Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 26 de julho de 2006

George, O Curioso

Praticamente no fim das férias escolares brasileiras, "George, O Curioso" chega para se juntar a "Carros" e "Os Sem-Floresta" como opção de diversão para a garotada, porém não consegue se igualar a seus concorrentes, ficando como última opção de diversão garantida.

O filme conta a história de George, um macaquinho inteligente que vive na África, se divertindo com seus amigos na floresta. Ele se apaixona pelo chapéu de Ted, o guia do museu Bloomsberry, que foi em expedição à África para encontrar um relicário da tribo Zagawa para que fosse colocado em exposição no museu onde trabalha, que estava correndo o risco de fechar suas portas e virar um estacionamento, como queria o filho do proprietário. Seguindo as páginas de um velho diário que daria a localização da relíquia, Ted encontra-se com George e dali uma amizade jamais imaginada por ambos nasceria. Quando Ted vê que o objeto que ele estava procurando não correspondia às suas expectativas, decide voltar para a cidade e contar ao seu chefe que a exposição fracassaria. O que ele não esperava era que o Sr. Bloomsberry tinha feito uma grande divulgação sobre exposição e colocaria em apuros o atrapalhado guia. Para completar a confusão toda, o macaquinho entrou no navio que Ted estava voltando para sua cidade, onde começaria uma grande aventura e atrapalhada aventura.

"George, o Curioso" é acima de tudo diferente. Não é daquelas animações onde foram usados grandes recursos computadorizados para obter um resultado a nível de animações como "Procurando Nemo" e "Shrek". Feito em 2D, a sensação é de estarmos assistindo aqueles desenhos animados que invadem os programas infantis todas as manhãs dos canais televisivos abertos. Esteticamente atraente, o filme não veio para marcar seu espaço no cinema de animação. Definitivamente não consegue superar seus atuais concorrentes nas salas de projeção ("Carros" e "Os Sem-Floresta"), o que não significa que não tenha seus méritos. Estando em desenvolvimento por quase dez anos, a produção é leve e sem compromisso. O que faz de "George" um bom alvo de público é o carisma do protagonista. Diferente da maioria das animações que envolvem e humanizam os animais, esta não dá voz aos bichos mostrados durante a projeção e sim, inteligência. Mesmo assim, é inevitável não achar George e seus amigos animais umas gracinhas. É, o carisma do protagonista foi o maior acerto do longa. Ele não consegue irritar as crianças com seus sons de macaco e não satura o público em geral. Diferente do que acontece com Ted, o guia do museu de Bloomsberry. Todos sabem que ele é um bom homem, mas do meio para o final da trama, Ted consegue incomodar um pouco. Suas babaquices e falas prontas chegam ao limite e dá vontade de ter mais cenas onde apenas George aparece, para a alegria da nação.

O roteiro tem suas muitas falhas. Primeiro o que mais incomodou foi o fato de exagerar nas histórias paralelas que somos obrigados a acompanhar. Elas não se sustentam e nem são bem trabalhadas, não passando de fatos superficiais. Isso acontece também com a história central do filme. Nada de novo pode ser presenciado e a seqüência dos fatos é tão vaga que parece que a trama nunca vai sair do lugar, atrapalhando na evolução da história. Baseando-se nos clichês infantis que todos já conhecem, o roteiro erra principalmente em não convencer nem as crianças que estavam na sala de projeção. Prova disso foram diversos comentários que a garotada fazia, prevendo o que viria em seguida no filme. E acertavam. Daí podemos tirar a grande previsibilidade que é percebida até pelas crianças. Imagina para os adultos, que em nenhum momento podem se encontrar durante os oitenta e tantos minutos de película; fato que, mais uma vez citando, felizmente não é possível em "Carros" e "Os Sem-Floresta", onde a interação filme-criança-acompanhante foi bem abordada em quase todos os momentos de suas histórias. O que pode ter prejudicado nisso poderia ser justamente o fato de várias piadas não funcionarem como deviam, sendo lidas com interpretações que não geraram a gargalhada esperada. Quando o roteiro tenta dar um upgrade no que os personagens viviam, aquilo que não caiu no lugar comum ficou complicado demais para as crianças entenderem.

Contrapondo tais pontos negativos, o filme dispõe de belos desenhos, uma dublagem suportável e uma direção que não se preocupa muito em parecer refinada, mas que é, no mínimo, competente. Sem falar na trilha sonora regada à suavidade da voz de Jack Johnson, arrepiando nos momentos onde o carisma do protagonista e suas aventuras são exaltados. Confesso que essas são as partes que obtém o sucesso planejado, dando a diversão que faz o filme valer o preço do ingresso gasto. Não é novidade que animação sempre diverte as crianças. O que é preciso ter para fazer a diferença é conquistar os adultos. Essa preocupação está sendo cada vez mais intensificada, mas "George" não segue a idéia. Se foi essa a verdadeira intenção, fazer um filme somente para as crianças, realmente conseguiram, mas acredito que cinema hoje é feito com versatilidade. De qualquer forma, "George, o Curioso" é um prato cheio para a criançada, mas não tem o mesmo efeito que várias outras animações que já vimos. Seis estrelinhas são suficientes!

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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