Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 29 de maio de 2006

Paradise Now

Paradise Now é um filme que expõe a visão dos sujeitos internos de um dos mais antigos e cruentos conflitos da história da humanidade, dando aos famigerados homens bombas um caráter humano, diferenciado da visão predominante no mundo Ocidental.

Na história, Said (Kais Nashef) e Khaled (Ali Suliman) são dois amigos que se alistam como voluntários de Alá, disponibilizando-se, pois, para a prática de atentados suicidas. Os dois levam uma vida pacata na Faixa de Gaza, campo de refugiados palestinos, consertando carros em uma oficina. No fim dos dias, vão para uma colina, de onde vislumbram toda a cidade, para fumar narguilé (Dicionário Aurélio: cachimbo largamente usado pelos turcos, hindus e persas, composto de um fornilho, um tubo, e vaso cheio de água perfumada que o fumo atravessa antes de chegar à boca). Quando em um fim de dia, Jamal (Amer Hlehel) procura Said, este já sabe que sua hora de participar na guerra santa chegou, no entanto, ao contrário do que se podia imaginar, ele não está muito convicto de que essa atitude seria correta. Já seu amigo Khaled, também procurado por outro mensageiro, mostra-se exultante com a possibilidade de servir à causa de libertação da Palestina. Os dois se encontram em um esconderijo e participam de um ritual que os prepara para “a grande jornada”. Após, seguem para o ponto de encontro com um agente infiltrado no lado israelense da fronteira, no entanto a operação não sai como planejada.

Quanto aos aspectos técnicos, o elenco de apoio é muito consistente, servindo de base sólida ao filme quando requisitado. O figurino, assim como os costumes locais, é outro fator interessante, especialmente a nós, por se tratar de cultura diferente da Ocidental. A fotografia é particularmente peculiar, pois retrata os aspectos urbanos e geográficos daquela região, mesmo que de forma superficial.

Mais importante do que os aspectos técnicos do filme, no entanto, é a discussão proposta pelo longa em cima da legitimidade dos movimentos de libertação da Palestina. Mais do que isso, os próprios palestinos mostram uma visão crítica sobre o assunto, questionando se é esse o melhor meio para o fim buscado. Tal discussão é concentrada no triângulo formado pelos personagens Khaled, Said e Suha, mulher pela qual Said se interessa, que por ter nascido na França e ter sido criada em Marrocos, apresenta a visão mais exógena dos três, deflagrando questionamentos sobre a legitimidade e a necessidade de tais atos. As transformações nos personagens de Said e Khaled é outro ponto a que o espectador deve estar atento, pois nelas estará implícita a mensagem que o filme busca passar, atentando-se também aos diálogos desses personagens.

Se você busca abrir seu paradigma crítico a respeito dessa questão tão atual, Paradise Now é uma excelente opção. Além disso, o filme também serve como um ótimo entretenimento por apresentar uma edição que conduz o espectador de maneira tensa no desenrolar da trama.

Jonas Maciel
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