Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 03 de setembro de 2006

Casa Monstro, A

Dirigido pelo estreante Gil Kenan, mas produzido por ases da tecnologia cinematográfica como Steven Spielberg ("Guerra dos Mundos") e Robert Zemeckis (responsável por dois "De Volta Para o Futuro" e "O Expresso Polar"), o filme "A Casa Monstro" chama bastante atenção e, de certo ponto de vista, consegue atingir algumas expectativas.

Não é a primeira vez que Zemeckis e Spielberg estão juntos na produção técnica de um filme. Também não é a primeira vez que os dois inovam em um determinado gênero. Juntos, em "De Volta Para o Futuro", foram responsáveis por assessorar brilhantemente bem um filme que marcou sua época. Não é diferente com "A Casa Monstro". Tudo bem, nada de marcar época, mas o filme é um verdadeiro antes e depois para a tecnologia de animar para o cinema chamada live-action (que vou explicar melhor posteriormente).

Em "A Casa Monstro", como o título deixa bem claro, dois colegas, DJ Waters e seu companheiro de apelido Bocão, descobrem mistérios sombrios sobre uma casa que, simplesmente, parece estar viva. A residência é de propriedade do Senhor Epaminondas, um velho rabugento que ama sua casa, bem como os quadrantes que a cercam, sendo assim bastante rude com todos que ousam pisar ou deixar cair algo em qualquer parte do lote, principalmente o gramado frontal. Depois que o senhor sofre um infarto, a casa fica sem sua devida "proteção", mas ela se mostra, como antes só parecia, viva. Persegue todos que acometem seus arredores, engole criancinhas, bêbados e até policiais. Para que o problema não se alastre, a dupla de amigos DJ e Bocão se junta com a inteligente menininha Jenny, que fora salva pelos dois quando a casa ia devorando-a. O melhor é que isso acontece em pleno Halloween.

Com uma trama simples, fica bem claro que o principal do filme não vai ser roteiro e nem personagens, mas a tecnologia que é nele empregada. Realidade é o ponto chave dessa tecnologia. Steven Spielberg e Robert Zemeckis resolveram abordar uma nova maneira de trabalhar o estilo live-action de se fazer animação. Live-action é quando se captam movimentos de um ator real, transforma-os em animação computadorizada e joga para a película, como foi feito em "O Expresso Polar", que tem a direção do Zemeckis. Dessa vez, não foi só esse processo. Os movimentos captados eram mais os emocionais (as "caras e bocas"), depois trabalhados por mão de animadores genuínos e, finalmente, dando vida aos personagens que vemos. Tudo ficou tão real, tão límpido, que eu não sei se um dia vão precisar mais de atores para estrelar um filme.

Outro fator a ser mencionado é que como o importante dessa nova maneira de trabalhar o live-action é o emocional, a modelagem dos personagens não segue os mesmos padrões da aparência do ator que está sendo submetido a vários fios presos ao seu corpo. Para se ter idéia, o ator Steve Buscemi (de "A Herança de Mr. Deeds" e de alguns outros filmes do Adam Sandler,) que emprestou seus movimentos ao Sr. Epaminondas (no inglês, o nome dele fica Nebbercracker), não se parece muito com o personagem, ou melhor, nem lembra. Agora, se você conhece os trejeitos do ator, com certeza irá notá-los na animação. Interessante, pois se fosse para ficar idêntico, tanto em atuação quanto em aparência, que fizessem logo com atores em carne e osso.

Um dos fatores que deixa a animação meio chata é que os personagens não criam um vínculo de carisma com os espectadores. E pior, os personagens mais engraçados poderiam ser mais bem utilizados ou ter mais tempo em destaque. A dupla de policiais, toda vez que entre em cen,a é risada garantida. O personagem Skull também é outro que distribui boas risadas com seu jeitão rockeiro-bebum-surfista (!). O negócio não é nem o jeito dele, mas as coisas que ele fala, sendo assim a sua dublagem um ponto chave para o sucesso do personagem, porém esse não dura muita tempo, ou quase não dura, em destaque. Ele some e só vai aparecer lá pelo final, felizmente, causando mais algumas gargalhadas. Vale notar que o personagem Bocão, não sei dizer se por acaso, lembra um momento do filme "Os Goonies". Não pelo personagem Bocão dos "Goonies", mas quando o glorioso personagem Slot do filme clama por um chocolate. Enfim, só um detalhezinho simples que nem sei se foi algo intencional.

Como o filme é quase impecável na parte técnica, muitos fatores acabam passando batido e nem fazem peso para a nota final do longa. Mas vale ressaltar que ele, em muitos momentos chega a ser bestinha. Não digo desagradável, mas bem bestinha. Talvez se o roteiro fosse melhor trabalhado, o filme poderia ter mais sucesso, pois, técnica por técnica, ele dá um show à parte. Se você gosta disso, vale a pena com certeza assisti-lo.

Raphael PH Santos
@phsantos

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