Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 25 de novembro de 2006

Pacto, O

Com um roteiro fraco e lotado de informações que acabam se tornando desnecessárias, "O Pacto" se salva com um pouco por causa dos efeitos especiais que enchem a tela, alguns muito bem feitos, outros nem tanto, mas somente isso, infelizmente.

As histórias de bruxas sempre renderam alguns filmes de terror razoáveis, mas nenhum chegou a ser tão excelente e assustador. Não poderia ser diferente com "O Pacto". Cinco famílias que fundaram uma pequena cidade no interior dos Estados Unidos formaram um pacto que iria proteger seus segredos. Poderes são repassados de geração em geração ao filho mais velho da família. Com seus poderes colocados à prova aos 13 anos de idade, eles se tornam atrativos para qualquer jovem que o possuir. Aos 18 anos, eles ascendem e se tornam mais maduros. Mas junto com o poder vem a maldição de quanto mais se usa o poder, mais o corpo envelhece. Durante o percurso de 400 anos uma das cinco famílias desapareceu da face da Terra. Agora, os quatro jovens que são dotados dos poderes da tradição começam a pressentir o retorno de alguém mais poderoso do que eles. Entre azarações e brigas, eles terão que descobrir quem é este ser mais forte que se aproxima e tentar fazer com que o pacto criado há gerações não seja quebrado.

O filme não chega a ser um ótimo projeto, mas tem seus méritos. Ganhando muita força com o recente seriado "Supernatural", "O Pacto" se apropria do melhor do seriado (atualmente sendo exibido na TV Aberta pelo SBT) para ganhar pontos entre o público mais jovem, que é descaradamente o público alvo deste filme. Os poucos efeitos especiais durante a exibição do filme pelo menos servem para encher os olhos daqueles que vão ao cinema somente procurando uma diversão descartável e passageira.

Aliás, muito mais do que descartável, o roteiro de J.S. Cardone se mostra completamente frágil, com personagens superficiais. Está bem explícito que a idéia é justamente conseguir ser o mais pop possível. Não há nenhum mal em ser pop, desde que o trabalho seja bem feito e com certeza Cardone, que ao longo dos seus 24 anos de carreira como escritor não conseguiu deslanchar muitos filmes, tendo dentre seus trabalhos o "Vampiros do Deserto", de 2001, como o mais conhecido, não é a melhor opção para tal intenção.

Renny Harlin está de volta à direção. Depois de uma pausa de dois anos, onde dirigiu "O Exorcista: O Início" e "Caçadores de Mentes", o diretor volta à ativa. Infelizmente, o digníssimo não consegue se mostrar tão mais criativo. Ele é uma ótima cabeça para tomadas com efeitos especiais, como o início de "O Exorcista" e a morte de uns dos personagens em "Caçadores de Mente" com nitroglicerina. Neste novo filme podemos vibrar com a luta final (que se assemelha a uma luta do jogo Street Fighter em questão de movimentos, só faltando um dos personagens falar "Hadouken"), que apesar de um pouco exagerada, parece muito mais realista do que outros filmes clamam ser. Mas Harlin também mostra ser um verdadeiro "Copy Cat", duplicando na cara de pau algumas das cenas que, mesmo que por alguns segundos, impressionaram espectadores do mundo todo, como no caso da cena em "Anjos da Noite", onde Kate Beckinsale pula da sacada de um edifício no início do filme, e, ao atingir o chão, a gente vê a leveza da personagem, como se ela não tivesse nenhum peso, jogada excelente do marido (e diretor do filme) Len Wiseman. Infelizmente essa duplicata em "O Pacto", que, além de usar um personagem completamente digital, acaba não funcionando tão bem. Mas esses são meros detalhes que acabam sendo salvos pelos efeitos de algumas lutas criadas por Harlin no filme.

O filme se mostra mais desesperado por atingir o seu público adolescente no quesito trilha sonora. Fãs de Need for Speed poderão reconhecer algumas músicas da trilha, que, aliás, tem seus altos e baixos. O velho rock pauleira nas cenas de luta e perseguição, que não estão de todo fora do enquadramento do filme, como também algumas trilhas destoantes com as cenas (como no caso de uma das cenas que envolvem a personagem Sarah e Caleb).

Por falar neles dois, outro ponto meio fraco no filme é o elenco. De forma nenhuma os atores conseguem convencer sobre os seus personagens, muito menos o casalzinho vinte do filme, que você só reconhece porque, enfim, só falta aparecer um letreiro luminoso em néon piscando: "São eles!". E é aí em que o filme peca em relação à série televisiva "Supernatural". Dean e Sammy, os irmãos que lutam contra monstros e assombrações para encontrar seu pai, são muito mais interessantes e bem criados (embora a primeira vista não parecessem) do que qualquer personagem de "O Pacto". Aliás, não se sabe ao certo se, na série, são os personagens que são melhores ou os atores que possuem carisma, e não só um corpo bem definido para aparecer bem na tela.

Com um clima muito parecido ao de "A Sociedade Secreta", que diga-se de passagem é superior e muito ao "O Pacto", este último é a prova viva de que muitos adolescentes irão vibrar com o longa, porém daqui há alguns anos irão rever o filme e se perguntarem: "Por que mesmo eu gostei dele?". Poderia ter vindo direto para as locadoras. Talvez assim não fosse tão decepcionante.

P.S.: As estrelas do filme são única e exclusivamente para trilha sonora e os efeitos especiais.

Leonardo Heffer
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