Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 15 de outubro de 2006

Deu a Louca na Chapeuzinho

"Deu a Louca na Chapeuzinho" chega como mais um exemplar das animações inteligentes e acaba agradando tanto o público infantil, quanto os adultos que têm o privilégio de captar as piadas mais sutis.

Há tempos os filmes de animação deixaram de ser destinados exclusivamente a crianças. Aquelas histórias inocentes e pueris que costumávamos ver quando assistíamos a algum desses filmes foram gradativamente substituídas por roteiros cheios de referências e piadas capazes de divertir até o adulto mais mal humorado. Os personagens já não são aqueles seres doces e meigos, como o veado protagonista de Bambi, ou princesas sonhadoras como em "A Bela e a Fera". Agora, o que vemos são ogros politicamente incorretos, animaizinhos trapaceiros, princesas nada encantadas e, porque não, uma Chapeuzinho Vermelho em nova versão, com uma vovó viciada em esportes radicais, um lobo jornalista e um lenhador que sonha em ser ator. Diante dessas adaptações, as animações só têm melhorado e cativado um público bem mais amplo do que o infantil. Aliás, muitas vezes, as crianças são as que menos se divertem com as historinhas, pois não conseguem captar as melhores piadas e tiradas dos personagens.

Quem vê a premissa de "Deu a Louca na Chapeuzinho" pode pensar que a história da garotinha de capuz escarlate já foi explorada ao seu limite ao longo de sua existência. Porém engana-se quem pensa que a trama não tem material para ser revisitada. A história aqui é mantida com sua essência original, mas uma nova ótica é adicionada ao roteiro. Chapeuzinho Vermelho vai pela floresta entregar doces para sua avó. Ao chegar na casa da velhinha, o lobo, fantasiado de avó, tenta enganá-la. A verdadeira senhora, então, sai do armário amarrada enquanto um lenhador enlouquecido entra berrando pela janela. Isso tudo é apenas a cena inicial, que gera o restante da trama, já que a polícia ouve as diferentes versões dos envolvidos para o acontecido.

Da história original da Chapeuzinho Vermelho restam poucos elementos, mas todas as adaptações foram bastante bem sucedidas. As piadas estão sintonizadas com um humor ideal: nem tão inocente, ao ponto de duvidar da inteligência do espectador, nem apelativo, de modo a se tornar de mau gosto. O roteiro se mostra bem desenvolvido e dinâmico, sem deixar o público cansado, ainda que a história se repita de diferentes pontos de vista dos personagens. O importante é que, dentro de todas as modificações feitas, a trama consegue se manter interessante e cativante.

O aspecto técnico do filme não traz muita coisa em termos de inovação, até porque, diante de produções que prezam cada vez mais pela qualidade em computação gráfica, fica difícil trazer algo realmente impressionante. Nesse quesito, "Deu a Louca na Chapeuzinho" mostra-se apenas razoável, mas isso não é algo que comprometa a qualidade do filme, principalmente para as crianças que estão mais preocupadas se dão boas risadas com a história, como as proporcionadas pelo personagem Ligeirinho ou o bode que só consegue falar por meio de música.

A trilha sonora é bastante agradável, inclusive nas cenas em que o filme faz uma espécie de sátira com musicais, em que os personagens entoam canções durante seus atos. Apesar de não ser a parte mais engraçada da produção, essas cenas constituem a constante atmosfera de humor sutil que permeia o longa.

Outro ponto que deve ser ressaltado é a questão da dublagem da animação. É certo que os filmes em geral perdem muito quando são dublados, mas as animações constituem uma exceção. Muitas vezes, a dublagem em nosso idioma original deixa algumas piadas mais acessíveis e algumas passagens, inclusive, mais engraçadas. Dessa forma, o fato de "Deu a Louca na Chapeuzinho" chegar aqui massivamente em cópias dubladas não significa um aspecto negativo.

Enfim, o filme acaba agradando tanto as crianças ávidas por diversão, quanto os pais que as levam à sala de cinema. Tudo o que se espera de um filme como esse. Com falhas relevantes, "Deu a Louca na Chapeuzinho" acaba sendo uma ótima pedida em termos de diversão.

Amanda Pontes
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