilmente seduzir por um bom romance, cheio de clichês e detalhes doces. Quem não se encaixa nessa categoria, no entanto, deve, definitivamente, procurar outra opção.

Amanda Pontes
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