Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 24 de junho de 2006

Tristão e Isolda

O que surge da mistura de uma porção de atores fracos e medianos, um roteiro pessimamente trabalhado, personagens comuns, desenrolares sem explicação e muitos erros bestas de continuidade? Acertou quem disse Tristão e Isolda.

Antes de qualquer coisa, que fique bem claro. Tristão e Isolda é péssimo. Muito, mas muito ruim mesmo. Caso você esteja à procura de alguma coisa que preste, pode parar a leitura dessa crítica por aqui mesmo, pois nem ela, muito menos o filme vão adicionar algo de bom à sua vida cinematográfica. Agora, se você gosta de rir de coisas mal feitas ou quer aprender com os erros dos outros, aí sim, o filme é recheado.

Após a queda de Roma, os senhores da Guerra da Inglaterra são brutalmente mantidos na linha pelas forças do Reino Irlandês do rei Donnchadh. Um desses líderes, Senhor Marke (Rufus Sewell de A Lenda do Zorro), procura unir as tribos inglesas para formar uma forte nação que tenha seu próprio reino. Seu melhor cavaleiro é Tristão (James Franco de Homem-Aranha), o qual Marke criou desde muito novo. Com Tristão ao seu lado, Marke acredita que possa unificar seu povo e libertar a Inglaterra do domínio Irlandês. Porém o jovem guerreiro acaba recebendo um problema e, mesmo depois de contornado, os segredos que ele guarda podem mudar as vontades de seu Senhor.

Para começo, o filme não é complacente com muitas sinopses que encontrei pelos vários sites de cinema. Tudo deixa entender que veremos um filme de guerra e boas batalhas sangrentas. No início, até parece, mas depois que Tristão conhece a tal Isolda (Sophia Myles de Anjos da Noite – Underworld) o novelesco romântico começa. E já no início da novela os primeiros erros. É personagem que surge sem explicação. Sentimentos que brotam do nada e crescem mais do nada ainda e uma porção de forçadas no roteiro. E, como não poderia faltar, o filme também é recheado daquelas coisas que acontecem no começo da projeção só para justificar algo óbvio lá pelo final, caindo no clichê e na previsibilidade. Não precisa ser vidente ou algo do gênero para saber como tudo vai acontecer. Isto é, se você ainda estiver acordado até o fim para comprovar.

Os personagens são os mais estereotipados possíveis. Mocinho, mocinha, cara mau, o traidor, o rei fodão e seus seguidores. O mocinho, Tristão, é O Cara. É um morre não morre medonho que causa agonia. Sem falar também que o ator dá aquela cooperação para tornar o personagem realmente irritante. Que James Franco não era bom eu sabia pela sua atuação nos dois Homem-Aranha como Harry Osborn, mas não tão ruim quanto vi em Tristão e Isolda. Desastre total!

Sophia Myles como Isolda até que é esforçada, dá para perceber, mas uma péssima direção de Kevin Reynolds (Robin Hood – O Príncipe dos Ladrões) destoou seu esforço todo. Tinha horas que talvez ela parecia ter se desvencilhado das ordens do diretor, aí surgia uma pontinha de boa atuação, mas, mesmo assim, o trabalho final é descartabilíssimo. Sem falar também no Rufus Sewell como o Lord Marke. O personagem é comum, ora, um rei imponente. Mas quando era para essa imponência aparecer, fracasso. Eu ri bastante em muitas passagens com o ator em destaque na cena. Joga fora também.

Parece mais filme de principiante do que algo que mereça ir para dentro de uma sala de cinema. Acho que pegaram dois moleques e pediram para eles fazerem o roteiro. Dean Georgaris, que já tinha escrito outros roteiros fracos como Lara Croft: Tomb Raider – A Origem da Vida e de O Pagamento, conseguiu ser pior do que das outras vezes. Meu senhor, faça um favor, não escreva mais não, é sério. O desenrolar da trama não tem nexo de nada com nada, fora o absurdo de furos na história.

Procurando algo que fizesse pelo menos eu atribuir algum elogiozinho ao filme, finalmente me deparo com a trilha sonora. Como não poderia ser diferente, outra bomba. Não digo que foi o pior de todos os fatores ruins (e isso inclui TUDO do filme) porque os erros e continuidade roubam as cenas. Esses sim têm boas participações em cena. Tendo em vista que o filme se passa em tempos após a queda de Roma, poderia eu imaginar que naquela época já existia lente de contato? Pois o filme prova o contrário. É só ficar olhando para os olhos dos atores, é um festival de contornos de lentes de contato. E eu pensando que essas lentes eram coisas recentes. Ah, e se você não é muito de pegar erros de continuidade ou maquiagem, é só prestar um pouco de atenção ao Lord Marke, que teve sua mão decepada logo no começo do filme. Tem vez que ele aparece com mão, outra ele já está sem mão novamente, em outras um braço é maior do que outro. Enfim, amadorismo puro.

Eu sei que não podemos saber o que se passa na cabeça das pessoas. Por mais que tenhamos muita experiência ou já tenhamos vivido pelo menos um momento parecido, os seres humanos sempre tornam a surpreender. Mas, mesmo assim, eu retorno com a pergunta: o que estava se passando na cabeça de uma pessoa para se sujeitar a fazer um filme desses? Vão empenhar dinheiro em coisa melhor. Vou te contar, viu!

Raphael PH Santos
@phsantos

Compartilhe

Saiba mais sobre