Os carros [i]tunados[/i] não são mais novidades no cenário cinematográfico, nem nas ruas de hoje em dia. Restava saber se, no terceiro filme da franquia "Velozes e Furiosos", que utiliza quase dos mesmos elementos dos seus dois antecessores, alguma coisa de nova apareceria.
Quando em 2001 Vin Diesel e Paul Walker protagonizaram o primeiro “Velozes e Furiosos”, fomos apresentados a verdadeiras máquinas de corrida. Nada de Fórmula-1, Ferrari, McLaren ou essas coisas, a moda era transformar um carro aparentemente simples em uma pérola em cima de quatro rodas, onde, além de beleza, a desenvoltura chamasse atenção também. Éramos apresentados ao mundo dos agora famosos carros tunados. A moda não pegou só nas ruas, virou febre nos jogos de computador e de videogame, nos quais você fazia o seu carro, conforme o seu dinheiro, da forma que preferisse, sempre se empenhando com velocidade para conquistar seu espaço entre as primeiras colocações dos rachas de rua. Cinco anos mais tarde, sem Vin Diesel e Paul Walker, com o assunto já bem destrinchado, será que um terceiro filme de “Velozes e Furiosos” chamaria atenção? Sim, amigos, os cinemas continuam a lotarem para essas verdadeiras máquinas serem vistas, agora, se o filme é bom, aí é outra coisa.
Por já ter dois filmes sobre o assunto rachas de rua, era preciso algo diferente que chamasse a atenção do público. No caso, levaram tudo lá para o Japão, mais precisamente na movimentada cidade de Tóquio, onde as corridas de rua acontecem com intensidade. Sean Boswell – interpretado por Lucas Black de “Arquivo X – O Filme” e “Soldado Anônimo” – é um jovem colegial amante da velocidade e dos carros, que se mete em confusão ao longo dos anos. Depois de já ter perambulado por muitas cidades com sua mãe a fim de esconder sua fama de encrenqueiro, chega a vez em que essas mudanças não surtem mais efeito e, antes que vá para a cadeia, é mandado para o Japão para morar com seu pai, militar de carreira, e tentar estudar decentemente.
As primeiras mudanças são bem límpidas. Além de tirar a atenção das corridas nos Estados Unidos, os roteiristas apresentaram uma trama focada em jovens, tanto que o protagonista Sean e seu companheiro Twinkie (Bow Wow) ainda são estudantes. Lógico, essa palavra “estudantes” é bem entre aspas, pois seus olhares estão não voltados para os livros, mas para a adrenalina de pilotar um carro. Outro elemento acrescentado ao filme é que as corridas agora não são simplesmente velocidade. A principal modalidade utilizada é o drift (derrapagem) que não é nenhuma novidade para quem joga ou jogou “Need For Speed Underground”. A modalidade consiste em pilotar em um circuito no qual, por ter muitas curvas, o ajuste do carro é feito totalmente para as frenagens que, aliadas à rapidez, têm de ser controladas com boas e barulhentas derrapagens.
Para que o filme fizesse realmente sucesso, seria preciso três elementos fundamentais: ação sobre quatro rodas eletrizantes, câmeras bem colocadas e trilha sonora. Essa questão de atuação, roteiro e condução deixamos de lado em filmes do tipo. Os verdadeiros atores são os carros. Tudo bem que se aliados a um bom trabalho de um ator, como, no caso, o Vin Diesel fez no primeiro, tudo fica melhor, mas como nesse não existiu isso, é melhor deixar para lá. O roteiro também é amador, fraquíssimo, previsível e não tem a mínima proposta de se aprofundar em nada que não sejam os drifts em Tóquio. Tudo que aparece na trama é do nada e fica por isso mesmo, cabendo somente ao espectador assistir o espetáculo dos carros. As questões do casal, da máfia e etc, são apenas panos de fundo para a velocidade.
Pois bem, como eu ia falando, a questão dos três elementos para o filme dá certo. Ação envolvendo os carros têm e muita. Batidas bem feitas, perseguições alucinantes e etc, mas quando essa ação é voltada às pessoas, como troca de tiros ou lutas, deixa muito a desejar. As tomadas das câmeras são, digamos, horríveis. Em certos momentos simplesmente conseguimos distinguir nada do que está se passando na tela. Além do troca-troca incessante das tomadas, usaram pessimamente o artifício da câmera à mão-livre. De tão mal utilizado, em uma cena de fuga apresentada no filme, em vez de você entrar no clima da correria, causa náuseas.
Com dois fundamentos quase levando o filme para o brejo, a trilha sonora era quem poderia salvar. Depois que se joga “Need For Speed Underground” com um bom fone-de-ouvido e escuta-se a trilha sonora dos outros dois filmes, essa se torna pífia. Ela nem é de todo ruim, mas comparando com as outras que foram bem escolhidas (e nesse caso cabe comparações) fica difícil de digerir essa. O problema não é a colocação dela, mas sim as músicas que foram escolhidas. Sinceramente, só se salvam umas duas das que escutei.
Evidente que dentro do seu gênero o filme acaba ganhando espaço. Os fãs do longa não vão para escutar música, nem ver atuações glamourosas. Vão mesmo é para ver carros e a adrenalina causada por eles. Então, como o filme conseguiu, de certo modo, atingir esse tipo de entretenimento, não é completamente medíocre. Com um pouco mais de cuidado e meticulosidade, ele tornar-se-ia no nível dos outros dois ou pelo menos do segundo filme, que é um pouco abaixo do primeiro. Entretanto, ele é o pior dos três e, conseqüentemente, o pioneiro, lá de 2001, ainda é o melhor da, até então, trilogia. Digo “até então”, pois, como é um filme que dá dinheiro fácil, não duvido nada que outros apareçam por aí.