Sendo classificado apenas como uma produção leve e descontraída, "Uma Noite no Museu" chega com muitos efeitos especiais e um elenco de peso, mas deixa de lado bons elementos que uma comédia precisa ter para funcionar completamente.
Larry Daley (Ben Stiller) é um homem cuja vida está totalmente fora dos conformes. Sempre transitando de emprego em emprego, de casa em casa e ainda tendo que se mostrar um bom exemplo para o filho, Larry acaba aceitando trabalhar como segurança noturno do Museu de História Natural de Nova York. Tentando restabelecer sua vida, tudo o que Larry menos esperava era que todas as peças do museu ganhassem vida ao anoitecer. Maias, gladiadores romanos e cowboys saem de suas maquetes e travam batalhas épicas, enquanto um tiranossauro corre feito cachorro atrás de um osso ou animais selvagens agem como se estivessem em pleno hábitat natural. Tendo que aprender a lidar com cada personagem, Larry conta com a ajuda de Teddy Roosevelt (Robin Williams) e tenta contornar o caos em que se meteu e não perder o trabalho.
Acostumado com comédias, o diretor Shawn Levy (“A Pantera Cor-de-Rosa” e “Recém-Casados”) pareceu um tanto quanto desconfortável guiando o roteiro de Ben Garant e Thomas Lennon (ambos também da comédia “Herbie – Meu Fusca Turbinado”), adaptado da obra infantil de Milan Trenc. A falta de sintonia é notável. Primeiro porque o roteiro retrata maravilhosamente um mundo de fantasias, o que acabou pesando mais para a equipe de efeitos visuais se virar para construir os elementos mais realistas possíveis, mas acaba esquecendo do lado cômico da história. É bastante chato perceber que cada vez mais a inocência de tentar fazer rir com quedas, brigas e diálogos fraquinhos não está mais funcionando; e o pior: não estão fazendo praticamente nada para mudar isso. A falta de piadas realmente interessantes, que certamente o poderoso elenco interpretaria de jeitos fenomenais, prejudicou o andamento da história, que acaba se resumindo somente a seqüências de ação que vão ficando cada vez mais redundantes e não trazem uma dimensão tão atraente quanto poderiam trazer. Levy até que tenta criar um ambiente de mistério e soube fazer o bom uso da câmera em diversas cenas, abusando (ou não) da iluminação e dispondo de efeitos visuais medianos. Digo isso, pois nem toda criação gráfica ficou ao gosto dos mais exigentes. É inegável que muitos deles ficaram impecáveis, mas, quando encaixado em cena, sentimos um leve desvio da realidade. Um exemplo disso são nas cenas que o tiranossauro rex fica correndo e o único recurso usado para convencer que ele estava no museu foram alguns truques de câmera que vão tremendo e dando um impacto no espectador, mas se formos notar com mais cautela, outros personagens presentes não recebiam o mesmo impacto, o que acabava negando o realismo final da cena.
Juntando alguns dos melhores atores comediantes de Hollywood, “Uma Noite no Museu” não decepciona no quesito atuação. Por mais que os atores sejam figurinhas carimbadas e estejam em personagens um tanto quanto exóticos, a química entre eles é gigante. Ben Stiller continua com a cara de pateta de sempre, mas desta vez dá um ar mais fantasioso ao seu personagem, mesmo que se restrinja a viver cenas de ação que sempre culminam em um desfecho fraco. Quando Robbin Williams aparece, soa a voz da experiência, e é sempre ótimo vê-lo em boa forma, embora seu papel seja restrito, sem grandes evoluções, não correspondendo ao ícone que ele é atualmente para a indústria cinematográfica. Owen Wilson tem expressões cômicas que conquistam o público logo de cara e talvez seja um dos personagens mais divertidos, principalmente por ser o mais acessível ao olhar infantil ao qual a proposta do filme é destinada, já que ele vive um boneco um tanto quanto radical. Outros personagens secundários conseguem exercer bem suas funções dentro da trama, com destaque para Patrick Gallagher, que vive o divertido Átila, o Huno, que, por mais que use o recurso batido de fazer rir pela falta de comunicação com os outros personagens (já que fala um idioma esquisito), acaba fazendo rir do mesmo jeito.
Pena que um bom filme não se faz somente com bons atores. Além de um roteiro fraquinho, os erros de continuidade são inaceitáveis e estão presentes em muitas cenas, deixando transparecer que não houve a mínima preocupação em ser cuidadoso e detalhista. Realmente incomoda você ver que uma determinada seqüência de fatos não foi filmada “de uma vez”, pois com as falhas de continuidade, vemos cortes absurdos, alterando os componentes da cena descaradamente. Em uma cena hilária que acabou me remetendo a um dos “Todo Mundo em Pânico”, onde vemos Larry dando tapas em um macaquinho, se prestarmos bem atenção na maquiagem feita em Stiller (que estava coberto de uma massa branca gosmenta), a cada tomada, existe uma alteração nesta maquiagem: ora a massa suja mais a roupa de Stiller, ora já está ‘limpa’. Vale ressaltar que isso tudo acontece em questão de segundos. Outro ponto chave que poderia ter dado um upgrade no longa seria uma trilha sonora mais intensa e personagens menos caricatos que acabam não cumprindo alguns fatos como o roteiro estabeleceu, já que este é bastante contraditório. Mesmo assim, acaba sendo uma boa opção para as férias escolares, que estão quase acabando. Não espere que seus filhos e sobrinhos morram de rir durante o longa, mas talvez saiam comentando sobre o que aprenderam com ele. Nada mais do que uma “comédia” mediana, desnecessária, mas que dá para aturar.