Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 24 de setembro de 2006

Asterix e os Vikings

"Asterix e Os Vikings" é uma animação tradicional sem grandes atrativos e não deve agradar nem os antigos fãs do personagem. Com uma ou outra tirada interessante, deve agradar mesmo apenas às crianças menores, que não se importam em ver um filme sem nenhuma sombra de criatividade.

Existem filmes que chegam apenas para fazer número às salas de cinemas. No caso de "Asterix e Os Vikings", há de se dizer que é apenas mais um filme que chega para a criançada ter o que fazer, já que, ultimamente, são raros os exemplos de filmes que chegam com censura Livre. Agora fica-lhes uma questão: será que o tão antigo Asterix, o gaulês, ainda possui seu fiel público alvo? É, creio que a resposta é suficiente para ver o quão descartável e desnecessária é a produção.

Asterix e Obelix recebem a missão de tornar Calhambix, o filho de Oceanonix, em um verdadeiro guerreiro. Oceanonix é irmão de Abracurcix, chefe da aldeia gaulesa, e motivo de orgulho para o irmão. Calhambix é um jovem que não se interessa por guerras e trabalhos braçais, preferindo dançar músicas modernas e conquistar garotas. Isto faz com que ele não goste nem um pouco do treinamento dado por Asterix e Obelix, que inclui caçar javalis e carregar menires. Enquanto isso, em uma aldeia liderada por Grossebaf, os vikings estranham o fato de que sempre que tentam conquistar alguma outra aldeia ela está totalmente deserta. Surge a teoria de que o medo os faz voar, o que faz com que os vikings partam em viagem para encontrar o "campeão do medo", aquele que os ensinaria a também voar. Contra a vontade de Grossebaf, também viaja Abba, sua filha, que deseja maior autonomia em sua vida. A viagem os leva perto da aldeia gaulesa, onde Calhambix logo se torna candidato para ser o "campeão do medo", o que faz com que seja seqüestrado pelos vikings.

Antes de tudo, é bom lembrar que sequer os mais velhos que um dia foram fãs do desenho do Asterix irão se satisfazer, pois nessa nova produção, Asterix e Obelix não passam de meros coadjuvantes. Isso mesmo, coadjuvantes. Toda a história gira mesmo é em torno do chato do Calhambix, enquanto a dupla do título não passa de um encosto para o novo mocinho e para forçar algumas cenas de batalha. E Calhambix é um típico personagem que não tem carisma nenhum e – salvo alguns momentos envolvendo seu "pombo-correio" -, sem graça e que chega a se tornar irritante em certo ponto da animação.

A história é demasiadamente bobinha, e é perceptível uma certa tentativa de "modernização" do clima medieval, começando pelo fato de as atenções se voltarem a um jovem playboy. O que chega a ser uma pena, pois muitos detalhes poderiam ser melhores explorados e muitas piadas chegam a ficar soltas no ar, cuja maioria envolve o sempre ótimo Obelix. Nada de novo, a não ser muita enrolação durante os curtos – mas que parecem longos – 78 minutos. Ah, claro, muitas criancinhas inocentes não vão achar mal nenhum em ver mais umas historinhas que envolvam lições sobre voar, as importâncias do medo e da coragem em nossas vidas, além de darem uns risinhos gratuitos em alguns momentos, mas o resultado final fica por isso. Sequer dos tradicionais estereótipos dos filmes de animação "Asterix e Os Vikings" escapa: estão lá presentes o personagem bonzinho que é frouxo como uma geléia, o vilão fortão e burro feito uma porta, a mocinha que quer ser aventureira contra a vontade do pai, etc.

Os momentos de ápice do filme acabam sendo mesmo quando Asterix e Obelix estão em cena e fazendo o que os consagrou: quebrando todos que aparecem em seus caminhos – mais cômicos ainda quando isso acontece de maneira inconseqüente, como quando Obelix apenas andando destrói uma cabana com uma habitante dentro – e através das gags envolvendo a ingenuidade de Obelix, mostrando sua infinita vontade de comer javalis, levantar pedras gigantes, etc. No mais, muitas tentativas de piadas são falhas, como um certo diálogo entre a dupla envolvendo pêlos nos peitos, e outras vindas de Calhambix e Abba, que sempre deixam o clima mais chato quando estão em cena. Ah, aproveitando a ingenuidade de Obelix, bom citar que o filme também não dispensou aquele sentimentalismo , que em filmes como "Toy Story" ou "A Era do Gelo" acaba sendo muito bem abordado -, mas aqui parece ter sido apenas encaixado no roteiro para ocupar tempo. Sinceramente, não me convenceu nem um pouco aquela tristeza de Obelix por ele achar que fora abandonado por Calhambix, talvez por esse último ser muito chato.

Pelo menos, tecnicamente, o filme está correto. Mesmo não sendo em animação 3D, o filme está graficamente admirável, com belos traços e movimentos dos personagens. Detalhe que uma equipe de 20 animadores brasileiros, da Academia de Animação e Artes Digitais, fez parte da equipe de criação. O trabalho desta equipe foi na intervalação e no clean-up, ou seja, no refino dos desenhos que dão forma aos personagens.

Já que a produção se trata de um personagem fora de moda entre as crianças atuais, a solução encontrada pelo mercado foi utilizar os humoristas do programa Pânico na TV para fazerem as vozes na versão dublada e insistir nessa vertente para vender o filme. Bom, indo por partes: Rodrigo Scarpa (o Repórter Vesgo) está surpreendentemente sensacional como Asterix. Se não soubesse que era ele, jamais imaginaria que era aquele ser de voz irritante quem fazia a voz rouca e grave do gaulês. O mesmo acontece com a dublagem de Wellington Muniz (o Ceará) como Obelix, que deu o ar de bobão exato ao personagem, fazendo uma voz bem diferente da que estamos acostumados com suas imitações do Sílvio Santos ou do Clodovil. O bom desempenho da dupla mostra que realmente eles têm vocação para dublagem, e podem exercer o trabalho com eficácia em outras produções. Já Carlos Alberto (o Mendigo) como Calhambix e Sabrina Sato como Abba estão demasiadamente irritantes, principalmente ela, com aquele sotaque capenga que chega até a distorcer a eficiência de sua personagem. Como depois de "A Terra Encantada de Gaya" ainda tiveram coragem de chamar Sabrina para fazer uma dublagem?

De forma alguma é preconceito com animações tradicionais – tanto que, para mim, depois de "Carros", a melhor animação do ano até agora foi "George – O Curioso" -, mas "Asterix e Os Vikings" é um filme que definitivamente só chega para fazer número aos cinemas, e fazer alguns pais levarem os filhos. Ainda consegue ser mais eficiente do que os filmes com atores reais do personagem, porque, pelo menos, o senso de ridículo fica de lado, prevalecendo mesmo o fantasioso. Para as crianças, pode ser uma opção razoável por ser um filme simpático e inocente, mas se você for maior de oito anos de idade e procura uma animação diferente, melhor economizar seu precioso dinheiro.

Thiago Sampaio
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