"Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio" nada mais é do que aquilo que o público alvo espera ao ir às salas de cinema ver um filme do gênero: um festival de carros turbinados, cenas de ação e zero em história. Com um roteiro para lá de superficial, o longa é apenas mais um exemplo do típico cinema "caça-níquel".
Todos já estão cansados de saber como a indústria de Hollywood funciona: se um filme com teor vendável se sai bem nas bilheterias, é certo que outro, mais outro, e mais outro filme da mesma franquia seja lançado – mesmo que não existam elos entre eles – até o ponto em que a mesma já tiver dado tudo o que tinha que dar. Roteiro, direção, qualidade, tudo isso são vertentes que pouco importam, afinal, se existe um fiel público alvo, é certeza de dinheiro nos cofres. Pois bem, no ano de 2001, o filme “Velozes e Furiosos” chega aos cinemas sem grandes pretensões e acaba fazendo um enorme sucesso de bilheteria, além de se tornar uma verdadeira febre entre os adolescentes apaixonados por carros e velocidade, rendendo uma continuação um tanto inferior, porém que não fez feio. Depois do sucesso dos dois filmes e da meia dúzia de genéricos que surgiram, o produtor Neal Moritz (que também trabalha em “Superman – O Retorno”) logo anunciou que um terceiro longa da franquia sairia da garagem, mesmo sem Vin Diesel, Paul Walker e Tyrese, astros que se tornaram referências à franquia. Podem mudar o que for, mas tendo “Velozes e Furiosos” no título e máquinas possantes que quebram qualquer lei da velocidade, é certeza de uma grande leva de adolescentes bitolados em carros ir aos cinemas. E assim, apresento-lhes “Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio”.
Desta vez, a história se foca em Sean Boswell (Lucas Black), um adolescente superficial e infeliz que usa as corridas de rua como válvula de escape. Seu envolvimento irresponsável nas corridas fez com que Sean tivesse problemas com a polícia anteriormente. Após bater com o carro, e como forma de evitar a prisão, Sean é enviado para Tóquio, onde passa a morar com seu pai (Brian Goodman). Em sua nova cidade, Sean fica inteiramente deslocado até conhecer Twinkie (Bow Wow), que lhe apresenta às corridas de drift. O drift é uma mistura de derrapagem e velocidade que corre em circuitos bastante perigosos. Sean logo se empolga com a novidade, o que faz com que se envolva com os corredores locais.
Creio eu que nem preciso dizer que toda a “trama” não passa de pano de fundo para apresentar os verdadeiros astros do filme: os carros. Toda a essência dos filmes anteriores foi mantida, e para quem busca apenas cenas de ação envolvendo velocidade e mulheres semi-nuas, a diversão está mais do que garantida. E logo de início o diretor busca deixar bem explícito que assim será: começa com um passeio com a câmera apresentando o novo protagonista, que logo desafia um valentão da escola para uma corrida, e a bela loira namorada do playboy se oferece por vontade própria como prêmio. Depois disso, o espectador já está mais do que preparado para o que está por vir, e ao aparecimento de cada novo personagem, logo identifica quem será importante ou não para a trama. No caso, à primeira vista, são reconhecidos todos os estereótipos: a garota bonitinha por quem o mocinho se interessa, o vilão mafioso que “por acaso” namora a tal garota bonitinha, o amigo do mocinho que nada mais faz no filme do que servir de apoio para ele, o bandido bonzinho que acaba por se tornar importante para o desenvolvimento do protagonista (papel então de Vin Diesel no primeiro longa), além de inúmeros capangas e mulheres belíssimas (com direito até a uma brasileira) que servem apenas como ilustrações na tela.
O longa poderia muito bem funcionar como um filme fora da franquia “Velozes e Furiosos”, afinal, tirando os tradicionais rachas como tema, nada há fazendo ligação com os longas anteriores (com exceção de um detalhe nos minutos finais da projeção), atenuando mais ainda o fato de que a ânsia pelo lucro sempre esteve acima do bom senso dos produtores hollywoodianos. Dessa vez, nada de mostrar o policial Bryan O’Conner (o chato do Paul Walker) se infiltrando em gangues de corredores, e para criar algo que chamasse a atenção do público, algo diferente tinha que ser feito, e assim resolveram transferir a trama para Japão, focalizando um tipo de racha diferente: o drift, marcado pelas curvas fechadíssimas em que os carros necessitam derrapar.
