Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 20 de abril de 2006

Matrix

Digam o que quiser, mas uma coisa não pode ser negada: “Matrix” já pode ser tido como um marco na história do cinema. E mais. Faz jus a responsabilidade que essa definição acarreta.

Quando esse primeiro filme da trilogia dos irmãos Wachowski foi lançados nos cinemas, pouco se ouvia falar do seu potencial e da singularidade da sua produção. Ao se deparar com o resultado, no entanto, os espectadores e crítica tiveram que se render à história e a todos os detalhes por trás dessa trama.

O roteiro de “Matrix” é, sem dúvidas, algo muito longe de ser simples. Aqueles que assistem sem a pré-disposição de se esforçar para interpretar a história ficarão, no mínimo, sem entender muita coisa que é mostrada. De teorias conspiratórias ao mito da caverna de Platão – passando por associações às obras do escritor Aldous Huxley – a riqueza de referências faz do roteiro uma história que se destaca do lugar-comum, uma trama diferente de tudo o que estávamos costumados a ver até então.

Thomas Anderson é um programador de computadores, que vive uma vida medíocre como empregado de uma empresa ao mesmo tempo em que exerce atividades como hacker. Ele busca uma coisa que não sabe ao certo o que é, até que é contatado por Trinity, também hacker que o leva a Morpheus, o único capaz de esclarecer a dúvida que paira sobre o jovem Sr. Anderson. É então que ele descobre que a realidade em que acreditava viver não passa de uma ilusão, a Matrix, um programa de computador criado por máquinas que dominam o mundo há tempos. Enquanto os humanos são cultivados em espécies de casulos e têm sua energia sugada para nutrir as máquinas, suas mentes estão conectadas com a realidade da Matrix.

Alguns humanos ainda existem no mundo real (ruínas do que um dia foi o planeta Terra, agora totalmente submerso nas trevas) e objetivam a libertação desse domínio através do “escolhido”, um homem que, de acordo com uma profecia, viria para destruir a hegemonia das máquinas. Morpheus acredita que Thomas Anderson, ou Neo, como é chamado no mundo digital, seria esse homem.

A história mirabolante tem seu primeiro desenrolar nesse filme – foram necessários mais dois para que se pudesse chegar a um desfecho e ainda assim restaram dúvidas no ar – que apresenta, além dos aspectos inovadores do roteiro, efeitos visuais que até hoje são copiados. A produção foi extremamente cuidadosa com os detalhes, dando um show para os olhos dos espectadores. A cena em que a imagem de Neo desviando de balas é mostrada em câmera lenta já se tornou clássica e a seqüência em que ele e Trinity invadem um prédio para resgatar Morpheus – na minha opinião, a melhor passagem do filme – é simplesmente espetacular.

O elenco, um dos elementos mais relevantes de uma produção, também foi bastante acertado. O protagonista Neo, cujo nome seria um anagrama para “one” (algo como “ escolhido”) é vivido por Keanu Reeves, tido por muitos como canastrão, mas que talvez tenha sido escolhido justamente porque o personagem exige em certa postura inexpressiva para construir sua personalidade. Laurence Fishburn empresta todo o sue porte a Morpheus, um dos líderes humanos resistentes no mundo real e Trinity, vivida por Carrie-Anne Moss completa o time.

Quem rouba a cena em várias ocasiões, no entanto, é o ator Hugo Weaving no papel do vilão Agente Smith, um dos “funcionários” das máquinas, que atua na Matrix para destruir os humanos rebeldes – vale ressaltar que uma vez morto na Matrix, a pessoa morre também no mundo real. O personagem repercutiu tanto, que ganhou uma maior importância nos filmes seguintes da série e se tornou a maior força antagonista do escolhido Neo.

A fotografia é um detalhe à parte. Por vezes asfixiante ao retratar o mundo real com ambientes escuros (nesses ambientes predominam tons azuis) e outras vezes agradável aos olhos ao mostrar a Matrix (onde predominam tons verdes) como um mundo perfeito e trivial. Nada está configurado por acaso, mas somente um olho mais observador poderá constatar tudo o que tem pra ser visto.

O que faz do filme um fenômeno, no entanto, é a combinação de um roteiro inteligente com imagens singulares e impressionantes. Não dá pra assisti-lo apenas como um filme qualquer, só para passar o tempo. Alguma maior impressão, inevitavelmente, vai ficar.

Enfim, “Matrix” – assim como o resto da trilogia – é um filme para se ver mais de uma vez. É um filme cuja inovação causada e representatividade dificilmente deverá ser superada.

Amanda Pontes
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