Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 06 de agosto de 2006

Zuzu Angel

Baseado em acontecimentos reais, "Zuzu Angel" traz uma história bem conduzida, porém não livre dos clichês.

É certo que os filmes brasileiros de relativa notoriedade nos últimos tempos têm seguido basicamente uma mesma fórmula: trazer para as telonas histórias de personagens reais do nosso cenário, acrescidas de uma carga dramática considerável. Assim aconteceu com "Cazuza – O Tempo Não Para", "Olga" e até "Dois Filhos de Francisco". Dessa forma, "Zuzu Angel" chega para ingressar nessa crescente lista com seus respectivos acertos e erros.

A personalidade escolhida para ser retratada dessa vez foi a estilista brasileira Zuzu Angel, que ficou em foco durante a ditadura militar por questionar até o fim as circunstâncias em torno da prisão seguida de morte de seu filho, Stuart. O rapaz, envolvido com movimentos subversivos, foi capturado por militares e torturado até a morte. Seu corpo nunca apareceu, e sua mãe, cuja sede de justiça incomodava profundamente as autoridades dominantes, acabou morrendo em condições duvidosas, deixando margens para a suposição de que teria sido assassinada por meio de um acidente forjado.

A história em si já possui ares de roteiro cinematográfico e nesse quesito não deixa a desejar. A trama é realmente envolvente e a forma como é desenvolvida – são misturados flashes da história da família com os acontecimentos ocorridos após a prisão de Stuart – consegue manter uma linha coerente. Os clichês envolvendo o tema, no entanto (esta está longe de ser a primeira vez que a ditadura militar é plano de fundo para um roteiro no Brasil) logo começam a aparecer. Não é de se estranhar que, enquanto vendo "Zuzu Angel", o espectador pense estar vendo algo semelhante à "Olga" ou até mesmo "O Que é Isso, Companheiro?". O modo como essa época da nossa história vem sendo retratada no filmes acaba dando a impressão de ter caído no estereótipo.

A figura da própria Zuzu Angel, como o título sugere, toma totalmente o posto de protagonista, fazendo do drama da mãe ávida por notícias do filho o foco principal do filme. Os personagens menores, no entanto, estão bem "encaixados", por assim dizer. Desde o próprio Stuart até figuras menores, como Elke Maravilha ou Carlos Lamarca, exercem o peso de importância adequado, sem destoar da proposta principal, que é retratar o lado de Zuzu e não a captura em si de Stuart.

Patrícia Pillar na pele da protagonista não deixa margens a críticas muito severas, embora pareça estar um tanto quanto "exagerada" em determinadas passagens. Talvez por querer enfatizar alguns aspectos da personalidade de Zuzu Angel como a determinação e o amor ao filho acima de tudo, a atriz tenha passado um pouco do ponto em alguns momentos, comprometendo um pouco a veracidade da atuação.

Já Daniel de Oliveira, que vem cada vez mais provando ser um nome promissor da nossa dramaturgia, interpreta competentemente Stuart, dando o tom exato à figura do jovem cheio de ideais e indignações, condizente com a realidade em que estava inserido. Leandra Leal, no entanto, parece sempre igual na maioria dos papéis e não demonstra algo diferente ao dar vida à mulher de Stuart. Contudo, seu papel não tem relevância suficiente para comprometer o resto da trama.

O resto do elenco está repleto de nomes conhecidos. Regiane Alves, Othon Bastos, Paulo Betti (interpretando o mesmo personagem que viveu no longa "Lamarca"), Alexandre Borges, Nelson Dantas, Fernanda Freitas, Caio Junqueira, Elke Maravilha, Luana Piovani, Antônio Pitanga e Ângela Vieira, todos estão bem em seus papéis, ainda que pequenos ou apenas participações.

Sérgio Rezende, responsável por outras produções de igual densidade como "Guerra de Canudos", "Lamarca" e "Mauá – O Imperador e o Rei", não faz de "Zuzu Angel" exatamente um marco em sua carreira, mas não compromete tampouco sua filmografia com o filme.

No mais, "Zuzu Angel" acaba cumprindo o que se propõe em termos de um drama usual, apesar de deixar a desejar enquanto retrato histórico. Para quem é facilmente seduzido pelo gênero, vale a pena conferir.

Amanda Pontes
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