Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 09 de setembro de 2006

Serpentes a Bordo

O que esperar de um filme chamado "Serpentes a Bordo"? Que ele seja tão ruim ao ponto de o espectador querer sair correndo do cinema e pedir seu dinheiro de volta? Pois é exatamente isso que este longa faz.

Este é mais um daqueles filmes de avião, no qual personagens pouco desenvolvidos enfrentam algum perigo mortal (leia-se cobras), e que ainda assim encontram tempo para fazer piadas de cunho sexual, mesmo estando à beira da morte. Não bastando tanto clichê, também somos apresentados aquela velha cena em que algum passageiro se irrita e levanta uma arma contra seus companheiros em vez de combater o problema. Além disso, mais uma vez o piloto desaparece e alguém que não sabe pilotar acaba por pousar o avião. A única novidade mesmo fica por conta das libidinosas serpentes que gostam de atacar os órgãos genitais de suas vítimas.

A história tem início no Havaí, quando o surfista Sam Jones (Nathan Phillips) presencia o assassinato de um promotor de Los Angeles por Eddie Kim, um perigoso bandido que gosta de matar cruelmente as testemunhas de seus crimes. Para salvá-lo, eis que surge misteriosamente o agente do FBI, Neville Flynn (Samuel L. Jackson), cuja missão é proteger o jovem Sam, e escoltá-lo em seu vôo até Los Angeles. É nesse momento que entram em ação as grandes protagonistas desse filme: as serpentes. Os animais são colocados no compartimento de carga do veículo (em tempos de tantos atentados envolvendo aviões, fica difícil de acreditar que as cobras não seriam descobertas pelos órgãos aéreos competentes) e soltos em um determinado momento através de dispositivos eletrônicos. A partir daí, o longa assume seu caráter trash, quando podemos ver uma série de ataques bizarros aos passageiros do avião, sendo este o único momento "divertido" do "filme".

Infelizmente, em seu terceiro ato, a obra passa a se levar a sério demais, tornando-se extremamente cansativa e entediante. É neste momento que os passageiros começam a ter idéias de como se livrar dos animais. Para isso utilizam uma variedade incrível de armas, que vão desde aqueles equipamentos que dão choque, até um mini lança-chamas. Ao assumir as tradicionais características do gênero de ação, a direção de David R. Ellis ("Celular – Um Grito de Socorro") perde-se em sua proposta inicial: a de ser um filme tão absurdo ao ponto de ser divertido.

O único ponto forte do longa fica por conta do visual das cobras, feitas totalmente por computação gráfica. Além disso, podemos ver uma grande diversidade desses répteis, já que são mostradas cerca de 20 espécies diferentes: najas, pítons, cascaveis, mambas-negra e até mesmo uma sucuri gigante. Quanto ao elenco, repleto de rostos conhecidos de seriados e filmes, mostra-se regular durante toda a projeção, já que o roteiro não exige muito ou até mesmo nada de seus atores. O mais espantoso é ver alguém talentoso como Samuel L. Jackson, que ultimamente parece pegar qualquer papel, estrelando este filme. Ao final, podemos conferir o divertido clip da música "Snakes on a Plane (Bring It)”, que acaba por ser mais interessante do que o próprio longa. Por falar nisso, o filme foi bastante divulgado, o que acabou gerando, até certo ponto, boas expectativas, já que freqüentemente eram lançadas notícias de produção, contando também com nada menos do que 8 pôsteres de divulgação bastante criativos.

Pergunto-me como uma produtora aceita gastar milhões de dólares em um projeto como este, totalmente dispensável. Em alguns casos, porém, existem filmes que de tão ruins, mas tão ruins, acabam se tornando bons, nos levando a dar boas gargalhadas. Este, infelizmente não é o caso de "Serpentes a Bordo", cujo principal problema é justamente se levar a sério demais em alguns momentos, em vez de investir totalmente no humor negro, que deveria ser a premissa original da obra. Portanto, se você não está a fim de ver um "filme de avião" quase trash e quase de ação, passe bem longe deste "Serpentes a Bordo".

Diego Coelho
@

Compartilhe

Saiba mais sobre