Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Uma Noite no Museu (2006): roteiro infantil demais torna o filme chato

Elenco famoso e marketing espetacular fazem com que as salas de projeção de "Uma Noite no Museu" lotem facilmente, mas tamanho alarde só é justificado nos efeitos visuais e algumas boas atuações.

O filme é bem infantil, apesar de não estar sendo completamente vendido assim. Larry Daley (Ben Stiller, de “Entrando Numa Fria”) é só mais um frustrado na vida que não consegue satisfazer o filho Nick (Jake Cherry, de “Amigas com Dinheiro”) que é dividido entre ele e sua ex-esposa Erica (Kim Raver, a Audrey do seriado “24 Horas”). Além da não realização familiar, muito abala o homem o fato de não conseguir ir em frente nas coisas que se propõe a fazer, sendo despedido várias vezes, por exemplo. Mas vê no trabalho de Guarda Noturno do Museu de História Natural sua chance de se redimir em todos esses aspectos.

Um tanto clichê parece essa premissa. Entretanto, não é de se admirar visto que, dentre os quatro roteiristas, Ben Garant e Thomas Lennon são participantes de alguns filmes família, como “Operação Babá”, com o Vin Diesel de babá (!), por exemplo. Além dos roteiristas, de cara vemos um diretor também de dentro do mundo desses filmes famílias. Shawn Levy recentemente dirigiu a comédia “A Pantera Cor de Rosa”, mas antes já havia dirigido a comédia-romântica “Recém-Casados” e o muito família “Doze É Demais”, além de ter produzido o segundo filme dessa franquia.

Não é de se esperar que “Uma Noite no Museu” vá satisfazer além do público infantil. Inclusive, em alguns spots ou propagandas, ele estava sendo vendido como um filme para público variado, mas isso não vem ao caso. O fato é que, com roteiro simples, desenrolar simples e uma direção mais simples ainda, os propósitos reais do filme são: primeiramente muito dinheiro dos pais da criançada; um bom punhado de efeitos especiais; e a demonstração de um elenco muito carismático. De resto, repito, é tudo muito raso.

O ponto forte do filme fica claro logo nos trailers, e diz respeito aos efeitos visuais. A belíssima arte gráfica empregada em animais exóticos e um esqueleto completo de um Tironossauro Rex (ou somente T-Rex, como queiram) realmente impressiona. O problema disso é que, com uma fantasia bem enquadrada por conta desses efeitos, passam a usar muito o fundo azul (quando se filma em uma sala normal e a paisagem é colocada depois por computação) nas cenas com Ben Stiller protagonizando. Nada contra usar o fundo azul, longe disso, entretanto a má utilização dele deixou o ator lotado de contornos. Esse problema é visível na cena de perseguição que envolve o próprio Stiller e Dick Van Dyke (que interpreta o ex-vigia noturno Cecil Fredericks) já perto dos minutos finais. A meninada nem percebe, mas alguns olhares mais atentos não deixarão passar em branco.

Mesmo antes de se entrar no cinema você espera muito é do elenco. No mínimo, a leva de atores já cria carisma até mesmo nas propagandas. Stiller é conhecido de muitos, pois fez “Entrando Numa Fria” e sua continuação “Entrando Numa Fria Maior Ainda”, onde realmente seu jeito de comediante se encaixou. Porém o ator mantém sua forma de atuar, sem mostrar nada de novo. Quem gosta do trabalho do rapaz, vai continuar apreciando.

Alguém que eu pensei que iria fazer somente uma ponta no filme dá um show. Trato de Owen Wilson, também muito conhecido por filmes famosos (“Bater Ou Correr”, “Bater Ou Correr Em Londres”, “Penetras Bons de Bico”). O ápice do filme na comédia o tem presente. Tanto ele quanto o Imperador da toda poderosa Roma, Octavius (no latim, no português é Otávio) minimizado em bonequinhos ao estilo Comandos em Ação (bem ao estilo mesmo) e interpretado por Steeve Cooga, que tem um ótimo time para a comédia. No mesmo barco de boas atuações está Robin Williams, esse dispensa até apresentações, e por esse fato mesmo tanto cativa logo a criança, quanto à moçada, quanto aos adultos. Trabalho belíssimo? Não, só um Williams bem aprimorado como o 26º presidente dos Estados Unidos da América: Theodore Roosevelt, pegando o propósito certo do personagem.

O fato de ter um roteiro infantil demais torna “Uma Noite no Museu”, por muito tempo, chato. Sabe aquele desfecho cheio de glamour e etc? Pois é, só mesmo os pequeninos se empolgam, e isso, hoje em dia, é um problema. Como fica a cara de quem os acompanha? Os pais terão que se esforçar muito em algumas partes do filme, já que ele é cheio dos altos e baixos. Até que o roteiro tentou imprimir novidades: museu, estátuas e animais que criam vida à noite, mas isso fica só na surpresa inicial e nada mais.

Ainda sobre o roteiro, e para fechar, nem a questão que poderia atrair os pequeninos para visitas ao museu (inclusive, o Museu do Ceará está meio carente disso) funciona muito, afinal que graça terá um museu se não for igual aquele, onde as coisas ganham vida? Mas também imaginem o Museu do Ceará com o Bode Iô-iô correndo feito iô-iô “para cima e para baixo”, as antigas iluminações da cidade voltando a iluminar e até mesmo o Frei Tito de Alencar tomando vida…. enfim, os monitores daquele local que já tem tanto trabalho durante o dia, teriam que se rebolar durante a noite também.

Raphael PH Santos
@phsantos

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