Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 16 de setembro de 2006

Dois é Bom, Três é Demais

Sem inovar ou pelo menos servir como um bom passatempo para os admiradores do gênero pastelão, "Dois é Bom, Três é Demais" não consegue fazer o mínimo que toda comédia mediana faz: rir. Uma opção na qual, certamente, eu não investiria nem dinheiro nem paciência.

Girando em torno de três personagens principais, a trama se baseia em uma premissa até interessante: Carl (Matt Dillon) é um workaholic que acaba de casar-se com Molly (Kate Hudson), filha de seu chefe, papel de Michael Douglas (!). Vivendo uma vida feliz de casados, Carl é obrigado a acolher seu padrinho de casamento e melhor amigo Dupree (Owen Wilson) em sua casa, já que este conseguiu atingir o fundo do poço e não tinha mais onde viver. Como todo bom amigo faria (ou não?), Dupree é acolhido junto com suas manias e desorganização, passando a infernizar a vida do casal, destruindo isso ou aquilo ou sendo pego com a mão na… massa! A partir daí, começa um verdadeiro jogo de interação negativa entre seus personagens, que precisam lidar com as diferenças de suas vidas pessoais antes que eles acabem se matando. Um enredo nada novo, mas interessante, certo? Hum, não estaria tão certo disso!

O mercado está saturado de lixo, principalmente de comediazinhas sem propósito. As pessoas precisam de piadas novas e bem contadas para rir e não sair da sala frustrado. Senso de humor está sendo cada vez mais difícil de ser controlado e as películas tentam ao máximo contornar os clichês para que consigam se diferenciar no meio de tantas. Fazer comédia realmente é arriscado, justamente por conseguir seus objetivos sem imbecilizar a inteligência de seus espectadores. Não, isso não acontece no roteiro do novato Mike LeSieur. Talvez pudéssemos culpar a falta de experiência do roteirista em fazer uma história nada envolvente e passível de ser ridicularizada, mas não é por completo. É possível perceber uma série de fatores que contribuíram para o fracasso de "Dois é Bom, Três é Demais" e o roteiro pode ser o principal culpado, não o único. LeSieur constrói uma narrativa morna e amadora, perdendo muitas oportunidades de brincar com as situações e causar o riso, coisa que, particularmente, não me causou. Inclusive eu me questionei se eu estaria de mau humor naquele dia, mas cheguei à conclusão de que o filme que não estava conseguindo me atingir de forma engraçada. Irregular e cheia de histórias paralelas que não funcionam nem convencem, a trama acaba sendo cansativa e frustrante para quem estava na sala procurando uma diversão despreocupada e boas risadas.

O principal ponto no qual o roteiro errou foi em fazer de seus personagens muito passíveis e com reações esperadas no decorrer da trama. Nada realmente soa como novidade e podemos perceber uma série de acontecimentos que vão se encaixando de forma forçada e superficial, e o elenco acaba tendo sua parcela de culpa. Não que eles sejam ruins, pelo contrário. Kate Hudson é uma atriz que tem capacidade de começar a ascender na indústria cinematográfica, a partir do momento que passe a investir em filmes mais sérios e mostre sua versatilidade. Matt Dillon é pouco vulnerável em seus papéis, mas mesmo assim tem presença em cena e podia muito bem ter dado um upgrade na história, assim como Owen Wilson, mestre no gênero de comédia que já nos proporcionou tudo isso em outras produções. O problema é que nada disso acontece. Hudson e Dillon não parecem em momento algum conseguir convencer o público do amor que sentem, e a falta de sintonia e encaixe de ambos compromete o longa. Wilson parece estar fora de forma e não consegue acertar em quase nenhuma piada que o roteiro o permite fazer. É mesmo verdade que o roteiro não tem lá tanta inteligência na hora de fazer gracinhas, limitando o que Wilson é capaz de fazer. Sem falar que Michael Douglas, talvez a melhor atuação do filme, aparece pouquíssimas vezes e poderia muito bem ser dispensado da trama, mas felizmente não foi, fazendo com que o público perceba que ele consegue fazer comédia, mesmo que "nas coxas". Em alguns momentos, eu me perguntei também o motivo que Douglas teria aceitado o papel, mas prefiro não ter uma resposta para não sujar o atraente histórico que ele tem.

Os diretores e irmãos Anthony e Joe Russo também não conseguem manter um ritmo agradável ao fraco enredo que tinham em mãos, empurrando com a barriga e irritando aqueles que não conseguiram ter carisma pela produção. Cento e oito minutos arrastados que parecem uma eternidade, onde vertentes no enredo poderiam ser poupadas e a redução do tempo de algumas cenas poderia ter sido feito, cabendo para os irmãos apenas o trivial ao se dirigir uma comédia. Sem investir muito nos planos, fazem apenas o que qualquer um faria. Estranha foi a trilha sonora que procuraram enquadrar no filme. Realmente só tentaram, porque a despreocupação foi tanta que parece que foi escolhida por sorteio as músicas que assinariam a produção. Mais irritante do que as musiquinhas 'a la besteiróis', foi o instrumental que aparecia de repente e não tinha harmonia com o que estava sendo visto na telona. Talvez a única coisa boa (não para mim, que não sou muito fã) seja ouvir um pouquinho de Coldplay nos minutos finais da trama, como tentativa de ilustrar o desfecho irritante e típico que somos obrigados a engolir.

Descartável e nada cômico, "Dois é Bom, Três é Demais" é mais um exemplo de como se investe em filmes com tendência a serem verdadeiros fracassos. Sem nenhum ingrediente novo, a não ser a pouca cumplicidade do elenco, é também uma prova de como as comédias hollywoodianas estão perdendo cada vez mais sua originalidade e jogo de cintura, fazendo com que pouquíssimos amantes do gênero consigam se divertir com os cento e poucos minutos de duração que, para outros, não passam de uma inesperada tortura.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

Compartilhe

Saiba mais sobre