Tal como o filme, essa crítica não vai ter muita embromação. "Os Infiltrados" é um thriller brilhante, ficando em plano de destaque tanto no seu gênero, quanto para além. É o tipo de filme que se estreasse todos os anos uma vez, estaria sempre entre os melhores.
Diante de várias premissas que “Os Infiltrados” me demonstrava antes que eu entrasse na sala de projeção para assisti-lo, somente uma me deixava de olhar atravessado. William Monahan como roteirista ainda não me convenceu, pelo contrário, ele foi um desastre com o roteiro do filme “Cruzada” (traz Orlando Bloom como protagonista). Mas, de resto, o filme tem tudo para atrair espectadores. Nomes conhecidos no elenco, direção do brilhante Martin Scorsese (“O Aviador”, “Gangues de Nova York”) e a proposta de um bom thriller do estilo que só o Scorsese sabe dirigir.
Como o próprio nome sugere, o filme é sobre infiltrados (?). É bem interessante. Enquanto um policial genuíno vai ser intruso em uma gangue que há tempos é perseguida pela polícia de Boston, um intruso também é colocado nesse grupo de policias como um outro infiltrado. No filme, os tais infiltrados são chamados de “ratos” e ficam passando informação de um lado para o outro, como uma disputa de gato e rato mesmo. Leonardo DiCaprio, que já trabalhou com Scorsese nos sucessos “Gangues de Nova York” e “O Aviador”, é o policial que vai se passar de garoto mau, enquanto que Matt Damon (“Gênio Indomável”) se passa de policial. Como chefe da operação policial estão Dignam e Queenan, interpretados por Mark Wahlberg (“Quatro Irmãos”) e Martin Sheen (“Prenda-me Se For Capaz”, também com DiCaprio) respectivamente. Já do lado dos bandidos, está o famosíssimo Jack Nicholson (“O Iluminado”, “Batman”) como o gângster Frank Costello.
Quando eu me “preparava” para assistir ao “Miami Vice”, ia com aquilo na cabeça: “o filme, no mínimo, vai me mostrar muita violência”. Realmente mostrou, mas não passou disso. Com alguns minutos de “Os Infiltrados”, o que eu tinha visto em “Miami Vice” foi empurrado para as profundezas mais escondidas de minha limitada memória.
O interessante é que meu medo inicial com relação ao roteiro se confirmou, mas não se referiu a algo ruim do filme. O negócio é que o roteiro não passa de ser simples, porém ele teria que ser simples mesmo, com todos os acontecimentos completamente aceitáveis por se tratar de cotidiano, para daí surgir o fascínio que é sua direção e as atuações do filme. Como era de se esperar, Martin Scorsese realmente dá um show. Tomadas de câmera que só ele sabe orquestrar estão espetaculares. Exageradamente falando, acho que até eu na mão de um diretor desse conseguiria algum destaque como ator – vai ver por isso volta e meia o DiCaprio está trabalhando com ele. O seu enquadramento é perfeito de tal forma a deixar todos os nossos pontos de fuga do olhar irem para pontos fundamentais da cena. Sem falar também nas giradas panorâmicas que ele faz, algo que, aliado a uma boa edição, deixa o que poderia ser um diálogo sacal, causar frisson.
Boa parte da atual coqueluche de atores resolveu se juntar para encabeçar o elenco dessa produção, e o resultado não poderia ser muito diferente. É cada um mais competente do que o outro. Para onde se olhava via boas atuações. Entretanto, DiCaprio já se mostrou com mais desenvoltura em outros papéis, como em “O Aviador” e “Diário de um Adolescente” (quando ele ainda era bem novo). Mark Wahlberg tem pouco tempo de destaque, mas seu personagem Dignam é sem dúvidas alguma, ao lado do gângster Frank, o melhor.
Por falar no Frank, quem o interpreta, no caso Jack Nicholson (conhece?!), não conseguiu se desligar muito do Jack Nicholson (?). Pois é, o ator costuma ser sempre ele mesmo nas suas atuações. Aquela cara de psicótico e tudo mais, ele mostra normalmente em suas costumeiras entrevistas, é só prestar atenção – lógico que não estou falando do Coringa, pois aí são outros quinhentos. Nesse filme, até seus costumeiros óculos e aquele boné de pescador que ele costuma usar, ele realmente usou. Talvez a moral dele seja tão grande a ponto de que ele dá o toque que quer aos seus personagens e “ponto”. Agora, em termos de atuação, quem mais se encaixou em seu personagem foi, sem dúvidas, Matt Damon. Ele tem todo aquele jeitão de policial novato e caiu como uma luva no papel. Já Martin Sheen apenas completa o elenco principal de forma normal, sem quase esforço, pois não precisou fazer praticamente nada demais face à tantos bons atores no elenco. Até alguns rostos conhecidos dos seriados da vida estão no elenco.
Elementos bem explorados. Roteiro levado ao limite, apesar de simples. Tomadas excepcionais – dignas de mestre -, atores competentes e bem dirigidos e várias reviravoltas. O que falta? Lógico, a trilha sonora. Como não podia ser diferente, por várias cenas do filme somos levados a aguçarmos a audição para escutarmos coisas como: Comfortably Numb, de Roger Waters (com participação de Van Morrison), Let it Loose, dos Rolling Stones, Sweet Dreams, de Roy Buchanan. Isso é só um aperitivo, pois não quero dizer mais nomes para não estragar as boas surpresas.
Antes de fechar a crítica, falar um pouco mais de como o roteiro foi trabalhado é relevante. Sabe quando tudo está se encaminhando para um desfecho normal, mas que mesmo assim é agradável? Pois é, nós somos levados a acreditar nisso. Porém alguns inesperados acontecimentos acabam vindo à tona e tudo vai se modificando cada vez mais. Scorsese e o roteirista William Monahan com certeza se divertiram em matar tanta gente e mostrar tanto sangue durante o filme.
“Os Infiltrados”, como já dito, é com certeza um dos melhores filmes de 2006. Também pudera, visto todas as suas premissas que já saí citando e analisando ao longo dessa crítica. Apesar do filme ter mais de cento e cinqüenta minutos de duração, a condução é tão boa que ele passa longe de ser cansativo. É uma ótima pedida, pois é daqueles filmes que, quando se termina de assistir, quer logo ir indicá-lo a seus amigos, além, lógico, de causar ótimas análises em um grupo de quem já o assistiu. O adjetivo que mais combina com “Os Infiltrados” é: brilhante!