O longa veio para provar que mesmo sustentada em um esqueleto feito de clichês de comédias do tipo (patricinhas em conflito nos colégios americanos), consegue vestir um caráter mais interessante, usando brilhantemente o humor negro e analisando o comportamento dos jovens com cem por cento de êxito.
A história gira em torno da jovem Cady (Lindsay Lohan), que após passar toda sua vida estudando em casa com a mãe enquanto moravam na África, vai para a cidade grande e se matricula em uma escola para cursar o colegial, e a mudança de ambiente, as novas pessoas com quem terá que conviver e a agitada vida da cidade mudará a vida de Cady rapidamente. Com dificuldades para fazer amigos, a garota é logo apresentada à “elite” do colégio: Regina George (Rachel McAdams) Gretchen Winers (Lacey Chabert) e Karen Smith (Amanda Seyfried). Elas são as três patricinhas mais frescas e populares da escola e são os exemplos a todas as outras garotas, que, mesmo odiando-as, querem ser iguais a elas. O que Cady não esperava era que na sua sala de Cálculo ela fosse conhecer o seu príncipe encantado e se apaixonar, mesmo sabendo que ele é ex de Regina George, a pior das patricinhas.
Basicamente nada novo na história de Meninas Malvadas. O cenário de uma escola onde acontecem rixas de grupinhos de meninas (no caso, patricinhas) que passam por aquelas super convencionais mudanças que todos os jovens em qualquer parte do mundo passa: a descoberta do corpo, do sexo, na formação de uma personalidade que está entre transição da infância para a adolescência. Esse tema já foi a sinopse de outros filmes e seriados que já pintaram por aí, mas acredito que o roteiro de Meninas Malvadas traga vários diferenciais que realmente elevaram a qualidade desta comédia. O roteiro de Tina Fey e Rosalind Wiseman acertam em cheio em criar uma história que não caia na infantilidade, tomando um caráter maduro (não exatamente inteligente, mas maduro), abusando do humor negro que é impagável e dos diálogos e expressões realmente atrativas e inovadoras. É bastante interessante observar o cuidado que por parte da equipe técnica em geral para obter uma mudança de comportamento da personagem principal. No começo, ela é aquela menina boazinha que veio de um lugar totalmente diferente da cidade, que não se preocupa em vestir uma roupa bonita ou se maquiar e, com a convivência com as outras garotas e, principalmente com as ‘plastics’. Primeiramente, a única intenção em se aproximar do trio de malvadas é para destruir esse reinado falso que elas têm dentre as outras estudantes, mas o plano vai além do esperado e Cady descobre que é bom estar com o trio e, mesmo querendo destruí-las, quer ser aceita por elas. Neste ponto de vista, é interessante analisar a troca de comportamento que a protagonista sofre. Além do inconsciente ser totalmente trabalhado, as influências de um novo ambiente, novas companhias e um amor platônico contribuem para que Cady mude radicalmente seu caráter e sua aparência.
O melhor de tudo é que essas mudanças são mostradas no filme com uma naturalidade que, se não é percebida por este ângulo, pode até se tornar superficial para alguns espectadores que procuram apenas uma boa comédia. E essas alterações no comportamento dos jovens que foram trabalhadas no longa não serve somente para o grupo de patricinhas e sim para qualquer grupinho de amigos, sejam rockeiros, punks, nerds, enfim. É uma tendência natural nos adequarmos ao ambiente que vivemos, passando a adquirir gírias, trejeitos, idéias, tudo isso buscando nos engajar por inteiro em um determinado grupo e isso é brilhantemente mostrado em Meninas Malvadas, que mostra que não é descartável e tem muito a mexer com o público. Tudo isso regado à boas piadas, um humor jamais visto em outras comédias do gênero, classificando a produção como uma das melhores escolhas que podemos fazer para nos distrair e garantir entretenimento imediato.
A direção é responsável. Sem muito alarde e sem muito chamar a atenção, Mark S. Waters consegue manter uma linearidade na sua forma de conduzir a história, sem torná-la sacal, cansativa ou boba, conseguindo um feito nada fácil: atrair a atenção do público e não tornar Meninas Malvadas um da lista dos besteiróis americanos usuais. Além disso, a trilha sonora é bastante leve e adequada para o público alvo ao qual é direcionado. Tal público não é só de pré-adolescentes e adolescentes não. Por ter um nível acima e brincar com piadas muito apuradas, creio que aqueles que já passaram da adolescência há algum tempo também tenha simpatia pela produção. Um dos responsáveis por isso é o elenco escolhido. As meninas malvadas postas no filme não dão um ar de imaturidade e estão seguras nos seus papéis. Lindsay Lohan veio para mostrar sua competência em cena, sendo um dos atrativos maiores do longa, que também conta com a belíssima Rachel McAdams, uma atriz que tem ganho destaque nos seus trabalhos mais recentes.
Mesmo pecando em usar de base um clichê, “Meninas Malvadas” se desvirtua do besteirol e apresenta-se como boa opção de comédia nas locadoras. Com errinhos seqüenciais e uma direção não muito notável, o filme agrada a gregos e troianos que não querem somente uma comédia gratuita, dando margem a uma interessante avaliação acerca do comportamento adolescente e suas influências na formação da personalidade. Abordando temas como homossexualismo, fetiche, anorexia, beleza e todos os questionamentos ditos “jovens” de uma forma simples porém eficaz, os méritos da produção são visíveis. Por isso, sem medo de ser feliz, oito estrelas!