Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 03 de novembro de 2006

Jogos Mortais 3 (2006): o lado comercial venceu e o filme se perdeu

Apenas um ano depois da segunda, eis a terceira parte da franquia "Jogos Mortais", que ficou famosa por demonstrar muito sangue e interessantes reviravoltas, além, lógico, do grande personagem Jigsaw, um anti-herói bastante adorado.

Quando em 2005 “Jogos Mortais 2” estava prestes a ser lançado, eu ficava cutucando com meus botões como esse filme se portaria para me enganar tal como o primeiro fez. Essa era, com certeza, o maior desafio do filme. Um ano depois, o terceiro filme chega com esse desafio multiplicado por dois e a responsabilidade grande de agradar uma legião de fãs muito bem formada com dois excelentes filmes.

Jigsaw está de volta. Agora o ajudando a preparar seus desafios contra as pessoas, está sua aprendiz Amanda, a quem fomos minuciosamente apresentados no segundo filme. Amanda, depois de ser uma das “vítimas” de um dos jogos de Jigsaw, acabou conseguindo sucesso se livrando de uma armadilha e, vendo que ele só pretendia contar com a redenção da moça por seus pecados em vida, ela acaba aderindo à causa e se alia ao personagem central da franquia. A sinopse é praticamente a dos outros dois. Jigsaw ameaça suas vítimas escolhidas à dedo e pede que elas façam a escolha de viver ou morrer. Se quiser continuar vivendo, terá de jogar dentro de armadilhas de acordo com regras impostas pelo assassino (que não se considera assassino), caso contrário uma bomba ou coisa do tipo elimina todas as chances dessa pessoa sobreviver.

“Jogos Mortais 3” tende desde o início a seguir o mesmo estilo de seus antecessores e isso realmente acontece, porém diferentemente do segundo, já que nele foram usadas várias pessoas no jogo principal do serial killer. Outro pequeno fator que se diferencia também é que ele não se apega a apresentar as investigações dos detetives, o que ficou caricaturado nos primeiros filmes. O elo que ele cria entre somente alguns personagens poderia ter deixado o filme no mesmo nível de seu direto antecessor, mas ele acaba se perdendo em suas próprias mãos ao tentar ser surpreendente além da conta.

A audácia limita o terceiro filme da franquia como visivelmente o pior dos três. Sua reviravolta final não chega aos pés da do primeiro filme (que foi simples e direta) e passa mais longe ainda da do segundo (muito bem trabalhada). Tentando agradar os fãs mais uma vez com um grande final, o filme fica raso. Tudo bem que ele acaba surpreendendo por seu desfecho, mas se distancia muito do foco de uma reviravolta inteligente observada em outros filmes do gênero, inclusive nos outros da própria franquia.

Tecnicamente falando, não somos apresentados a nada de novo. As câmeras são as mesmas e os efeitos de edição também. Sem falar do estilo de condução que, em vez de melhorar, piora. O filme fica sacal em determinados pontos, o que só não fica muito ruim porque a direção de Darren Lynn Bousman é realmente competente ao mostrar cenas de impacto. Não aconselho você assistir ao filme logo depois de ter comido alguma coisa pesada. Porém o que deixa essa condução do filme ruim são os flashbacks.

Responda-me: para que tanto flashback?! Pensam que os espectadores são tão burros a ponto de que tudo precisa ser minuciosamente explicado?! Quando eu pensava que bastava de tantos flashbacks, lá vem mais um e mais outro e mais outro. Alie isso ao péssimo uso de uma câmera digital, o já comentado raso desfecho e um exagerado tempo de duração, pronto, você tem um filme não digno do que a franquia “Jogos Mortais” pode revelar.

As atuações mais uma vez passam batidas. Tobin Bell interpretando Jigsaw novamente passa o filme quase todo parado e usando só a voz. É uma atuação interessante, mas já está batida e, por não apresentar nada de novo, passa despercebida. Shawnee Smith (que participou de todos os filmes até agora) como Amanda se perde toda nos momentos principais do longa. A raiva que sua personagem apresenta não é justificada pelas expressões que a garota demonstra. Talvez um pouquinho mais de maturidade e um melhor diretor dando-a boas instruções trariam um melhor destaque à moça. Angus Macfadyen como Jeff e Bahar Soomekh como Lynn são realmente fraquíssimos, vale nem comentar, visto a falta de ligação que apresentam para com seus papéis.

Talvez o estilo comercial demais a que “Jogos Mortais” está sendo submetido atrapalhe. Talvez não, tenho certeza, pois muitas coisas do filme são descartáveis, mas estão presentes só para agradar no âmbito meramente de venda. “Jogos Mortais 3” é um filme feito para vender. Ele acaba só agradando os já ricos empresários que o circundam. Os fãs ficam a ver navios.

Raphael PH Santos
@phsantos

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