Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Paparazzi

Envolvendo alguns temas bastante interessantes, Paparazzi acaba se perdendo meio a um roteiro que teria tudo para dar certo, mas que demonstra insegurança e força o andamento dos fatos. Acabou sendo um filme apenas mediano, infelizmente.

O filme conta a história de Bo Laramie (Cole Hauser), um ator que está em ascensão na indústria cinematográfica hollywoodiana, estrela de filmes de ação queridos pelo público. Em conseqüência à tal fama, Laramie passa a enfrentar a obsessão de alguns fotógrafos que, além de persegui-lo vinte e quatro horas por dia, registram momentos mais íntimos que começaram a incomodar o astro. A princípio, ele tenta conversar com os fotógrafos psicopatas, mas parece não adiantar. Tendo sua intimidade invadida além do que qualquer outra personalidade tem e o fato de tais fotojornalistas terem causado um acidente envolvendo a família de Laramie, deixando seu filho em coma e sua esposa em estado grave, ele passa de caça para caçador, começando a perseguir os tais fotógrafos que o incomodavam e a entrar em um jogo de vida ou morte onde o protagonista passaria de mocinho para anti-herói, clamando por vingança, já que privacidade ele não teria mais.

A premissa da produção acertou em cheio. É sempre interessante trabalhar a fama e suas conseqüências sem ser de uma forma estereotipada e insegura. Até aí tudo bem. Logo no começo, somos preparados para bons momentos que logo viriam a seguir, mas o que não se esperava é que, partindo de uma premissa que renderia um bom resultado final, o filme fosse deixar a desejar. Vamos por partes. Até o momento em que abordaram a psicose dos fotógrafos em quererem vigiar a vida do astro, os classificando sutilmente como membros da imprensa marrom, aquela que a qualquer custo usa do sensacionalismo para vender e para atacar as personalidades, mostram um tema atual e que está sempre se renovando, pois é notável que a fama e a mídia estão em um ciclo vicioso. Para comprovar isso tudo é só abrir a página de qualquer revista ou jornal que temos um exemplo de flagrantes tão absurdos e irritantes. Em Paparazzi, essa obsessão dos fotógrafos é tão intensa que chega até a incomodar o público e acerta em parecer exagerado logo no começo da trama, inquietando o espectador. Com o seu desenrolar, a trama vai seguindo por uma linha mais de revolta de Bo Laramie, e essa perseguição dos fotógrafos passa a ser algo mais pessoal do que profissional, outro ponto bem trabalhado.

O elenco passa uma segurança e competência muito grande ao incorporar personagens tão complexos e ativos, mas acaba sendo prejudicado pela rapidez da história. Cole Hauser (que interpreta Bo Laramie) mostra uma presença muito firme em todos os seus momentos, variando de humor sem se plastificar. Sua esposa, interpretada por Robbin Turney, é sensível e conseguiu passar toda sua impotência à fama do marido. Os atores de apoio não passam inutilidade e exercem bem seus papéis e resulta, em bons momentos. O maior sucesso com o elenco foi em ter construído uma análise psicológica convincente dos principais personagens da história. Talvez se não fosse isso, o filme não funcionaria de forma alguma, caindo na superficialidade. Isso aconteceu nos instantes em que o público consegue entrar em êxtase vendo o protagonista começar a armar contra os vilões, algumas informações e diálogos acabavam não tendo força e sendo descartáveis. Era impressionante! No auge de uma boa cena, sempre era finalizada com algo imposto e artificial para que os fatos seguintes pudessem ser concluídos. Um erro que ficou intolerável a um filme que, quando acaba, é evidente que tinha tudo para dar certo por completo, mas que o roteirista Forrest Smith não conseguiu contornar. Contrapondo a falha do roteiro, a direção de Paul Abascal toma um caráter maduro e consegue planos interessantes. Produzido por nada mais nada menos que Mel Gibson, a parte técnica não deixa a desejar e se mostra madura para o desenrolar da história que tinham em mãos.

Paparazzi é eclético em seu gênero, agradando como ação, suspense e drama. Talvez pudesse entrar para a lista dos favoritos de muitas pessoas, mas acaba atingindo um nível superficial que poderia muito bem ter fugido. Talvez se o tempo de duração aumentasse e fosse usado para articular os fatos detalhadamente, sem parecer forçado ou imposto, tivesse dado certo, afinal, o longa possui apenas 84 minutos, visto que a média de filmes do mesmo nível é cerca de 100 minutos. De qualquer forma, serve mais como um entretenimento e não se destaca justamente por não conseguir ir além do que outros filmes já foram e caindo em buracos negros que poderiam muito bem ter sido alterados ou trabalhados pelo roteiro. Enfim, Paparazzi é uma boa opção para uma tarde qualquer, com amigos ou com um pote de pipoca. Nada mais.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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