Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 04 de novembro de 2006

Casa do Lago, A

Um filme que foge do destino de ser mais um romance corriqueiro ao ousar no roteiro e trazer uma história interessante, conduzida de forma competente.

Ao vermos o pôster de "A Casa do Lago", podemos pensar que se trata de mais um filme de romance, com bem dosadas pitadas de comédia. Ao vermos o trailer, a impressão é que há algo mais, há atrativos pouco usuais na história. Ao perceber que o elenco é constituído de dois atores que contam com certo respaldo em suas carreiras e o diretor do longa é o conceituado argentino Alejandro Agresti, cuja vasta filmografia está repleta de produções de qualidade, estão presentes todos os elementos para se construir uma opinião sobre o filme mesmo antes de vê-lo. Acertou quem apostou que "A Casa do Lago" agradaria.

Com premissas de ser mais um romance literalmente "de cinema", o filme surpreende logo quando a história começa a engatar. Kate Forster é a ex-moradora de uma bela casa situada às margens de um lago que, ao se mudar para um apartamento mais próximo de seu local de trabalho, deixa um bilhete para o novo proprietário, desculpando-se por alguns danos à casa e dando seu novo endereço. Alex Wyler é o novo morador, que acha que há algum engano com relação ao tal bilhete, já que ninguém habita a referida casa há anos. Dessa forma, correspondendo-se por meio da misteriosa caixa de correio da casa do lago, os dois descobrem que contam com um pequeno obstáculo para se encontrarem: estão em anos diferentes. Ela em 2006 e ele em 2004. Para piorar, acabam se apaixonando, mesmo sem se conhecerem pessoalmente.

Com um roteiro que envolve lapsos temporais é muito fácil cometer erros que comprometam a lógica do que está sendo mostrado (isso levando-se em conta que precisamos assumir a comunicação entre duas pessoas em tempo diferentes como plausível). Nesse âmbito, mostra-se o primeiro acerto do roteirista David Auburn, que fez com que tudo se encaixasse perfeitamente na medida em que são revelados os fatos que envolvem os encontros e desencontros do casal Alex e Kate. A história se desenvolve de modo a fazer com que o espectador mude constantemente seus conceitos com relação à trama. No fim, vemos que tudo se encaixa perfeitamente no que envolve as conseqüências dos atos do passado no futuro e vice-versa. Não digo, porém, que o roteiro não peca em nenhum aspecto, nem que o final não vá ficando previsível para o espectador com o mínimo de vivência cinematográfica, o que seria quase impossível ao se tratar de uma história relativamente complexa como essa. Porém, dentro das possibilidades de erro, os acertos se tornam bem mais relevantes.

As locações do filme também chamam a atenção em diversas ocasiões, proporcionando ao espectador uma "vista" espetacular mesmo quando o filme se encontra em momentos menos envolventes. A própria casa e suas adjacências constituem uma paisagem belíssima, assim como a cidade de Chicago em si, mostrada pelos olhos do personagem arquiteto Alex. Ponto para a fotografia!

No campo das atuações, encontramos o casal protagonista numa sintonia adequada, ainda que contracenem juntos poucas vezes durante o longa. Sandra Bullock já foi tida como mediana, mas vem cada vez mais sabendo escolher trabalhos que a possibilitem mostrar seu talento, como "A Casa do Lago". Já Keanu Reeves parece estar fadado a sempre dividir opiniões. Diversos críticos classificam suas atuações como mecânicas e sempre iguais, mas nesse filme em especial o ator parece fazer exatamente o que o personagem exige – que, convenhamos, não é um show de interpretação e sim uma interpretação mais amena de um cara comum.

A trilha sonora fecha com chave de ouro os "acertos" do filme, destacando-se a belíssima canção de Paul McCartney, "This Never Happened Before" e "It's Too Late", de Carole King. As melodias parecem se encaixar perfeitamente com as situações, até mesmo para os espectadores que não entendem a letra (que, por sua vez, também tem tudo a ver com a história).

Enfim, engana-se quem pensa que "A Casa do Lago" é apenas mais um festival de clichês. Com uma boa história e uma mão firme a conduzindo, o longa se torna uma boa pedida a ser conferida.

Amanda Pontes
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