Com todos os ingredientes que um filme de ação poderia ter, Missão Impossível 3 se torna um dos melhores da franquia, superando e muito o segundo filme e sendo muito melhor que o primeiro quanto à ação. Mesmo que ainda fique um pouco mal desenvolvida, a trama do filme se desenrola bem e se torna um manual para quem quer fazer bons filmes de ação.
Desde o final do segundo filme para este terceiro, Ethan Hunt se aposentou das missões de campo e resolveu tornar-se instrutor de novos agentes para a Força de Missões Impossíveis (ou IMF – Impossible Mission Forces). Esse afastamento lhe rendeu uma vida social, uma noiva e uma vida supostamente feliz. Até o momento que ele recebe a notícia de que uma de suas alunas está desaparecida e resolve ir a campo no resgate de sua pupila. Entre explosões e corridas, alguns problemas e muitas, mas muitas seqüências de tirar o fôlego, sua namorada é seqüestrada, e agora ele tem apenas 48 horas para recuperá-la.
A história é até meio batida. Em todo filme de ação segue essa cartilha de que o mocinho vai ter que correr contra o tempo para salvar aqueles mais próximos dele. Quantas vezes não vimos Arnold Schwarzenegger, ou Sylvester Stalone, ou Kurt Russel correndo atrás de vilões, descendo literalmente a porrada, na tentativa de resgatar suas mulheres ou filhas ou irmãos, ou qualquer fulano com grau de parentesco blá? O que faz da nova franquia de Missão Impossível um filme atraente? A resposta se encontra não só no elenco (que possui caras novas e antigas), mas também a um cara chamado J. J. Abrams.
Um cara que, apesar das aparências de novato no meio hollywoodiano, está na labuta há “milênios”. Para se ter uma idéia, ele ajudou a roteirizar filmes como Tudo Por Amor (1992) e Armageddon (1998). Mesmo assim, quando o primeiro filme da série foi lançado, em 1996, Abrams não era “ninguém”. Quando a segunda franquia (e a pior de todas, porque cismam em acreditar que John Woo ainda seja o cara quando se trata de filmes de ação – quando, na verdade, seu tempo acabou desde Broken Arrow com John Travolta e Christian Slater) foi feita, em 2000, Abrams estava com sua série Felicity no ar fazia dois anos e estava estreando o que viria a ser um sucesso da rede de televisão americana ABC, a série Alias (com Jennifer Garner, a Elektra, no papel principal). Em 2004, ele estreou com mais outro sucesso na mesma emissora, a série LOST. Com seu nome feito e com duas séries que basicamente é a união de todos os ingredientes que existem no coquetel que chama-se Missão impossível, era quase óbvio que seu nome surgisse para estrear na direção de um longa-metragem.
E a sua estréia não deixa a desejar. Inclusive não se assustem se (dependendo da bilheteria) surja um projeto para um quarto filme da franquia. Para quem conhece de perto o trabalho de Abrams (eu acompanho de perto, já que sou fã total das duas séries que ele criou), Missão Impossível possui as lutas e a sensação de urgência do ALIAS, bem como um tom da trilha sonora do ALIAS. O filme na verdade parece ser um grande episódio de seriado na telona.
O que seria arriscado para muitos diretores, e até considerado um problema, Abrams aqui consegue transformar no elemento mais significante do filme, como os cortes de cenas (que se tiver cenas mais do que 15 segundos em um único take, nas partes de ação, é muito), que lembram muito a linguagem de televisão (não pode-se passar muito tempo em uma única tomada), e a câmera na mão, com a imagem sempre trêmula, o que faz com que o espectador crie uma noção do nervosismo (não com a câmera balançando). Aliás, momentos esses que não faltam no filme. As cenas de ação são realmente de ação que conseguem roubar a respiração do espectador por 15 a 20 minutos direto, sem direito a descanso, onde surge um problema atrás do outro. Uma das qualidades também é que, geralmente, quem trabalha com televisão tem que se virar com pouco dinheiro. Imagine agora uma série de espionagem que roda o mundo todo, sempre com panorâmicas das cidades do mundo inteiro, mas sem dinheiro para poder mandar a equipe para o local. Então eles têm que se virar com poucos efeitos especiais e deixá-los o mais realista possível. Imagina agora um cara que consegue tirar de letra a solução desse problema, com uma produção gigantesca e dinheiro para produzir. Então esse é o resultado de Missão Impossível 3. Aliás, também vale ressaltar que o filme não tem só a mão de Abrams na direção, mas também no roteiro do filme.
A trilha continua perfeita. É daquelas que se encaixam como uma luva para as cenas, não atrapalham e, aliás, você nem nota que ela está tocando no filme. Tanto que depois eu tentei me lembrar quantas vezes tocou a música tema do filme durante a exibição e simplesmente não conseguia me lembrar. A nova roupagem dada por Michael Giacchino, que trabalha com Abrams em LOST e ALIAS (por isso eu ouvi uns traços das músicas do LOST na trilha do filme), também trabalhou para outro filme de “espionagem” (nem tanto assim), a animação Os Incríveis, da Pixar/Disney. Além do que é responsável por quase todas as trilhas sonoras de jogos para computador que trabalham com esse estilo (Call of Duty, Medal of Honor, entre outros).
E para variar Tom Cruise consegue ser competente. Na verdade, quando se fala em atuação, não lembro realmente de nenhum filme que Tom Cruise tenha se saído mal, ou interpretado mal. Sabe daqueles comentários que acabamos por fazer de que “Ah, vai ver que ele precisava pagar a conta de luz e resolveu fazer esse filme!”. Aliás, não só ele, mas todo o elenco esteve muito bem. Nada extraordinário, claro, mas competentes para seus papéis. Até mesmo os extras que apareceram só para apanhar ou morrer durante o filme.
Claro, como não poderia deixar de acontecer, o filme tem seus defeitos. Uma história que nem é tão desenvolvida, embora o que ela foi desenvolvida está de bom tamanho para o desenrolar do filme, mas há personagens que poderiam ser muito melhores trabalhados. Uma reviravolta que é um tanto previsível e que é fácil de descobrir um pouco depois de 25 minutos de filme. E, claro, os erros de continuísmos (alguns muito bizarros), como na cena em que mostra um plano aberto, quase panorâmico de uma ponte onde um comboio de carros está passando e só mostra esses carros nela e, na cena seguinte, quando vemos a visão de dentro de um dos carros a ponte já está mais lotada de carros do que a marginal do rio Tiête pela manhã. Nada que atrapalhe o filme.
Estamos começando a temporada dos blockbusters americanos e pode-se dizer que dessa vez ela começou bem. Missão Impossível 3 é muito bom para o gênero, e, com certeza, os amantes de filmes de ação com explosões, correria contra o tempo e muito mais não podem deixar de perder nos cinemas (até para ver se ajuda na bilheteria para fazerem um quarto filme!).