Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 09 de setembro de 2006

Serpentes a Bordo

Apesar de ser um filme que já pelo título notamos ser carregado de besteiras, "Serpentes a Bordo" teve um bom trabalho de marketing. Antes de ter sua estréia, até os que juravam não ir assisti-lo acabaram sendo seduzidos pelas divulgações do filme. Eu fui um deles. Agora, se ele é bom, são outros quinhentos.

Sério, o que você procura mais ao ir à uma sala de cinema assistir a um filme hollywoodiano que não tem a mínima pretensão de chegar ao Oscar ou ter que agradar um específico grupo de fãs? Eu espero diversão. Se o filme tem a proposta de fazer rir, que me faça rir, se tem a de fazer suspense, que me faça, e se é um romance, que me emocione. Pois bem, "Serpentes a Bordo" é mais ou menos isso aí. Dentro de suas propostas, ele se sai bem, mas não são todos que vão gostar, pois o filme é um thriller bem trash que faz mais rir do que prender atenção do espectador. Se a proposta dele foi fazer rir, fez, agora, se foi segurar o espectador na frente da tela, nem tanto.

O foco inicial do filme é despejado em Sean Jones (Nathan Phillips, de "Wolf Creek – Viagem ao Inferno"), até que ele testemunha um assassinato de um importante promotor e tem que ser levado em paz para Los Angeles, onde deporá contra o assassino Eddie Kim (Byron Lawson). Com a finalidade de escoltar sua ida até a cidade, entram em cena os agentes do FBI Nelville Flynn (Samuel L. Jackson, de "A Cor de Um Crime") e seu parceiro. Mesmo os dois sendo plenamente treinados para incidentes em vôos, não esperam um: serpentes no avião. Depois de perder o parceiro no ataque inicial dos répteis, entra a astúcia do agente Flynn e a vontade dos passageiros de chegarem com vida em Los Angeles.

Foi filme de avião, é sempre daquele jeito. Um começo fora do avião para apresentar o personagem principal, depois passa para o saguão do aeroporto, onde mais alguns personagens são apresentados, sempre mostrando o piloto, co-piloto e as aeromoças, bem como o fato de que um deles vai parar de atuar na área em breve. Depois disso, passa-se à pré-decolagem e os rotineiros problemas de pessoas não conseguindo achar sua cadeira ou onde pôr a bagagem, e, nisso, mais outros personagens são apresentados. São sempre esses os elementos iniciais de um filme de avião, caso esse não seja inovador. Eu sempre espero inovações no transcorrer do filme, e esse com a temática de colocar cobras em um local que as pessoas não têm para onde fugir até que tinha chances, mas acabou na velha mesmice da morte do piloto, depois do co-piloto e, depois de ter resolvido o problema, os que estão no vôo têm que descobrir alguém que saiba pousar a nave.

Como todos os elementos de filmes com aviõezinhos foram usados, restava saber se utilizariam corretamente os protagonistas. Não, não estou falando dos atores, mas, sim, das temidas cobras. Quando elas foram surgindo, roubaram a cena. Era um show de ataque e cada um mais criativo do que o outro. Até uma cena de relação sexual que parecia inútil foi um bom alvo de um inovador ataque. Porém as primeiras cobras tinham um estilo, digamos, tarado de ser. Primeiro ataca um casal transando no banheiro, depois outra entra por debaixo da saia de uma senhora e não posso falar o que acontece por causa do horário. Quando pensávamos que as cobras tinham acabado seu apetite sexual, uma ataca o órgão genital de um homem que estava a fazer suas necessidades no banheiro. As cenas causam muito riso, mas exageraram no apetite sexual das cobrinhas. Após essas cenas engraçadas, viria um festival de ataca, foge, ataca, foge e fica nisso mesmo. O mocinho encontra um jeito de segurar a ameaça e só mais outras pequeninas surgem, até que chegue a hora de pousar o avião. Tudo muito simples e, diga-se de passagem, atingindo os objetivos a que o filme se propunha.

Sobre as atuações é interessante notar que quem parecia que ia ser mais utilizado ao decorrer do filme, no caso a testemunha que estava sendo escoltada, passa um bom tempo longe do destaque. Dessa forma, o real protagonista rouba a cena, no caso o personagem de Samuel L. Jackson. Como muitos dizem, e eu também acho, ele tem uma presença boa de cena, agrada a muitos, mas é geralmente aquela mesma coisa. Nesse, com algumas tiradas sérias, ele causou mais risos do que tensão. O resto do elenco faz o trivial. Grita quando tem que gritar, luta quando tem que lutar e morre quando tem que morrer. Simplesmente assim!

Muitos com certeza vão curtir "Serpentes a Bordo", mas é o tipo de filme que, ao sair, você nem sente vontade de fazer a propaganda dele. Só vai lembrar de dizer que assistiu se alguém perguntar. Resumindo: é um filme inútil. É tão inútil que uma música besta acompanhada de um videoclipe no final consegue animar mais do que muitas coisas da trama.

O interessante é que não fomos somente nós que nos sentimos atraídos pelo filme já pelo título, mas Samuel L. Jackson declarou que aceitou fazer esse trabalho devido a esse título, e, quando os responsáveis quiseram mudá-lo, ele refutou essa idéia, fazendo com o que título original fosse mantido. Além do mais, convenhamos, ele aceita cada trabalho meia boca que vou te contar, viu! Isso que é gostar de trabalhar.

Raphael PH Santos
@phsantos

Compartilhe

Saiba mais sobre