Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 23 de setembro de 2006

Diabo Veste Prada, O

Retratando o teoricamente glamouroso mundo da moda de maneira crítica e, ao mesmo tempo, cômica, "O Diabo Veste Prada" se torna uma boa pedida para quem gosta do bom humor ácido. Dentro da proposta de se fazer uma comédia despretensiosa, o filme transforma-se em uma boa opção em matéria de diversão.

O universo da moda sempre gerou e, ao que tudo indica, continuará gerando uma atmosfera de curiosidade para os que o vêem de fora. São muitos os clichês sobre os profissionais envolvidos no universo fashion, que ditam moda e tendências, mas, na verdade, o que acaba acontecendo é apenas uma explicitação – às vezes um tanto exagerada… ou não – do que realmente acontece. Dessa forma, esse é um tópico que gera bastante material a ser explorado, seja em uma obra literária ou em uma produção cinematográfica. "O Diabo Veste Prada" deu origem aos dois tipos de desenvolvimento. Primeiramente, surgiu o livro, escrito por Lauren Weisberger, que retratou de forma escrita sua real experiência como assistente de uma das mulheres mais poderosas do mundo da moda, Anna Wintour, editora da revista Vogue. Agora, pelas mãos do diretor David Frankel, que até então só havia se sobressaído em produções para a TV, a obra literária é adaptada para as telonas, trazendo uma história recheada de sátiras, críticas e, principalmente, humor.

Para evitar atritos com personalidades reais retratadas no livro, a história foi levemente modificada. Anna Wintour, a toda poderosa e temida editora da Vogue, uma das mais famosas (possivelmente a mais) publicações sobre moda do mundo, transformou-se em Miranda Priestly, igualmente megera, mas um tanto distante da figura real. A essência da trama, no entanto, permanece a mesma. Andrea Sachs, uma jovem interessada em seguir a carreira jornalística, consegue um emprego como assistente de Miranda que pode lhe abrir inúmeras portas. O que Andrea não esperava, no entanto, é que o trabalho se tornasse tão difícil e que esse novo universo fosse acabar lhe consumindo de uma maneira doentia.

O filme em si apresenta muitos pontos fortes. O elenco, o roteiro, toda a caracterização e até mesmo a inserção de personalidades reais da moda são aspectos extremamente bem sincronizados e coordenados. Vale ressaltar que este não é um filme que pretende mudar a vida do espectador ou muito menos causar algum impacto na sociedade ao mostrar de forma irônica os bastidores dessa realidade. "O Diabo Veste Prada" é uma produção puramente destinada a diversão e justamente por causa desse enquadramento que não deve ser levada demasiadamente a sério.

O elenco se mostra, por assim dizer, bastante competente. Anne Hathaway, cuja referência mais relevante seria o papel de protagonista de "O Diário da Princesa" e um trabalho de coadjuvante no premiado "O Segredo de Brokeback Mountain", vive aqui a jovem Andrea, imprimindo ao personagem toda a áurea de quem não sabe exatamente no que está se metendo, mas que tenta ao máximo fazer as coisas darem certo. Meryl Streep, por sua vez, é um episódio à parte ao dar vida à Miranda Priestly. Sempre dando um show, a atriz mostra mais uma vez que faz jus às suas 13 indicações – sendo duas vitórias – ao Oscar. E mais: Meryl prova também toda a sua versatilidade, demonstrando mais uma vez poder fazer um bom trabalho em papéis cômicos assim como o faz em papéis dramáticos. Os atores coadjuvantes estão todos bem, com destaque para Emily Blunt, a afetada funcionária de Miranda. Até Gisele Bündchen, com seu notável sotaque e habilidades cênicas visivelmente escassas, consegue se sair bem.

A caracterização dos personagens em geral também se torna um ponto digno de comentários. Exibindo modelos assinados pelos mais aclamados estilistas do mundo, é construída toda uma atmosfera de glamour, própria do universo retratado. A produção, como até os leigos no assunto poderão perceber, foi extremamente cuidadosa em sua pesquisa para construir esse ponto. Uma pesquisa detalhada foi visivelmente realizada, não apenas no aspecto visual, mas também no diálogo em que artistas reais são citados. A trilha sonora não é algo extraordinário, mas está bastante adequada, misturando músicas atuais com sucessos do passado.

Apesar de tudo, para poder apreciar a produção, como já foi dito, é preciso principalmente não levá-la muito a sério. Dessa forma, "O Diabo Veste Prada" se torna uma das melhores pedidas em termos de comédia atualmente.

Amanda Pontes
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