Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 30 de julho de 2006

Viagem Maldita

Trazendo a fórmula de imagens fortes e muitos clichês, "Viagem Maldita" entra como mais um na lista dos filmes de terror apenas medianos.

Filme de terror que é filme de terror tem que ter sustos, cenas que dão vontade de fechar os olhos, mocinhos que morrem em circunstâncias cruéis e o herói que sobrevive a todos os contratempos e acaba salvando o dia. "Viagem Maldita" tem tudo isso, mas, talvez exatamente por seguir o padrão, não consegue se destacar dentre os inúmeros filmes do gênero que chegam às nossas telonas. Não inova, é verdade, mas também não chega a ser um total desastre.

A história não é muito complicada de se entender – o excesso de explicação, inclusive, deixa a impressão de que a inteligência do espectador está sendo subestimada. Remake do filme homônimo de 1977, a trama acontece em uma viagem para comemorar as bodas dos pais. No meio da jornada, uma família se vê presa no deserto quando o carro sofre complicações. Logo, estranhos ataques começam a acontecer, e a família se torna vítima dos peculiares habitantes do local, ou seja, pessoas que sofreram deformidades devido à radiação proveniente de testes nucleares e agora vivem numa espécie de "submundo", atacando quem estiver ao alcance.

Tudo, logo de cara, se mostra bastante familiar em termos de produções do gênero. A câmera instável, ângulos estratégicos, música incidental sincronizada com momentos de tensão, enfim, os elementos necessários para criar uma atmosfera do típico terror. O que vemos nesse filme, no entanto, não é um suspense sutil, mas baseado explicitamente em imagens. Nesse quesito, "Viagem Maldita" é um prato cheio. A partir da segunda metade da história, o que vemos é um festival de sangue, cenas bizarras, sem contar com a própria aparência dos "vilões", que causa incômodo mesmo antes de executarem qualquer ação. Ponto para a maquiagem, que consegue convencer nos diversos momentos em que se faz realmente necessária.

As atuações também não deixam margens a críticas severas. Emilie de Ravin (mais conhecida como a Claire do aclamado seriado "Lost") interpreta competentemente Brenda, uma das filhas do casal, e participa de umas das cenas mais repugnantes do longa sem deixar a interpretação cair no exagero. O ainda novato Dan Byrd dá vida ao irmão de Brenda, que também tem papel relevante ao longo da história e consegue achar bem o tom do personagem. Aaron Stanford, um rosto já conhecido por ter interpretado o personagem Pyro em dois dos filmes da série "X-Men", fecha o time de protagonistas como Doug, o "herói" da trama.

A produção do filme é assinada por Wes Craven, já experiente no gênero por ter dirigido filmes como a trilogia "Pânico", o clássico "A Hora do Pesadelo", "Vôo Noturno" e "Amaldiçoados", imprimindo mais uma vez o seu nome como referência em terror. A direção de Alexandre Aja cai bastante no clichê, mas em um filme sem grandes pretensões como esse isso não se torna tão relevante. "Viagem Maldita" é, sem dúvida, um filme melhor do que muitos similares que chegaram atualmente por aqui, mas não deve se esperar dele mais do que um típico filme de terror, com todos os elementos previsíveis que podem ser identificados pelo espectador minimamente assíduo.

O grande sustentáculo do filme, repito, são as imagens apelativas e a cenas fortes, que ficam, ainda que por pouco tempo, na cabeça de quem assistiu. O resto é descartável, mas nem por isso um desperdício de tempo.

Os fãs do gênero podem gostar, os outros, no máximo, vão sair desagradados e com uma leve repulsa a uma história sórdida. Em termos de entretenimento, não custa nada dar uma chance a "Viagem Maldita".

Amanda Pontes
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