Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 16 de setembro de 2006

Xeque-Mate

"Xeque-Mate" é uma história policial com reviravoltas que poderia cair no lugar comum se não fosse a habilidade de Paul McGuigan e o elenco mais que de peso do filme, que conseguem fazer deste um bom longa (não é o melhor no gênero), que poderá ecoar na mente dos espectadores por causa da sua excelente trama.

Slevin Kelevra é um cara que parece não ter muita sorte. Perde o emprego, o apartamento, a namorada. Viaja para a casa do amigo, no caminho é assaltado, e quando chega na casa do amigo é confundido com este. Então ele é levado ao "O Chefe", que em troca de cobrar os 96 mil dólares que Nick Fisher (esse é o nome do amigo sacana) devia, pede que Slevin mate o filho do "Rabino", o outro chefe do mundo do crime. No meio de uma guerra entre os dois chefes das organizações criminais, ele ainda consegue flertar com a vizinha de Fisher, e ser perseguido pela polícia.

Paul McGuigan começou sua carreira como diretor há menos de dez anos. Nesse tempo, não teve nenhum trabalho no cinema que pudesse ser considerado como grande êxito, mas foram bons trabalhos, muitos até elogiados. O mais recente, e que também teve não só a presença de Josh Hartnett (que interpreta neste filme o Slevin), mas de quase toda a equipe técnica, foi "Paixão à Flor da Pele". "Xeque-Mate" consegue agradar por um jogo de edição e de câmera, imagens sobrepostas, que economizam o tempo do filme em explicações, e até mesmo as histórias desconexas se tornam parte de uma trama muito maior, que talvez os mais antenados possam até descobrir. McGuigan também prova ter noção de direção não só de câmera, mas de atuação e consegue tirar atuações que se tornam convincentes, mas que não chegam a espetaculares.

Josh Hartnett, apesar de ter talento, continua inexpressivo, mas que no caso de "Xeque-Mate" (diferente do que aconteceu em "Paixão à Flor da Pele"), chega a funcionar, se tornando até essencial para o desenrolar da história. Bruce Willis não chega a fazer muito esforço e mantém a mesma cara com apenas um olho fechado, um meio riso no canto da boca e um tom manso de falar, que fica perfeito para sua personagem. Um dos pontos altos do filme é o momento em que Morgan Freeman e Sir Ben Kingsley dividem a mesma cena, no mesmo cenário. Parece haver, nesse momento em especial, um verdadeiro duelo travado entre os dois, que, em determinados momentos, Kingsley consegue apagar a estrela de Morgan Freeman, que chega a ficar meio apagado tanto quanto em seu último trabalho exibido nos cinemas no Brasil, "Um Lugar para Recomeçar", com Jennifer Lopez e Robert Redford.

Para Jason Smilovic, "Xeque-Mate" é a sua estréia em roteiros para o cinema. E ele não falha. Utiliza-se de uma história com uma premissa batida (acredite, quando você assistir ao filme, talvez você entenda), mas consegue dar uma nova roupagem, criando personagens, mesmo que sem um lado psicológico trabalhado, consegue dar vida e agilidade à história. Claro que parte da vida das personagens se deve ao elenco estelar, que, no caso deste filme, não se trata de mais uma proposta de marketing, geralmente trabalhada quando o roteiro de um filme é ruim: "Roteiro ruim + um ator muito conhecido = a uma bilheteria boa". Tanto que infelizmente o filme não conseguiu se sair bem na bilheteria americana, mas isso é fácil de se compreender.

Como a história é um pouco complicada, muitos fatos, muitas personagens, e o filme também não perde tempo na velocidade a qual a história é contada, acaba que muitos podem deixar de assimilar um fato ou outro, e nem McGuigan nem Smilovic entregam determinados pontos de bandejas ou mesmo destrincham alguns acontecimentos, para que o espectador tenha certeza de que é aquilo que está acontecendo. Se ele não compreender na primeira vez que vir, bom, azar do espectador. Talvez isso tenha atrapalhado na bilheteria dos Estados Unidos.

De toda forma, "Xeque-Mate" é um bom filme, com um final que pode ser surpreendente para muitos, e com reviravoltas interessantes. Só não posso falar muito com o risco de entregar o filme inteiro, e aí ele perde a graça.

Leonardo Heffer
@

Compartilhe

Saiba mais sobre