Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 12 de agosto de 2006

Click

Mais uma comédia que não acrescenta muito ao circuito atual das salas de projeção, mas que também não passa despercebida, podendo ser apontada principalmente pelos seus erros, deixando os acertos um pouco tímidos.

Adam Sandler é Michael Newman, um arquiteto casado com Donna (Kate Beckinsale) e pai de dois filhos, mas que não tem muito tempo para se dedicar a eles devido à sua incessante aspiração de conseguir uma promoção no escritório onde trabalha. Até conquistá-la, Newman se entrega totalmente aos projetos que caem em suas mãos e passa dias e noites trabalhando neles, até que seu chefe reconheça seu potencial e o gratifique por isso. Quando está em casa, o arquiteto sempre tem uma grande luta com os vários controles-remoto que dispõe, não sabendo qual liga o quê e acaba se estressando e decidindo comprar um controle remoto universal que seja útil em todos os momentos que quiser, seja ligando a televisão ou abrindo a garagem de casa. Então, conhece o esquisitão Morty (Christopher Walken), que o apresenta a um controle que promete revolucionar sua vida, e isso acaba acontecendo. Newman passa a controlar todas as situações com um simples toque, com o controle funcionando com um menu interativo que o permite também a viajar no tempo e pular as partes chatas da vida.

Adam Sandler já causa um efeito visual que leva alguém a não optar por assistir Click. Digo isso porque muitos gostam do rapaz, do mesmo jeito que outros muitos o tratam com indiferença ou como somente mais uma cara em comédias enlatadas. Sandler não é um ator ruim e consegue, sim, apesar de sua voz irritante e mesma expressão em todas as cenas, fazer rir. E só. De filme para filme, o ator parece não fazer o mínimo de esforço para se diferenciar, apresentando pouquíssima (ou quase nenhuma) versatilidade. E assim ele se mantém durante o primeiro bloco da produção, metendo-se em encrencas e mudando sua vida com um simples toque no controle remoto, o que encaixa o filme em mais um besteirol a ser assistido por aqueles que gostam do gênero. O diferencial é que o roteiro do trio Steve Koren, Mark O'Keefe e Tim Herlihy parte de uma premissa fútil e fraquíssima, mas que consegue usar o humor em dosagens certas, fazendo realmente a platéia gargalhar. Contrapondo isto, Sandler só ganha a oportunidade de sair do gênero da metade para o fim da história, quando a trama segue um rumo mais dramático que erra ao perder o nível que o enredo estava tomando, fazendo de apelos dramáticos a última tentativa de dar um upgrade na história, não passando de mais um "the end" forçado e totalmente previsível.

É impressionante que quando o filme finalmente vai engatar, um desfecho dispensável e pouco inteligente faz com que toda a história tenha valido pouco a pena, mesmo tendo passado uma boa mensagem para uns e outros. De qualquer forma, o roteiro peca mais do que acerta e só é digno de aplausos quando o negócio é humor. Quem não riu com a crítica à Britney Spears e ao Michael Jackson? Duas tiradas totalmente hilárias. Sem falar do cachorrinho Sundance e sua obsessão pelo pato de pelúcia, protagonizando cenas de acasalamento aqui e acolá. O roteiro também desagrada ao se repetir muito e parecer não sair do lugar. Até a metade do filme, nada de importante acontece e isso vai cansando. Do mesmo jeito que Sandler começa a não evoluir seu personagem, passando uma insegurança absurda e, creio eu, não proposital. Coisa que infelizmente parece ter passado despercebida pelo diretor Frank Coraci. Aliás, muita coisa pareceu fugir dos olhos de Coraci. Mesmo sabendo trabalhar com os efeitos visuais sutis e causar bons momentos, o uso intenso de planos abertos prejudicou muitas vezes a expressão facial e, conseqüentemente, a atuação do elenco, que não pôde transmitir as sensações necessárias em determinadas cenas. Isso só se ajeita na transição brusca da comédia para a tragédia, quando o protagonista passa a ter sua vida completamente alterada negativamente pelo uso do controle remoto.

É aí que entra a boa maquiagem que os atores receberam para transitar entre épocas. Não que mudanças bruscas ocorram com todos os personagens, mas as alterações visuais acabam por pontuar o andamento da história. Andamento este que acaba sendo exagerado quando o assunto é o lugar onde se situa, acreditando em um futuro robótico e virtual de nossas casas, carros e afins e artificializando algumas atuações. Kate Beckinsale está apenas boa, não deixando a desejar e mostrando capacidade para fugir da saga Anjos da Noite e investir em novos projetos. Apesar do pouco destaque, Jennifer Coolidge dá a Janine momentos bastante engraçados. A atriz já tinha mostrado sua competência ao fazer humor em A Nova Cinderela, interpretando uma "bruxa" moderna e fútil. Outro ponto que não pode passar batido é a trilha sonora. Típica de comédias do gênero, não inova muito, mas acerta ao trazer Linger dos irlandeses Cranberries, deixando a história melosa, mas agradável (pela música, claro).

Mesmo repleto de mais contras do que prós, Click torna-se até uma opção viável para quem quer se divertir e assistir a algo mais longe das super produções que estão em cartaz, porém realmente não acrescenta muito a ninguém e não inova, acabando por mostras em clichês antigos e desagradáveis, o que causa um desnível do seu enredo. Apesar disso, proporciona boas risadas e, para os mais sensíveis, até momentos de emoção beirando às lágrimas, momentos que outros podem ler como forçados e fora de contexto. De qualquer forma e acima de seus (muitos) erros, Click é mediano, mas dá para assistir. Cinco estrelas são justas.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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