Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 24 de abril de 2006

16 Quadras (2006): um bom filme de ação e nada mais

Mesmo com algumas derrapadas, o objetivo do filme é atingido de forma quase plena. Você, fã dos filmes de ação, terá em “16 Quadras” tudo o que tem direito para ser entretido por 105 minutos.

Para um filme adotar determinado gênero (terror, drama, aventura, animação, etc) ele tem que seguir algumas determinadas regras, como se fosse uma cartilha básica. Os filmes de comédia, nós sabemos, seu propósito é entreter da forma mais escancarada possível, já os de comédia romântica, não precisa ser de forma tão aberta, mas tem que ter o casalzinho que se fixará somente no final. Os de suspense devem obrigatoriamente ter um roteiro envolvente, que prenda o espectador do começo ao fim, fazendo com que ele se assuste ou fique tentando adivinhar o que mais pode acontecer. E assim sucessivamente… “16 Quadras” é um filme de ação completo. Completo para seu gênero, nada de sair comparando-o com filmes que não tem seu tipo de propósito, que são: tiros, brigas, enrascadas, expectativas, viradas de jogo. Para agradar um grupo seleto de espectadores, a maior parte da equipe de “16 Quadras” fez o papel conforme manda a cartilha.

A trama é simples. O protagonista Jack Mosley (Bruce Willis, de “Sexto Sentido”, “Duro de Matar”) é um detetive que recebe a missão de acompanhar Eddie Bunker (Mos Def, de “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, “O Lenhado”) até um tribunal onde ele fará um importante testemunho. Os dois têm características totalmente diferentes, o que rendem um aparente distanciamento entre eles, mas como a missão de Jack é simplesmente de acompanha-lo, então ele terá de segui-la conforme a risca. Entretanto, o que parecia simples começa a se complicar cada vez mais que a trama vai tendo o seu desenrolar. Eddie começa a ser caçado ferrenhamente por pessoas que não o querem no tribunal e cabe ao detetive Jack e toda sua experiência e perícia defende-lo, fazendo com que chegue vivo a seu objetivo.

Para os adoradores de ação, o filme é um prato cheio antes mesmo de começar a ser rodado. Quando falamos em ação nos lembramos do que? Isso mesmo! “Máquina Mortífera”, “Duro de Matar” e companheiros de época. Então, nada melhor do que Richard Donner (diretor da franquia “Máquina Mortífera”, além do famoso “Os Goonies”) na direção e Bruce Willis como protagonista. Além disso, a sinopse e os trailers completam a expectativa a ser gerada, levando bastante fã de ação aos cinemas.

Os dois principais personagens são interessantes, sobretudo o detetive Mosley. Ele é uma pessoa descontente com a vida e com o trabalho. Não liga muito para sua aparência (por isso aquele bigode feioso) e, dentre goles de bebidas alcoólicas até durante a hora de serviço, espera que mais um dia termine. Seu personagem, logo de início, demonstra ter uma profundidade necessária para que o espectador fique curioso em saber o que se passa por trás dessa pessoa. Para isso, trouxeram de volta à tona o eficiente Bruce Willis. Nada das caricaturas que o ator utilizou em “Sexto Sentido”, “Meu Vizinho Mafioso” ou “Armageddon”. O necessário para o filme é o velho e conhecido Willis de “Duro de Matar”: arma na mão e pernas para que te quero. Nisso, somos quase unânimes em dizer que o ator é deveras eficiente. Não é um trabalho surpreendente, mas nos resgata os velhos tempos em que John McClane (seu personagem em “Duro de Matar”) era realmente duro de matar – e não apresentava tantos traços de velhice, além de uma pança digna do nosso ilustre personagem Panelada.

Mos Def, que trabalhou de forma razoável no também razoável “O Guia do Mochileiros das Galáxias”, encarna o prisioneiro Eddie Burke de forma despojada; bem natural. Entretanto, esse trabalho não apresenta grandes dificuldades. Outros atores poderiam estar facilmente em seu trabalho, como Martin Lawrence (“Bad Boys”) ou Chris Rock (“Em Má Companhia”). O segundo, inclusive, seria um chama a mais para o filme, por conta do seus trejeitos e seu black english serem mais acentuados do que os que Mos Def tentou reproduzir.

As cenas de ação se passam nas mais variadas locações. Os sets de filmagem foram bem escolhidos. Em certas vezes envoltos de penumbra, outrora no bem claro mesmo, o que é bem típico do diretor Richard Donner. Haja vista que em “Máquina Mortífera” ele segue piamente essa linha com os personagens Martin Riggs (Mel Gibson) e Roger Murtaugh (Danny Glover). Por sinal, o diretor gosta mesmo de trabalhar com dupla. Vou te contar!

O que deixa a desejar é a trilha sonora e os muitos erros de continuidade. As músicas estão quase todas mal colocadas. Falha chata, pois a trilha sonora tem que ser eficaz nos filmes de ação. Creio que o responsável foi querer sair um pouco da linha original de como a trilha deve ser usada e acabou se perdendo. Porém, ela ficou certinha no tocante às cenas frenéticas. Cenas frenéticas acompanham músicas frenéticas, até que a cena se vai, a trilha some do mesmo jeito e o filme muda de cena e locação. Já os erros de continuidade é que teimam em surgir aos montes. É um tremendo de um descaso do responsável (o continuista). Certas coisas são até aceitáveis, mas o filme é um bolo sortido para aqueles que gostam de buscar os erros nos detalhes de roupas, cabelo, jeito de segurar a arma, posicionamento e etc.

Apresentando alguns deslizes, mas bem completo para o gênero, “16 Quadras” é bem vindo. Todas as cenas clássicas dos filmes de ação estão no longa (troca de tiros; fugas bem sucedidas; a conversa entre vilão e mocinho, com ambos no mesmo local, mas protegidos por caixas ou algum objeto do tipo enquanto recarregam suas armas e etc). Sem dúvida o filme entra na prateleira dos bons filmes de ação e pode ser usado, juntamente com outros já citados aqui na crítica em uma aula de: Como Se Fazer Filme de Ação.

Raphael PH Santos
@phsantos

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