Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 23 de abril de 2006

Três Enterros

Ao ir ver esse filme você tem que, para ao menos gostar, respeitar, compreender e admirar o valor de uma amizade. Entenda que a conjunção “e” aqui é usada tanto em sentido aditivo como alternativo.

A película mostra a saga de um homem, Pete Perkins (Tommy Lee Jones – vencedor do prêmio de Melhor Ator do Festival de Cannes), através da região fronteiriça entre Estados Unidos e México na tentativa de dar a seu amigo Melquiades um enterro decente. Para ajudá-lo nessa empreitada, ele seqüestra o guarda de fronteira Mike Norton (Barry Pepper – indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), que assassinou Melquiades.

O elenco de apoio está razoável, alguns com um certo exagero no sotaque texano, em geral satisfatórios, porém sem nada excepcional. A trilha sonora tenta cumprir seu papel, tentando nos levar para a atmosfera das cenas, porém nada que exceda o necessário. A fotografia é particularmente interessante. Retrata aquela região entre Estados Unidos e México, que ora lembra o nosso cerrado, ora lembra as regiões desérticas. É algo que combina com a atmosfera reflexiva e, algumas vezes, desoladora do filme, sendo um aspecto bastante positivo da produção.

Quanto ao guarda Mike Norton, as transformações de seu caráter são algo que marcam o filme, de forma que sabemos em que parte do filme nos encontramos apenas em ver como está seu temperamento. Tudo feito de uma maneira sutil, dado a um bom roteiro (escrito por Guillermo Arriaga – ganhador do prêmio de Melhor Roteiro do Festival de Cannes) e uma boa direção (Tommy Lee Jones). Seu caráter varia de violento e arrogante a submisso e arrependido ou ainda a chorão (sendo até certo ponto cômico em alguns momentos), não necessariamente de forma linear, o que nos faz ficar em dúvida se as transformações são reais ou apenas devido à ameaça de uma arma. Dúvida que tiramos apenas no final do filme. Tommy Lee Jones está muito bem nesse filme. Carregando em suas costas o valor e o respeito por uma amizade, o ator consegue dar ao seu personagem o tom certo.

A história em si é o ponto forte do filme ao trazer-nos vários valores. O da amizade é mostrado de uma maneira positiva, entretanto o final nos traz surpresas quanto a isso. Há outro ponto forte que envolve o nosso amigo guarda de fronteira e sua esposa (January Jones), condenando – realmente ele joga o fato valorado negativamente – a ausência e a frieza com que Mike trata sua mulher, que se sente só. A moça acaba tomando uma série de atitudes negativas, inclusive começa a fumar (nada contra quem fuma, todavia não me venha dizer que é um hábito saudável e não viciante).

O caráter regionalista do filme é uma faca de dois gumes. Pode ser que o espectador fique maravilhado com aquela paisagem toda, as casas, as pessoas, etc… Por outro lado, pode ser que ele fique entediado, por não ter afinidade com esse tipo de regionalismo, o qual é o que marca a fronteira entre México e Estados Unidos. No mais, o filme não mostra nada excepcional, podendo ser isso um ponto negativo. A edição também poderia ser melhor.

Para concluir, poderia dizer que o filme de Tommy Lee Jones é uma obra de arte, e como tal, pode provocar opiniões e sentimentos diversos. Aos que se habilitam no que eu disse acima é uma alternativa interessante. Aos que se interessaram mesmo assim, arrisquem-se, porém não garanto a satisfação.

Jonas Maciel
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