Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 20 de junho de 2006

Apenas Amigos

Uma comédia escrachada exagera no patético-ridículo. É o que define "Apenas Amigos" em poucas linhas. Além de ruim, um desperdício do nosso precioso tempo nesta tumultuada época, quando esse mesmo tempo parece estar correndo a uma média de 16 a 18h por dia, conforme afirmam cientistas alemães.

“Apenas Amigos” (Just Friends), de Roger Kumble (1966-2006), é uma das comédias românticas mais imbecilizantes de quantas têm sido impostas às platéias pelo mau cinema via publicidade enganosa e comentários elogiosos de duvidosa procedência, muitos deles pagos por produtores e exibidores, seja no próprio país de origem ou fora dele.

De fato, cabe tudo na telinha e no papel impresso. Co-produção americano-canadense da New Line Cinema/Alpha Films/Inferno Distribution, “Apenas Amigos” é, além de ruim, um desperdício do nosso precioso tempo nesta tumultuada época, quando esse mesmo tempo parece estar correndo a uma média de 16 a 18h por dia, conforme afirmam cientistas alemães encabeçados por Walther Schumann – é a tal “referência Schumann” da qual os jornais internacionais já deram notícia. Em verdade, o semestre passou num átimo.

Kumble, diretor americano do 2º ou 3º time, começou sua carreira como roteirista e realizador não-creditado em comédias tipo “Debi & Lóide” e “American Pie”. Segundo lemos, Kumble tem a obsessão de tratar, em seus “scripts” e filmes, da futilidade da juventude nos dias de hoje e do culto das aparências.

Suas idéias podem até ser válidas, só se perdem ou se diluem quando transformadas em imagens. O êxito bilhetérico alcançado por ele em “Segundas Intenções” (Cruel Intentions) (1999), uma “modernização” de “Ligações Perigosas” (Les Liaisons Dangereuses), romance epistolar de Pierre Choderlos de Laclos (1792!), levado ao cinema várias vezes, uma das quais por Stephen Frears (1988), foi atribuído por uns à forte cena de descoberta do orgasmo por personagens femininas.

No todo, cinema de segunda, com arranjo moralista no final. Quanto a “Tudo para Ficar com Ele” (The Sweetest Thing) (2002), terceira experiência de Kumble por trás das câmeras, escreveu Charles Taylor no “Halliwell Film Guide” (2004): “Uma das mais maçantes, estúpidas e insossas comédias já levadas à tela com sexo implícito e linguagem vulgar, e também uma das piores já vistas por mim…”

O roteiro deste “Apenas Amigos” traz a assinatura de um tal Adam “Tex” Davis e focaliza, com pouca imaginação, os encontros e desencontros amorosos entre amigos e colegas de escola. Chris (Ryan Reynolds) é apaixonado por Jamie (Amy Smart), mas, balofo e obeso (o laboratório de maquiagem e de feitura de monstros responde pela transformação do ator), não consegue seduzi-la.

Ridicularizado pelos companheiros, vai pra outra cidade, emagrece e… amadurece. Torna-se um galinha e tempos depois retorna para sua antiga paixão. Nesta comédia boba, nada ocorre em matéria de sexo. As moças têm comportamento liberal, oferecem-se aos namorados, o palavreado de uns e de outros é igualmente tosco e giriesco e os marmanjos eludem a decisão fora do casamento, numa hipocrisia estranha e moralista.

Jamie chega a provocar Chris ao deitar-se com ele de pijama, sozinhos em casa, mas nada se passa. Dormem juntos como dois anjinhos inocentes. Depois de muitas peripécias, desastres e qüiproquós, chegamos ao final previsível e bem certinho, como manda o figurino do “American way of life”…

Os atores têm pouco talento cênico, a música de Jeff Cardoni é barulhenta e desagradável e a fotografia de Anthony B. Richmond segue os padrões convencionais. Juntos, pouco contribuem para melhorar o filme nascido com defeito de fábrica…

Apenas alguns efeitos especiais por computador ou pela trucagem podem impressionar o espectador menos atento ao essencial.

L.G. de Miranda Leão
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