James Bond está de volta, agora na pele de Daniel Craig, e, desde os créditos iniciais, o filme deixa bem clara sua proposta. Um blockbuster? Não, apenas mais um da franquia "007".
Digo mais um nessa apresentação pelo fato do filme ter usado todos os elementos que fizeram dessa franquia uma das mais famosas do mundo. Não que ele seja só mais um filme descartável. Ele é, na verdade, um resgate dos bons tempos de 007. Um projeto atual, com propostas atuais, mas mescladas a tons da moda antiga.
Isso fica claro logo quando, no preâmbulo da projeção, tudo se apresenta em preto e branco. Uma clara e simples representação de que os bons tempos estão por voltar. A tal apresentação dá o clima necessário para qualquer que seja o espectador se empolgar com as premissas do filme. Dentre esses espectadores um grupo com certeza se empolga bem mais, no caso, a velha guarda dos fãs de James Bond. Aqueles que tiveram o prazer de acompanhar o espião desde quando esse ainda era interpretado por Sean Connery, ou seja, desde quando tudo começou.
O clima diferenciado dos últimos longas da série não pára por aí. Sabe aquele tiro de revestes que o Agente 00 sempre dá no início de cada estória? Ele está com uma cara diferente. Não só porque Pierce Brosnan cedeu lugar Daniel Craig na interpretação de Bond, mas também para demonstrar que uma nova era está para começar. Até o título sugere isso, indo lá em 1953 resgatar o nome do primeiro livro de vários da franquia: “Cassino Royale”, escrito por Ian Fleming.
A sinopse adicionada a essas novas premissas, não tem nada de muito diferente. O vilão, a bondgirl e o Agente da Coroa. É nesse triângulo que a trama é levada até o fim, como de costume. Porém, se acoplando a novas tendências, o roteiro do filme agora faz os acontecimentos girarem em torno do Terrorismo – sendo que até mesmo a Guerra Fria é citada, mas em tom de brincadeira por M (Judi Dench). Bond tem que lutar para que terroristas não consigam seus objetivos. Entretanto, para o roteiro não ficar tão simplório assim, ele também terá que dar conta de algumas reviravoltas, costumeiras na série.
Algo que foi um sucesso, com certeza, foi a adaptação do 007 com os dias atuais. Usando e abusando do celular e novidades da nossa era digital, os roteiristas (Paul Haggis, Neal Purvis, Robert Wade) conseguiram uma boa mesclada com os antigos elementos da série. É tanto que a trilha sonora muito lembra os velhos e bons filmes da franquia. Vale ressaltar também que essa trilha sonora, belíssimamente encaixada do começo ao fim, só mostra o tema principal que muito ficou famoso na hora certa. Tanto na hora certa do desenvolvimento do personagem e mais ainda da história. Ambos, diga-se de passagem, muito bem desenrolados ao longo dos 154 minutos de duração.
Infelizmente, o enredo não acerta em sua totalidade. Mesmo com todos os elementos que giram em torno da trama funcionado muito bem, um pode ser uma faca de dois gumes. Usando o artifício do jogo de pôquer (mais especificamente o Texas Hold’em) por muito tempo, pode tornar a projeção um pouco enfadonha para quem não gosta desse jogo. Para quem não sabe as regras e não se interessa pelo menos, talvez faça com que o filme pareça longo demais. Se esse espectador específico não for paciente, poderá logo julgar o filme de enfadonho. Caso contrário, as boas doses de ação tirarão tal problema de destaque.
Falando em cenas de ação, como não poderia ser diferente, elas estão aos montes. Todavia, estão competentemente bem distribuídas ao longo dos minutos. O único problema é que, depois de tanta ação e vários possíveis clímax finais, o real clímax, esse sim, se apresentou cansativo. Talvez menos enchimento de lingüiça em algumas parte tornaria o filme mais objetivo e, conseqüentemente, melhor. Não é a toa que ele é o mais longo desde o primeiro 007.
Muitos falavam sobre Daniel Craig. “Ele é loiro”, “Ele é muito forte”, “Ele é feio”, “Ele não tem carisma”. Eu fui um dos que julguei mal a escolha do ator. Porém, de língua queimada, digo que Daniel Craig é o melhor 007 desde Sean Connery, sem sombras de dúvidas. Ele pode até ser tudo isso que diziam, mas souberam usá-lo muito bem. Se ele não tem carisma, é só usar a falta de carisma. Se ele é forte, o que impede de um James Bond que muito malhou? O fato é que até a falta de sorriso deu um novo tom, e muito bom, para o Agente. Méritos também para a direção de Martin Campbell. Visível que quando sorri ou tenta ser bonzinho, Daniel Craig sai da linha e se apresenta como um péssimo 007, mas quem disse que James Bond anda sorrindo? Errado quem o fez assim. James Bond precisa é de presença, seja onde estiver, e isso o novo intérprete do personagem tem muita, pois esbanjou presença de cena em todas as situações a que foi exposto.
São muitos os méritos do filme. Resgates da velha série bem articulados. Tentativa de apagar a má impressão dos últimos filmes bem sucedida. Um novo James Bond bem escolhido e roteiro nenhum poderia ter sido melhor do que esse para iniciar uma nova fase da franquia. Fase essa que promete durar. É tanto que, ao final dos créditos, a seguinte frase é exibida: “James Bond will return!”. Então, que esperemos James Bond retornar, já que agora a série está cheia de novas e ótimas premissas.