Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 06 de agosto de 2006

Zuzu Angel

Embora não se transforme em um marco da história cinematográfica, "Zuzu Angel", ao lado de outros filmes brasileiros, vem para provar que é possível desenvolver boas produções cinematográficas em nosso país.

Freqüentemente, ouvimos pessoas dizendo que não apreciam o cinema do Brasil, optando, assim, por assistir a um filme geralmente advindo da indústria cinematográfica norte-americana. Por que isso? Talvez seja apenas preconceito. Graças a alguns longas, a mentalidade dos brasileiros vêm mudando. E "Zuzu Angel" promete ser um dos responsavéis por essa mudança.

O filme se passa durante a ditadura militar. Nos anos 60, a estilista Zuzu Angel (Patrícia Pillar) conquista cada vez mais fama no Brasil e no exterior, porém ainda prefere se manter alheia a vários aspectos da ditadura. Paralelamente, seu filho, o estudante universitário Stuart Angel (Daniel de Oliveira), ingressa na luta armada e no grupo MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), que teve bastante influência no Movimento Estudantil. Ao se deparar com o sumiço repentino de Stuart, Zuzu sai à procura dele em prisões militares. Lá, os militares afirmam que o rapaz não se encontrava preso, porém não conseguiram convencer plenamente a estilista. Em um dia, Zuzu recebe uma carta relatando todas as formas de torturas sofridas por Stuart até a sua morte. Inconformada por sequer poder enterrar o corpo de seu filho, a mulher, relatando para todos a morte do rapaz, inicia a sua batalha contra a ditadura e todos os aspectos advindos dela.

Parecida com a premissa de outros filmes brasileiros, a trama de "Zuzu Angel" pode ser vista como apenas mais uma perante muitas, porém isto não acontece. A carga dramática do longa em questão é essencial para o desenvolvimento da narrativa. O uso de flashbacks constantes ajuda a retratação dos fatos ocorridos anteriormente na vida da estilista. Mexendo com os sentimentos de qualquer ser humano, o filme, muitas vezes, faz com que os espectadores se sintam próximos de Zuzu e até sejam adeptos da mesma batalha travada pela mulher, assim como compartilhem da mesma dor e indignação sofridas. O roteiro, nesse aspecto, foi muito bem escrito, embora pudesse manter uma análise mais apurada da ditadura. Não que os efeitos desta época não sejam refletidos na história em si, porém, possivelmente os que gostam de história sairão do cinema um pouco insatisfeitos, visto que havia outros aspectos a serem abordados e de melhor forma.

A direção de Sergio Rezende (responsável por filmes como "Guerra de Canudos" e "Mauá: O Imperador e o Rei") deixa um pouco a desejar. Algumas seqüências poderiam ter sido trabalhadas de outra forma a tornar a história mais envolvente do que já é. Alguns ângulos usados pelo cineasta são primários e forçados, fazendo com que os espectadores mais assíduos e que dispõem de uma certa bagagem cinematográfica os achem desnecessários. Embora não tenha sido exemplar em alguns aspectos, em outros, o diretor conseguiu desempenhar competentemente o seu trabalho. A dramaticidade que Sergio ajudou a passar à trama e a maneira como administrou certas cenas foram essenciais para rotulá-lo como um bom cineasta, embora a história do filme desse margem a um desempenho melhor.

Logo no início, notamos que, em geral, a trilha sonora é pesada, tensa. Mesmo caindo na repetição algumas vezes, não compromete a história e não desagrada quem está assistindo ao filme, pelo contrário. O uso de algumas músicas de Chico Buarque, pessoa essencial para a "resolução" da morte de Zuzu, também foi feliz até para os que não possuem certa identificação com o trabalho do cantor e compositor.

E o que falar da protagonista do filme? Em "Zuzu Angel", a qualidade do trabalho desempenhado por Patrícia Pillar está simplesmente indiscutível. A atriz, literalmente, me deixou sem palavras em algumas cenas e pode ser considerada como um dos pontos principais e cruciais para o sucesso do projeto cinematográfico. Seria injusto destacar somente uma cena a qual contou com a presença de Pillar, visto que em diversas a atuação da mulher está praticamente impecável, chegando, sem exagero, a arrancar lágrimas dos espectadores mais sensíveis. Daniel de Oliveira já provou inúmeras vezes que é um excelente ator e como Stuart Angel não poderia ser visto de forma diferente. O seu trabalho não deixou margem a críticas negativas, porém o seu personagem poderia ter adquirido maior destaque na trama, o que realmente não é culpa do Daniel, mas pode ter atrapalhado um pouco o desenvolvimento de sua atuação. O elenco de apoio é outro bastante competente, contando com nomes famosos como Luana Piovani, Regiane Alves, Leandra Leal, Othon Bastos, Alexandre Borges, Ângela Leal, entre outros.

Enfim, "Zuzu Angel" é um filme que vem para agradar o público e mostrar que cinema brasileiro também pode ser desempenhado com sucesso, não importando qual tema seja retratado. Vale a pena assistir, inclusive, para os mais apreciadores do gênero, mais de uma vez. Além disso, não é um fato corriqueiro presenciar nas telonas uma atuação primorosa como a de Patrícia Pillar, portanto, deve ser valorizado enquanto possível.

Andreisa Caminha
@

Compartilhe

Saiba mais sobre