Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 12 de agosto de 2006

Click

Com uma proposta, a princípio, até interessante, "Click" se perde no meio do caminho e acaba deixando a desejar.

É difícil analisar um filme que se propõe a um determinado objetivo e tenta ousar, porém que, devido a isso, acaba errando. "Click" é assim. Poderia se deter a ser apenas mais uma comediazinha dessas que chegam todos os dias e agradam ao seu público alvo. Dessa forma, cumpriria sua função tranqüilamente, ainda que o resultado não fosse um exemplo de filme.

A história é gritantemente mirabolante: Michael Newman, um homem extremamente estressado com o trabalho e as complicações do cotidiano, vai atrás de um controle remoto universal para controlar os inúmeros aparelhos eletrônicos de sua casa. Porém encontra Morty, um estranho senhor que o oferece um acessório que é capaz de controlar sua própria vida. A partir daí, Michael tem a chance de adiantar as partes chatas de seu dia a dia, parar as situações em que precisa pensar e consultar informações do passado facilmente apenas ao toque de um botão do estranho controle remoto. Parece perfeito aos olhos de quem observa de fora, mas Michael acaba colhendo os frutos desagradáveis de seus atos. Ele perde partes importantes da sua vida ao querer cortar momentos que julga desnecessários em sua existência e perde ainda mais: as pessoas ao seu redor.

Pois bem, através do resumo já se vê que o filme tem potencial tanto para dar certo quanto errado, basta ver a maneira como foi conduzido. O caso aqui, no entanto, deu mesmo errado. O filme flui bem enquanto comédia nos primeiros momentos, o humor típico de Adam Sandler, que fez escola no clássico programa de TV norte0americano Saturday Night Live (de onde saiu grande parte dos mais famosos comediantes que vemos hoje) pode não ser unanimidade entre o público, mas também não é algo de todo desagradável. Dessa forma, somos apresentados a personagens "engraçadinhos" que vão aos poucos dando o seu tom. Michael Newman, o protagonista, é construído como um homem dedicado à sua família, mas que coloca as obrigações do trabalho em primeiro plano. Kate Beckinsale interpreta sua mulher, num papel menor do que costuma ter em suas produções, mas que facilita por não delegar à atriz grandes responsabilidades.

O que começa a desandar, entretanto, é quando a comédia assumida começa a querer inserir tons de drama em seu desenrolar. Comédia dramática é um gênero muito peculiar e não é competentemente explorado por qualquer um, muito menos quando a referida comédia pode ser classificada como "besteirol", como é o caso de "Click". Realmente não cola a guinada proposta pela trama quando o personagem, ao perceber o mal que tinha causado a si mesmo e aos que amava, entra em uma crise de consciência e se arrepende amargamente pelos seus atos. Não convence e ainda fica estranho para o espectador com o mínimo de bom senso.

O desfecho, então, é outro ponto que deve ser comentado, uma vez que mais previsível não poderia ser. Sequer corro o risco de estragar a "surpresa" para os que ainda não assistiram, pois logo de cara dá para esperar uma coisa como essas. Antes de comentar a devida "surpresa", aviso que, se não quiser saber de nenhum spoiler, não leia o próximo trecho deste parágrafo. Parece-me realmente que quando não se está com criatividade para bolar um final competente, é só lançar mão da jurássica fórmula "tudo era apenas um sonho". "Click", por mais ridículo que pareça, faz exatamente isso, jogando no lixo de vez qualquer possibilidade de que o filme pudesse se salvar no final.

Quanto aos outros quesitos, não se tem subsídios para comentar muita coisa. Adam Sandler está igual a todos os outros papéis que interpretou, mas longe de estar em uma de suas melhores versões. O único ponto destacável do elenco, ao meu ver, é definitivamente Christopher Walken, que apesar de ter um papel pequeno, está visivelmente superior aos demais. Jennifer Coolidge (de "Legalmente Loira") também rouba a cena em suas pouquíssimas aparições (a atriz é muitas vezes mal explorada, tendo em vista possuir enorme potencial cômico).

Para não dizer que nada mais é digno de elogios em "Click", a maquiagem aplicada nos personagens para demonstrar o processo de envelhecimento é notável. A caracterização, principalmente em Adam Sandler, denota um trabalho competente, atenuando o máximo possível a já esperada aparência artificial.

O saldo final, resumidamente, deixa a desejar. Os fãs de Adam Sandler podem até gostar de "Click", mas para quem está apenas procurando uma boa pedida para se divertir no cinema, é melhor escolher outra opção.

Amanda Pontes
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