Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 06 de agosto de 2006

Sentinela

Com um roteiro um pouco batido para os mais cinéfilos, "Sentinela" poderá até agradar alguns, mas a verdade é que o filme não acrescenta nada de novo ao mundo cinematográfico.

Não acrescentar nada de novo não implica dizer que o filme é ruim, caso contrário eu estaria dizendo que o que temos hoje no mundo cinematográfico é ruim, o que de fato seria uma mentira. O fato é que "Sentinela" usa elementos já carimbados para os thrillers policias. Isso implica dizer que elementos como reviravolta, suspense, mocinho, bandido e roteiro cauteloso estão todos lá, agora, cabe saber se bem ou mal utilizados.

Já pela sinopse do filme sabemos mais ou menos ao que vamos ser expostos. Nela, um agente do tão perfeito Serviço Secreto Americano (responsável pela segurança do presidente – ou imperador, como queiram) acaba sendo mergulhado em um conjunto de acusações, segundo ele, erroneamente, de este estar envolvido em um atentado contra o presidente dos Estados Unidos da América. Ele é o veterano agente Pete Garrison, interpretado por Michael Douglas (de "Atração Fatal"). A fim de investigar as evidências do possível atentado, conseqüentemente ficar na cola de Pete, e descrobir se o que ele fala é verdade ou mentira está o agente David Breckinridge (Kiefer Sutherland, o Jack Bauer do seriado "24 Horas"). Dentre desconfianças e dúvidas, fato é que David e Pete foram grandes amigos, mas reataram a amizade por uma suposta traição por parte de Pete.

Para quem acompanha mais os thrillers policias não há nada de novo. É fácil premeditar que seria muito difícil o vilão estar dentre os mocinhos da história, e o filme deixa isso bem claro já desde a primeira acusação ao personagem Pete, apresentando-o sempre como uma pessoa trabalhadora e etc, mas algo bem trabalhado no roteiro, porém mal apresentado, acaba gerando a dúvida normal em um filme de reviravoltas. Claro, eu que não vou falar o que é esse pequeno porém e estragar a surpresa de quem verá o filme. O que posso dizer é que é algo bem escancarado, não precisa pensar, mas também fica bem escancarado que esse algo poderia ser melhor trabalhado na condução do filme, pois soou completamente superficial. Enfim, é melhor eu correr para outro assunto que esse já deve estar confundindo sua cabeça.

Como eu havia dito, os elementos necessários para se fazer um bom filme policial estão lá, mas o diretor Clark Johnson ("S.W.A.T. – Comando Especial") não soube trabalhar bem esses elementos, tornando o filme um trabalho normal. O velho que "nem fede, nem cheira". Era preciso mais ação, mais tiro, mais perseguição, porém a avantajada idade de Michael Douglas talvez tenha atrapalhado nessa questão das perseguições. O ator está ultrapassado para fazer esses filmes. Gente, me desculpe dizer isso, mas é visível demais! Em uma cena em que ele está sendo perseguido a pé por David, fica claro o mau preparo físico do ator. E olha que o personagem dele não era para ter um preparo físico ruim, já que foi demonstrado no próprio filme que ele acorda às quatro da manhã para fazer esteira, bicicleta e essas coisas. Enquanto Kiefer Sutherland (que interpreta o citado David) esbanja exuberância em uma perseguição, Douglas parece mais estar lutando contra suas próprias pernas. Isso realmente não é algo que culmine uma atuação ruim, pelo contrário, ambos atuaram bem, mas para aceitarmos muito bem o personagem Pete, um famosíssimo agente do Serviço Secreto, era preciso, no mínimo, a demonstração de uma pessoa realmente vívida quando o assunto é ação.

Essa questão do Douglas fora de forma já era meio que esperada por mim, pois depois do que eu vi o tanto que fizeram o Harrison Ford ("Indiana Jones") demonstrar que está completamente fora de forma para papéis do gênero em "Firewall – Segurança em Risco", Douglas seria do mesmo jeito; e foi. Agora, de quem eu esperava mais era do roteirista George Nolfi ("Onze Homens e Um Segredo"), que, ao lado de Gerald Petievich, assina um roteiro bem fraquinho, diga-se de passagem. É como dito, se você estiver antenado aos acontecimentos da trama, vê que certos personagens e situações são criadas para preparar um final redondinho, o problema é que, com isso, muita coisa se torna previsível. Também na tentativa de deixar o final arredondado por demais, alguns furos inevitavelmente aparecem ao decorrer da projeção, bem como fatos poucos explicados e que ficam por isso mesmo. Não são furos enormes que destroem o mínimo sucesso final da projeção, é um errinho básico ali e outro sem explicação acolá. Mesmo assim, a simples diversão fica garantida.

O que também não agrada é a trilha sonora. Não foi frenética quando devia e se demonstrou simples demais quando era a sua hora de entrar em ação, ou melhor, na ação. Os responsáveis simplesmente não souberam fazer com que ela tivesse o clima do filme, o que acarretou que esse só nos fez aguçar a visão e deixarmos a audição um pouco de lado, algo deveras chato para filmes desse estilo. Uma música simples, mas na hora certa, seria mais do suficiente para a trilha não ser desagradável.

"Sentinela" não é um filme a ser deixado de lado por deixar bem claro que não tem lá muita pretensão, mas também não merece ser guardado em estantes. É um filme bom, mas depende do contexto em que você o está assistindo. Talvez em um DVD Player, com a família e um bom bocado de pipoca, ele soe agradável, mas é o tipo de produção que quando acaba, fica por isso mesmo, passível de alguns comentários e pronto, cada um vai para o seu lado e o filme fica intocável até que uma propaganda de que ele vai passar em algum canal de TV apareça para você relembrar de trechos do filme. Agora, se você se impressiona com pouco, vale a pena.

Raphael PH Santos
@phsantos

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