Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 06 de julho de 2006

Bandidas

Mais uma dupla dinâmica para o cinema no novo “quase” faroeste Bandidas poderia ser melhor na sua tentativa de resgatar a temática já explorada pela franquia Zorro, mas serve apenas como entretenimento mediano com algumas piadas fracas, mesmo tendo obtido sucesso no exterior.

Em uma época de expansão das conquistas americanas, o povo mexicano foi muito reprimido pelo norte-americano que, em busca do ouro, invadiu o oeste do continente. Um grupo de americanos inescrupulosos que, usando o nome de alguns bancos nova-iorquinos, tenta conseguir conquistar boa parte das terras do México e o ouro. As represálias que fazem ao povo daquela terra acabam fazendo com que duas mulheres resolvam lutar contra a soberania que se abate sobre eles através do saque dos bancos, acuando o grupo a perder seus contratos e ficar sem o dinheiro.

O filme segue a regra básica de trazer duas beldades representantes da raça latina ao cinema. E que beldades! Salma Hayek e Penélope Cruz (mais pela primeira do que pela segunda) em seus corpos talvez sejam a única coisa que realmente valha no filme. A história, mais do que explorada pela série de televisão do Zorro, sobre a soberania do poder econômico sobre o povo pobre é o que faz girar a engrenagem da trama do filme. A homenagem (ou quem sabe a falta de criatividade dos roteiristas) é tão pequena que o representante do poder econômico no México, e dono dos bancos se chama, pasmem, Dom Diego!

Um pouco forçado, o filme trabalha com Penélope, filha de um fazendeiro no México que é assassinado por um bando de inescrupulosos que vem dos Estados Unidos representando os bancos americanos que acabaram de comprar os bancos mexicanos, quando estes vão cobrar a dívida da hipoteca das fazendas mexicanas. Salma Hayek, que interpreta a outra bandida, é a filha de Dom Diego, que acaba de chegar da Europa e que também tem seu pai assassinado e resolve, por vingança, roubar o banco do pai para pegar o dinheiro e ir embora da América. No primeiro assalto as duas conseguem fugir com o dinheiro, mas batem de frente por causa da ideologia de cada uma. Logo, Hayek é convencida após ver o que o povo mexicano estava sofrendo, sendo colocado para fora de suas terras pelo bando. Então as duas resolvem começar a roubar os bancos que pertencem ao grupo para poderem impedir que novos investidores depositem dinheiro no grupo.

O roteiro, cheio de falhas e muito forçado, causa espanto, já que vem de uma parceria entre Robert Mark Kamen e Luc Besson, que juntos escreveram “O Quinto Elemento”, e Kamen ainda tem mais gabarito em seu trabalho, quando se é creditado a ele parte do roteiro de “O Gladiador” e clássicos como a série “Karatê Kid” (os quatro filmes), e “Caminhando nas Nuvens” (com Keanu Reeves no elenco). Exemplos de que o roteiro força a barra é que realmente não há nenhum motivo forte para que o grupo que representa o banco permaneça na cidade do México, porque nem ouro parece ter naquela cidade (coisa que pelo menos em a “Máscara do Zorro” há preocupação de se reforçar).

A trilha sonora também é outro elemento que em vários momentos se torna risível. Eric Serra, responsável pela trilha, (que trabalhou em parceria com Luc Besson em “O Quinto Elemento” e “Joana D´Arc”) tenta desesperadamente se assemelhar com as trilhas clássicas que marcaram os três anos da série Zorro da década de 50, composta pela equipe de 13 compositores que montaram a trilha da série.

Penélope Cruz e Salma Hayek parecem estar no filme completamente a vontade como elas mesmas, porque, afinal, elas não interpretaram ninguém a não ser elas mesmas, o que é uma infelicidade, já que as duas têm capacidade para serem melhores. A culpa não é só delas, mas também em boa parte da dupla diretora (isso mesmo, dupla!!!).

O filme foi dirigido a quatro mãos, e o que é de se surpreender, com um orçamento razoável (35 milhões de dólares) em mãos inexperientes. Espen Sandberg não possui nenhum currículo no meio cinematográfico, nem mesmo como assistente de algum setor no cinema. Já Joachim Roenning possui um filme em sua filmografia, mas dirigido há nove anos atrás e que na verdade é um curta. Sinceramente, não sei o que se passou na cabeça de Luc Besson (como produtor) para entregar o filme na mão de pessoas tão inexperientes.

Mas o filme teve seu sucesso. Ainda inédito nos Estados Unidos (acreditem), o filme já arrecadou o dobro do orçamento da produção, e com um pequeno gancho no final do filme dado pela personagem de Penélope Cruz, pode ser que ainda haja possibilidade de haver uma continuação. Infelizmente.

Leonardo Heffer
@

Compartilhe

Saiba mais sobre