Se por um lado o roteiro de Chris Morgan (“Celular – Um Grito de Socorro”) não passa de uma desculpa, o público fiel certamente se contentará com a nova modalidade de corrida. Não há como negar que as seqüências de corridas, fortificadas pelas eletrizantes derrapagens, ainda são emocionantes, bem ao gosto dos admiradores de filmes com perseguições de carros. Nesse contexto, “Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio” também prima por apresentar um visual mais underground e com uma cara menor de superprodução do que os filmes anteriores. Os fãs do sensacional game “Need For Speed Underground” facilmente identificarão as semelhanças do jogo com as corridas apresentadas no filme, e isso, definitivamente, é um ponto positivo (ainda que o filme passe longe da adrenalina do game).
Enquanto no segundo filme o diretor John Singleton nada mais fez do que copiar o estilo criado por Rob Cohen no primeiro, o taiwanês Justin Lin (de “Anápolis” e responsável pelo futuro remake hollywoodiano de “Oldboy”) tenta sem sucesso criar uma nova identidade para a série nesse terceiro capítulo. Apoiado nas cenas de corrida, ele até que faz bonito em alguns momentos – como o que mostra em câmera lenta a proximidade da traseira do carro da parede no momento da derrapagem -, mas, na maior parte do tempo, ele apela excessivamente para câmeras não estáticas e edição para lá de ligeiras, deixando o espectador tonto com tantos takes em curtíssimos intervalos de tempo. Pode ser que sua intenção tenha sido jogar o espectador no momento frenético da corrida, porém acaba é tirando do público a noção do que realmente está ocorrendo em determinados momentos. Tanto que uma certa cena de choque entre dois carros consegue ser bem mais emocionante no trailer do que no próprio filme. Outro detalhe merece análise: a trilha sonora. Marcada por muito hip-hop e guitarras pesadas de heavy metal estragadas com vocais toscos orientais, ela definitivamente não agrada. Não só pelas más qualidades da maioria das músicas em si, mas pelas más colocações em determinadas ocasiões. Reparem bem que no momento final a impressão que dá é que o chefão da máfia (vivido pelo nostálgico Sonny Chiba, o Hattori Hanzo de “Kill Bill”) irá sair dançando ao som da música techno.
Quanto ao elenco, não há muito o que comentar, afinal, poucos se importam com esse detalhe nesse tipo de filme, já que os atores não passam de coadjuvantes perante as máquinas. Superficialmente, Lucas Black (“Soldado Anônimo”) se mostrou bastante seguro em seu primeiro papel de protagonista, transmitindo de maneira convincente o ar de superioridade que seu papel exige (notem como ele tem expressões muito parecidas com as de Kiefer Sutherland, o Jack Bauer do seriado “24 Horas”), algo que Paul Walker não conseguiu nos dois primeiros filmes. A novata Nathalie Kelley, que faz o interesse romântico de Black, se mostra um tanto inexpressiva e insegura com sua personagem, talvez pela inexperiência. Brian Tee (“Fomos Heróis”), como o vilão D.K e o jovem Bow Wow (“Pequenos Grandes Astros”) como o amigo de Black, estão apenas corretos e nada mais fazem do que seguir a maneira estratégica com que seus personagens foram desenvolvidos.
“Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio” é um filme que em nenhum momento esconde suas raízes “caça-níqueis” e agrada apenas a quem realmente curte o gênero ação com carros exuberantes. Se mantém no mesmo nível dos dois filmes anteriores, e certamente não irá decepcionar aos fãs da franquia. Agora, se procuram por criatividade e têm pena de gastar o precioso valor do ingresso, sugiro que fiquem em casa e joguem uma partida de “Need For Speed Underground”. Garanto-lhes que a satisfação será bem maior!