Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 12 de julho de 2006

Sorte no Amor

Dirigido por Donald Petrie, Sorte no Amor não traz inovações no gênero, porém consegue agradar ao seguir as regras que o próprio diretor ajudou a consolidar.

Quais as expectativas de uma pessoa ao sair de casa, livrar-se do chinelo rasteiro e vestir uma roupinha apresentável, entrar numa fila (que, dependendo do dia e da hora, pode estar desestimulante), assaltar a carteira e encarar açucarados 82 minutos de uma comédia romântica? Há algum tempo esse gênero virou sinônimo de filmes recheados de clichês e de fórmulas exaustivamente testadas e aprovadas. O já conhecido “mocinho conhece mocinha, rola uma química entre eles, os dois passam por dificuldades e, no final, encontram o happy end”. Tudo absolutamente previsível. Então, se já sabemos de cor e salteado o que vai acontecer, por que insistimos em gastar dinheiro e tempo com algo que já vimos antes? A resposta pode não ser tão simples para alguns, mas está na ponta da língua para aficionados por comédias românticas, como esta que lhes escreve: diversão. Assistir uma comédia romântica proporciona uma quebra na rotina, um break nas preocupações diárias, e nos faz sair leves da sala de projeção. É um gênero que não exige muito do espectador, e o inverso também é válido. Vá ao cinema – sozinho ou com uma turma de amigos – ria das desventuras do casal protagonista, admire a beleza e a sorte de ambos, espere o final feliz e depois volte ao mundo real para encarar seu chefe ou aquela prova que não o deixa dormir. Em resumo: relaxe e se divirta.

Sim, mas e o filme? Sorte no Amor nos apresenta à história de Ashley Albright (a espevitada Lindsay Lohan, de Meninas Malvadas), uma socialite de Manhattan que, por alguma brincadeira do destino, vem a ser a pessoa mais sortuda de Nova Iorque. Esbarrar com homens lindíssimos, fazer uma ligação por engano e ganhar prêmios em emissoras de rádio, encontrar as melhores roupas e os melhores descontos são apenas algumas das façanhas da garota. O oposto de Ashley é Jake Hardin (Chris Pine, de O Diário da Princesa 2), a pessoa mais azarada da cidade, que tem em seu histórico perseguições policiais, banhos de lama, calças rasgadas e atropelamentos. Entretanto, o mesmo destino que lhes emprestou essas características tão peculiares vai lhes pregar uma peça. Num baile de máscaras, Ashley beija Jake e, como por mágica, suas sortes são trocadas. A partir daí, vemos uma desesperada Ashley atrás de desfazer a macumba e um Jake muito feliz, pois as coisas parecem estar dando certo em sua vida.

O filme, dirigido por Donald Petrie (Miss Simpatia), não acrescenta nada de novo ao gênero, mas segue direitinho as regras que o próprio diretor ajudou a consolidar. Poderia ter sido mais criativo em algumas cenas – acho que posso apontar no mínimo uns dez filmes que contam com bailes de máscaras, mas consegue ter um ritmo rápido, sem muito espaço para dramas ou reflexões que não levam a nada. A atuação de Lindsay está muito aquém de outras performances da garota – que ainda parece muito adolescente para convencer como uma das diretoras de uma agência de eventos, mas não chega a ser um grande prejuízo para o filme. O trunfo aqui fica por conta do carisma de Chris Pine, que, com todo seu jeitinho de garoto azarado-mas-esforçado estilo Peter Parker, faz a platéia (principalmente a ala feminina) torcer por dias melhores para ele. Não estou falando de uma excelente atuação, mas ele se encaixa muito bem no estilo do filme. A participação da banda inglesa Mcfly – interpretando a si mesma – pode não agradar a todos, mas para quem costuma bater ponto em comédias românticas, ouvi-los é bem melhor do que conferir as gêmeas Olsen cantando numa loja de gosto duvidoso. Tem certas coisas que não dá para deixar passar.

Algumas cenas poderiam ter sido riscadas do roteiro – como Ashley atacando de forma animalesca um pedaço de bacon –, mas nada que nos faça sair da sala de cinema. Afinal, a proposta inicial é apenas se divertir e esquecer um pouquinho dos problemas que nos esperam do lado de fora. Mas se você não curte troca de olhares, beijos açucarados e toda a lista de suspiros que a comédia romântica traz, o que pensa que está fazendo? A Profecia é na sala ao lado.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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